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Das funções do museu para a sociedade

Um museu custa caro: são espe­cialistas no tema da coleção, con­servacionistas e museólogos, admi­nistradores, sistema de segurança, limpeza, sistema contra incêndio e roubos, marketing. Muitas vezes, o acervo está num prédio histórico que, de antigo, começa a ficar es­tragado a ponto de ameaçar a inte­gridade do acervo. Aos custos com prédio e pessoal junta-se o custo de preservar e digitalizar o acervo, o que toma tempo e dinheiro.

Poucas empresas brasileiras que­rem gastar seu dinheiro com museus – e quando o fazem, é com museus específicos, com peças atrativas ao grande público. Para a ciência, uma ossada de dinossauro e o fóssil de um ser unicelular têm igual importân­cia, mas, para o público, somente a grande peça chama a atenção. Nem sempre o povo sabe a importância que está na pequena peça. Um docu­mento, uma foto, uma série de inse­tos aparentemente sem importância podem ser estudados no futuro gra­ças a museus que atraem poucas pes­soas, mas cientistas e especialistas.

Museus podem e devem cobrar entrada e ter lojas com materiais à venda. Ele deve se tornar fonte de propagação do conhecimento. Ocor­re que a função primária do smuseus é gerar conhecimento, curiosidade, ensino, pesquisa – que não têm efei­to imediato e não geram, necessaria­mente, lucro. O Museu do Louvre, em Paris, é gerido por dinheiro público, por pagamento de visitantes com in­gressos, por arrecadação junto a em­presas e com mecenas que ajudam as artes. Ele nos mostra que, a des­peito das flutuações de mercado, do gosto popular, de obras mais famo­sas ou menos e da opinião de grupos sociais, mantém todas as peças – e o faz com a certeza de que aquele mu­seu vai se manter aberto por susten­to principal da instituição mais dura­doura: o Estado.

Assumindo essa tese de que a principal função do museu não é gerar lucro, sua monetização exces­siva é mais nociva que benéfica. Sem o Estado, somente as peças caras, fa­mosas e atrativas ficarão sendo co­biçadas pela iniciativa privada, pro­vocando o desmonte da estrutura cultural do País, restando aos acer­vos menores e sem atrativo desapa­recerem ou serem saqueados pelos ricos para suas coleções privadas.

Se o debate for marcado pelo pre­conceito ideológico entre o privado e o público, ele será um debate pobre, marcado pela ideologia cega do an­ti-estatismo atual e pela manuten­ção de um Estado isolado das ques­tões econômicas da administração contemporânea. Talvez o que o Es­tado precise é de uma visão ampla dos museus, com investimentos pe­sados na área. Tire-se a pensão das filhas dos militares solteiras, os privi­légios dos juízes ou a isenção de co­branças de impostos de grandes ins­tituições financeiras e temos amplos recursos para a cultura e arte.

O que não podemos deixar é a rapinagem dos fundos públicos para museus privados; ou a apro­priação de materiais artísticos pú­blicos por empresários que acham que os lucros devem ser seus, mas, quando os problemas aparecem, o Estado deve financiar as mudanças estruturais. Isso seria manter o pa­trimônio em perigo e isentar gran­des empresas de impostos, sele­cionando onde e quando investir, de acordo com interesses que não são artísticos ou científicos.

(Marcos Dias de Araújo, his­toriador e mestre em História pela UFPR, professor de História da Arte e de História das Relações Internacio­nais da Universidade Positivo)

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