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A Revista Oeste e Domingos Félix de Sousa

É uma pena! Lastimável mesmo que o maior marco coletivo da literatura feita em Goiás, no momento em que Goiânia estava sendo apresentada ao Bra­sil, via Batismo Cultural, o nascedouro da Revista Oeste não tenha sido imortaliza­do, conforme previa a sua programação oficial. Constava na programação oficial o lançamento da Revista Oeste, o que aca­bou não acontecendo. Falha imperdoável ou circunstâncias de ordem técnica não permitiram que, assim, fosse procedido. Independente de lamentações, a Oeste é o mais significativo acontecimento co­letivo-impresso no sítio arqueológico da produção literária Goianiense.

A revista era financiada pelo Esta­do, graças à deferência especial do in­terventor Pedro Ludovico Teixeira, que nutria pelos produtores culturais respei­to e admiração. Ele não abria mão de tê­-los próximos ao seu convívio e ordenou ao Estado bancar os 23 números da pu­blicação da Revista, que circulou de 5 de julho de 1942 a dezembro de 1944. A revista nunca teve o número de pági­nas definidas, mas a ideologia do Esta­do Novo em suas páginas se apresenta­va de maneira indisfarçável.

O jornalista carioca, Paulo Augus­to de Figueiredo, eminência parda do poder central do Estado Novo Getulis­ta, na terra dos goyazes, era os olhos e os ouvidos do rei. Além da sua presen­ça na Oeste, foi professor da Faculdade de Direito, centro inequívoco da inteli­gência assentada em Goiânia e ainda o senhor presidente do Conselho Admi­nistrativo, de Pedro Ludovico, órgão de representação e observação dos precei­tos ideológicos de Getúlio, que se fazia presente em todos os Estados. Paulo Fi­gueiredo navegava pelos principais ma­nanciais da sociedade, política e intelec­tual de Goiás, no período.

Após reuniões exaustivas para definir o corpo editorial da revista, formas de re­cepção aos textos dos colaboradores e, so­bretudo, o perfil que pudesse personalizar e dar cara à revista chegou-se à conclu­são que esse espaço seria destinado aos jovens intelectuais goianos. A direção do primeiro número veio com a assinatura de Zecchi Abrahão, e o corpo de redação com Bernardo Élis, Garibaldi Teixeira, Hé­lio de Araújo Lobo, José Décio Filho e Pau­lo Augusto de Figueiredo. O primeiro edi­torial trazia no seu início e no fim: “Oeste é, assim, o veículo oficial do pensamento moço de Goiaz”; e “a Oeste é vosso, in­telectuais moços de Goiaz”.

Dos jovens autores que contribuí­ram com seus textos para a existência da histórica revista, o único remanes­cente da privilegiada safra de escrito­res que ainda habita entre nós, resta, lamentavelmente, apenas o profes­sor e crítico literário Domingos Félix de Sousa, com seus 88 anos, residindo em Goiânia. Membro de uma rica pro­le de intelectuais, entre os quais, Afon­so Félix de Sousa e Aída, a sua família, tornou-se amiga da minha, no perío­do em que ela residiu em Pires do Rio, minha terra natal. Numa das visitas do professor Domingos à minha casa, eu recém-nascido, enquanto ele me se­gurava no colo, não perdi a oportuni­dade: dei-lhe um farto, um bem mo­lhado banho de xixi. Esse episódio de encharcamento urinário, ele me con­tou num dos nossos encontros na sede da Academia Goiana de Letras, ao tér­mino de uma solenidade.

Domingos Félix de Sousa, considera­do pelo confrade José Luiz Bittencourt como um orientador de gerações no campo da inteligência, do pensamento e da literatura (segundo, o também con­frade Ursulino Tavares Leão), estreou na Revista Oeste, no 5º número, datado de junho de 1943, ao publicar um texto de olhar crítico, sobre o fantástico livro Tro­pas e Boiadas, do vilaboense, Hugo de Carvalho Ramos

A edição derradeira da Revis­ta Oeste data de dezembro de 1944, quando chegou aos seus 23 núme­ros. Magra, raquítica, sem expedien­te, assim, se apresentou no seu úl­timo número, revelador, talvez, da morte anunciada da era Getulista, meses depois. Quase morte a Revista em alongamento de páginas, porém, sem perder a boa qualidade de seus textos, condição observada ao longo das suas históricas edições.

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