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Um Bueno Genocida de Quilombos – Bartolomeu Bueno do Prado

Bartolomeu Bueno do Prado, neto do Anhanguera II, filhodeDomingos Rodrigues do Prado e Leonor Bue­no da Silva, provavelmente nasceu em Santana do Parnaíba (SP). Ado­lescente morava com o pai em terras goianas, onde se localiza atualmente o município de Catalão, na região Su­deste de Goiás. Nas futuras terras ca­talanas, conforme registra a história, a sua proeminente carreira de assassi­no teve início. Na história colonial do Brasil ele é o maior exterminador de Quilombos.

Seu pai, Domingos Rodrigues do Prado, companheiro e sócio do seu sogro, Anhanguera II, na Bandeira de 1722, foi um espinhoque incomo­dou e muito a sua administração da terra dos Goyazes, por causa do seu gênio irrequieto e violento. Sem dú­vida, seu filho Bartolomeu Bueno do Prado, neto do Anhanguera II, teve em quem se mirar e moldar sua ín­dole genocida.

Alguns historiadores, entre os quais, o importante linhagista pau­lista Pedro Taques conta que o pri­meiro assassinato que se tem notícia, praticado por Bartolomeu Bueno do Prado teria ocorrido, quando uma tropa comandada pelo capitão portu­guês José Morais Toledo Cabral volta­va para a Capitania de Minas Gerais, e ao passar pelas terras de Domingos Rodrigues do Prado, dele exigiu tra­tamento especial para sua acomoda­ção e a da tropa. Não havendo como o Prado, atendê-lo, passou o capitão a insultá-lo, ocasionando uma luta cor­poral dos dois. Nesse momento, ar­mado de arcabuz, Bartolomeu Bue­no do Prado desferiu um tiro mortal no capitão. O sargento da companhia Francisco Aranha Barreto perceben­do inferioridade dos seus homens, em confronto com os de Domingos Ro­drigues do Prado, determinou a reti­rada da tropa.

A versão de Pedro Taques para a morte do oficial português é contes­tada por vários historiadores. O enre­do lógico, sem meias quimeras, de­pois que analisei várias hipóteses para a morte do capitão, deve-se, prova­velmente, ao fato de que Domingos não pagava os impostos à coroa por­tuguesa para exploração das minas. Em consequência dessa falta de paga­mento o Superintendente das Minas Gregório Dias da Silva teria enviado a tropa para exigir de Domingos Rodri­gues do Prado o pagamento dos im­postos não recolhidos.

A chegada da tropa no Sitio do Ca­talão para receber os impostos e ain­da para prender Domingos Rodri­gues do Prado teria gerado o conflito entre as partes, acabando por culmi­nar na morte do capitão. Diante des­se embate e morte, Bartolomeu Bue­no do Prado e o pai tomaram o rumo da Capitania de São Paulo para evi­tarem represarias. No entanto, Do­mingos Rodrigues do Prado, doente e com a idade avançada, transporta­do em uma rede faleceu, durante a fuga, em 1738.

Na Capitania de São Paulo, Barto­lomeu contraiu matrimônio com Isa­bel Bueno da Fonseca, filha de Fran­cisco Bueno Luiz da Fonseca e Maria Jorge Velho, proprietários de terras às margens do Rio Grande. Estabele­cendo-se na Capitania de Minas Ge­rais, nas lavras de Pitangui, onde ti­nha muitos parentes. Rico e irrequieto como pai, seguiu em 1748, em com­panhia de experientes sertanistas como Agostinho Nunes de Abreu, Francisco Xavier do Prado, José Ta­ciano Flores, Vitoriano Pereira, Va­lentimGomes, Simão Dias e do padre Antônio Martins Chaves, liderando uma grande bandeira à procura de la­vras na região do Rio das Abelhas. Ex­plorando a bandeira fartas faisqueiras às margens desse rio foram atacados pelos índios Caiapós, causando entre os exploradores pesadas baixas. Nes­ses combates teria morrido Agostinho Nunes de Abreu. Além dos ataques dos Caiapós, sofria a bandeira com a possibilidade de emboscadas por parte dos negros quilombolas. Ata­ques que eram frequentes por aque­las paragens.

