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ENTRETENIMENTO

A assinatura humana

A agricultura representa–de longe–a maior atividade humana sobre o planeta. Aproximadamente 70% de toda a água doce disponível é dedicada à essa atividade” - Edward Burtynsky, fotógrafo canadense

A ideia de fotografia pós-in­dustrial, que ganhou força principalmente nos anos 1970 através do trabalho do casal de alemães Bernd (1931-2007) e Hilla Becher (1934-2015), aproxima-se de vertentes artísticas e filosóficas como o minimalismo, o conceitua­lismo e o objetivismo. Os dois, que também atuaram academicamen­te, são conhecidos como fundado­res da Escola Becher, ou Escola de Dusseldorf, que influenciou várias gerações de fotógrafos documen­tais. Entre os profissionais contem­porâneos que exploram a temáti­ca industrial está o canadense (de pais ucranianos) Edward Burtynsky, cujas imagens encontram-se pre­sentes em mais de 50 museus do mundo, incluindo a Galeria Nacio­nal do Canadá, MoMA de Nova Ior­que e a Biblioteca Nacional de Paris.

Atualmente, a Galeria Flowers de Londres apresenta a exposi­ção ‘The Human Signature’, com­posta por trabalhos inéditos de Burtynsky em parceria com Jen­nifer Baichwal e Nicholas de Pen­cier. As fotografias, expostas até 24 de novembro, fazem parte de um novo projeto chamado Anthropo­cence, uma sequência da busca incessante do fotógrafo pelos im­pactos humanos no planeta Ter­ra. No site da galeria, os curado­res antecipam alguns dos aspectos apresentados na série de imagens. “Nessas fotografias, obtidas tanto em perspectiva aérea quanto sub­terrânea, e apresentadas em larga escala, os padrões e cicatrizes de paisagens alteradas por humanos surgem no intuito de evocar uma linguagem pictórica abstrata”. Vis­ta de determinado ângulo, uma mina de lítio, por exemplo, trans­forma-se em mosaico.

No site oficial de Burtynsky, o artista exibe 12 séries fotográficas, bem como suas impressões e in­formações adicionais. Em subdi­visões como ‘Água’, ‘Óleo’, ‘Minas’ e ‘Trilhos’, o fotógrafo nos mostra através de imagens monumentais a maneira como manipulamos o planeta. A imagem principal des­ta matéria, por exemplo, faz par­te da categoria ‘Água’, e mostra o impacto da indústria do arroz em paisagens da província de Yunnan Ocidental, na China. “Enquanto tentamos acomodar as crescen­tes necessidades de uma civiliza­ção expansiva e sedenta, estamos remodelando a Terra de maneira colossal”, declara o fotógrafo em seu site. “Nessa nova e poderosa influência humana sobre o plane­ta, também somos capazes de pro­jetar a nossa própria morte”.

ÁGUA

Na série, o fotógrafo também fala sobre as “incursões em grande escala impostas à terra para apro­veitar e desviar o poder da água” seja no passado, com tecnologias menos precisas, ou na atualidade, através de canais e ambiciosos pro­jetos hidrelétricos. “A agricultura representa–de longe–a maior ati­vidade humana sobre o planeta. Aproximadamente 70% de toda a água doce disponível é dedicada à essa atividade”, informa Burtynsky. “Esse projeto nos leva às paisagens esculpidas, regiões delta com pa­drões fractais, formas biomórfi­cas coloridas, poços rígidos e retilí­neos, grandes campos de irrigação circulares, etc”. A água, sob as len­tes do fotógrafo, é responsável por vários papéis: “vítima, parcei­ra, protagonista, isca, fonte, fim, ameaça e prazer”.

PETRÓLEO

De acordo com matéria publi­cada por Stephen Moss, no jor­nal britânico The Guardian, Ed­ward Burtynsky passou mais de 15 anos fotografando o petróleo, “desde os campos de onde ele é extraído, passando pelos carros que ele faz funcionar, até os detri­tos que ele deixa para trás”. Em seu site, o fotógrafo conta que duran­te suas longas viagens terrestres, possibilitadas por um automóvel, passou a dar atenção àquilo que o combustível pode representar. “Comecei a pensar no próprio pe­tróleo, como fonte de energia que torna tudo possível, e como fon­te de pavor, por sua permanente ameaça ao nosso habitat”, conta. Dos campos de extração no Azer­baijão (país localizado na Eurásia) ou ao campo de descarte de Pneus na Califórnia, o fotógrafo traça um panorama do óleo.

Nessa longa busca pela essên­cia visual do petróleo, Burtynsky encontrou no carro um perso­nagem representativo para sua mensagem. “Eu quis represen­tar uma das características mais significantes de nosso século: o automóvel. Ele é a base princi­pal para nosso moderno mundo industrial, proporcionando-nos uma certa liberdade, e transfor­mando nosso mundo drastica­mente”. Através desse norte, o fo­tógrafo encontrou várias formas de representar as várias fases do combustível. “O automóvel tor­nou-se possível devido à invenção do motor de combustão interna e ao uso do petróleo e da gasolina. A matéria prima e o processo de refinação traziam uma ideia e um componente visual interessantes pra mim”, conclui.

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