Desistindo desta empreitada, Bar­tolomeu Bueno do Prado recolheu-se na propriedade do seu sogro em solo paulista. Foi, exatamente, aí, que o ca­pitão-general da Capitania de Minas Gerais José Antônio Freire de Andra­de convocou o neto de Anhangue­ra, Filho, para a sangrenta missão de acabar com os quilombos assenta­dos na Capitania Mineira, dando-lhe para o ato, a patente de comandante, documento assinado em 12 de maio de1757. Afamado Prado em comba­tes já era conhecida nas capitanias de Minas e São Paulo.

Demorando nos preparativos da mais sanguinolenta investida contra quilombos da história brasileira– lem­brando também da ação de Jorge Ve­lho, no Quilombo de Palmares–tevea sua portaria renovada em duas outras ocasiões. Motivos da demora: prepa­rativos do pleito e tera companhia do seu cunhado Diogo Bueno da Fonse­ca, seu sogro Francisco Luiz Bueno da Fonseca, seu sobrinho Salvador Jorge Bueno(filho de Diogo Bueno da Fon­seca), experientes na arte do combate.

Além do seu cunhado, o Estado Maior do Prado contou ainda com a presença do padre capelão João Cor­reia de Melo, Capitão Antônio Fran­cisco França, Marçal de Lemos de Oli­veira, Manuel Carneiro Bastos, entre outros, que compuseram subdivisões de combate.

O historiador Tarcísio José Martins, depois de mais de duas décadas pes­quisando a história colonial minei­ra, atento à barbárie praticada contra os quilombolas, escreveu o antológi­co livro: Quilombo do Campo Gran­de, a História de Minas Roubada do Povo. A publicação registra um pre­cioso relato da ação demolidora de Bartolomeu Bueno do Prado, contra os quilombolas:

“No período de setembro a no­vembro de 1759, Bartolomeu Bueno do Prado, com uma tropa de cerca de 500 homens (entre brancos, ín­dios e capitães-do-mato), armados até com granadas e montados em cavalos, atacou e destruiu os seguin­tes quilombos:

01- Quilombo ou Povoado da Marcela. Localizava-se em território entre os atuais municípios de Cam­pos Altos/MG e Santa Rosa da Ser­ra/MG ou entre Córrego Danta/MG e Luz/MG.

02–Quilombo ou Povoado da Par­naíba, com 70casas: localizava-se em território do atual município de Rio Paranaíba/MG.

03 – Quilombo ou Povoado do In­daiá, com 200 casas: localizava-se em território entre os atuais municípios de Santa Rosa da Serra/MG (nordes­te), Estrela do Indaiá/MG (noroeste) e Serra da Saudade/MG (sudoeste).

04 – Quilombo ou Povoado de Ajuda localizava-se entre os municí­pios de Medeiros/MGeBambuí/MG, especificamente, “Fazenda D’Ajuda”, pertencente a este último município.

05 – Quilombo ou Povoado do Mamoí, com 150 casas: localiza-se às margens do Rio Bambuí, entre os mu­nicípios Bambuí/MG (norte), Córre­go Danta/MG(sul) e Tapiraí/MG(ex­tremo leste).

06– Quilombo São Gonçalo: loca­lizava-se em território do atual muni­cípio de São Gotardo/MG.

07–Quilombo do Ambrósio: loca­lizava-se em território do atual muni­cípio de Ibiá/MG.

08–Quilombo ou Povoado do Fala, hoje município de Guapé/MG.

09–Quilombo ou Povoado das Pe­dras: provavelmente se localizava en­tre os territórios dos atuais municípios de Alpinópolis/MG (sudeste), ou Car­mo do Rio Claro/MG(sudoeste) e/ou Nova Resende/MG (nordeste).

10 – Quilombo ou Povoado das Goiabeiras, com 90 casas: não pude­mos localizar com precisão, porém, devia se localizar em territórios dos atuais municípios de Franca/SP ou Capetinga/MG.

11– QuilomboouPovoadodaBoa Vista II: sem dúvida, se localizava em território do atual município de Ca­petinga/MG (sul), entre São Tomaz de Aquino/MG e Pratápolis/MG, ao extremo norte de São Sebastião do Paraíso/MG.

12 – Quilombo ou Povoado da Nova Angola, com 200 casas: é pro­vável que se localizava entre os atuais territórios dos municípios de São Se­bastião do Paraíso/MG (noroeste) e São Tomás de Aquino/MG (sul).

13 – Quilombo ou Povoado do Cala Boca: localizava-se em território entre os atuais municípios de Guara­nésia/MG e Guaxupé/MG.

14 – Quilombo ou Povoado do Zondum: localizava-se em território do atual município de Jacuí/MG.

15 – Quilombo ou Povoado do Pi­nhão: localizava-se em território do atual município de Passos/MG (sul).

16 – Quilombo ou Povoado do Caetê: localizava-se em território do atual município de Nova Resende/ MG (sudeste).

17 – Quilombo ou Povoado do Xapeo(Chapéu): localizava-seemter­ritório do município de Monte Belo/ MG(nordeste), distritodeSantaCruz Aparecida/MG.

18 – Quilombo ou Povoado do Careca: localizava-se em território do atual município de Divinolândia, no Estado de São Paulo.

O linhagista Pedro Taques que ocupou postos de trabalho na Capi­tania de Goiás afirmou que ao final dos combates com os quilombolas Bartolomeu Bueno do Prado teria en­tregado como forma de troféu ao ca­pitão-general da Capitania de Minas Gerais José Antônio Freire de Andra­de cerca de 3.900 orelhas de quilom­bolas abatidos. Exageros à parte, não há nenhuma dúvida que Prado era serial killer, porém, havia o interesse econômico em manter a vida do qui­lombola pelo seu bom valor no mer­cado escravocrata.

Uma carta escrita por José Antô­nio Freire de Andrade e enviada aos oficiais da Vila do Príncipe, atual Ser­ro(MG), relata algumas das incursões quilombolas de Prado, cujo teor de­monstra a sua preocupação em pre­servar a vida dos seus habitantes: “O capitão Bartolomeu Bueno do Prado, que vai em quatro meses saiu desta vila com um corpo de quatrocentos homens em direitura ao quilombo de Campo Grande, me deu parte que havendo dado em um quilombo, em 16 de setembro, em um sítio chama­do Indaial, aonde matou vinte ecinco negros e prendeu vinte e continuan­do a sua jornada para a serra da Mar­cela, atacou outro quilombo, onde os que se puderam contar foram qua­renta e nove o número de presos. Até agora me parece não passa de ses­senta. O que participo a Vossas Mer­cês para que fiquem na inteligência do que tem resultado desta diligên­cia para que Vossas Mercês concor­reram com tanto zelo. Deus guarde a Vossas Mercês. São João de El-Rei, 17 de outubro de 1759.”

Depois dos combates Diogo Bue­no da Fonseca, juntamente com o capitão Antônio Francisco França, foram para o Campo Grande fazer pesquisas auríferas, nas áreas dos qui­lombos destruídos. No ano de 1763, Antônio Francisco França desenhou um mapa identificando alguns qui­lombos dizima dos sob o comando de Bartolomeu Bueno do Prado.

Segundo o historiador Francisco de Assis Carvalho Franco, Bartolo­meu Bueno do Prado teria falecido como capitão-mor ajudante das mi­nas de Jacuí(MG), em janeiro de 1768. A ironia fica por conta do seu sepulta­mento na capela do Rosário, da fre­guesia de Carrancas: O exterminador de negros foi sepultado na capela dos homens pretos.

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