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Goiânia recebe exposição de peças indígenas

  •  Uma excelente oportunidade para conhecer e adquirir o artesanato produzido pelas etnias waurá, kamayura e mehinako, do Alto Xingu. Gravuras de Marcelo Solá, doadas pelo artista, também serão vendidas no local e a verba será revertida aos indígenas

Nos dias 21 e 22 de julho, das 8 horas às 16 horas, o res­taurante Panela Mágica abre as portas para uma exposi­ção de artesanato indígena do Alto Xingu, das etnias waurá, kamayura e mehinako. Estarão disponíveis para venda, peças em cerâmica como panelas, vasos e esculturas de animais; esculturas também em madeira, esteiras de buriti, ces­tos, colares e pulseiras. O intuito da exposição é divulgar e promo­ver o trabalho dos artesãos indí­genas, mas principalmente viabi­lizar a arrecadação de verba para que possam custear sua estadia em Goiânia, onde integram o Cur­so de Formação Superior de Edu­cação Intercultural Indígena da Universidade Federal de Goiás. “Essa complementação de ren­da é muito importante, já que os custos com estadia, alimentação e deslocamento, que envolve tre­chos em barcos e em ônibus para Goiânia, são muito altos”, explica a professora do curso e orientadora do Comitê Xingu da UFG, doutora Lorena Dall’ara.

Na exposição, serão expostas de 50 a 60 peças de tamanhos e for­mas variadas. As peças, extrema­mente decorativas e de alto valor artístico, também podem ser utili­zadas no dia a dia, como os jogos de café, pois são curadas em mawãtá, uma planta que misturada ao car­vão serve para impermeabilizar as peças. “O povo waurá, por exem­plo, usa essas panelas para cozi­nhar o caldo de mandioca, pequi, sal, peixes e etc. Também faz troca com outros povos que não sabem fazer panelas. Além disso, os wau­rá pagam pajé e raizeiro para curar os irmãos ou parentes. Essas pane­las são valiosas para nosso povo”, ex­plica o aluno xinguano Hukai Wau­ra, que desenvolve seu trabalho de conclusão de curso sobre a arte da cerâmica da etnia.

ARTE PARA VENCER AS DIFICULDADES

A dificuldade da viagem, bem como todo trabalho do artesão, suas inspirações e, sobretudo, a arte e a exclusividade de cada peça conferem ao artesanato xingua­no características singulares. Os valores dos objetos variam de R$ 50,00 a R$ 800,00 e os pagamen­tos poderão ser feitos em dinhei­ro, cheque ou transferência eletrô­nica. “É uma oportunidade única de conhecer um pouco mais des­sa cultura ancestral e adquirir pe­ças de um belo artesanato, cada vez mais raro e difícil de encontrar, além, claro, de ajudar os alunos do curso a viabilizar seu processo de formação”, diz Dall’ara.

A Formação Superior de Educa­ção Intercultural Indígena da Uni­versidade Federal de Goiás exis­te desde 2007 e surgiu como uma demanda dos próprios indígenas para se capacitarem como pro­fessores. Hoje, conta com cerca de 300 alunos pertencentes a 25 etnias das regiões Araguaria-To­cantins e Parque Indígena Xingu. “A maioria dos nossos alunos são professores em escolas indígenas”, observa Lorena Dall’ara.

O curso é realizado por etapas, que acontecem quatro vezes ao ano: em duas delas, os professores vão até as aldeias e, em outras duas, são os indígenas que se deslocam até Goiânia, onde ficam hospedados por 40 dias a cada etapa. Até 2017, os alunos contavam com a regularida­de da Bolsa Permanência do MEC. Em 2018, porém, muitos alunos ti­veram suas bolsas cortadas ou não regularizadas pelo ministério. Além disso, novos cadastros para os alu­nos de 2017 e 2018 não foram con­cretizados. Atualmente, eles con­tam com a ajuda da Universidade Federal de Goiás para a alimenta­ção, almoço e jantar, os quais são disponibilizados por meio do Res­taurante Universitário. “A gente tem se empenhado em ajudá-los, pois passam por necessidades diversas quando chegam à cidade para es­tudar, pois são povos vulneráveis”, conta a professora.

SOLIDÁRIO

O artista plástico Marcelo Solá também se sensibilizou com a causa dos indígenas e doou duas serigrafias para serem comercia­lizadas na exposição do Panela Mágica, a preços bastante atrati­vos. O dinheiro arrecadado com a venda das obras será repassa­do integralmente aos indígenas. As serigrafias, de 100 cm x 80 cm, fazem parte de uma série de 2018 de apenas trinta impressões em cores sobre papel fabriano 300g. Os exemplares são numerados e assinados pelo artista. “A ideia é levantar rapidamente dinhei­ro para os alunos”, diz a professo­ra. Alguns alunos do curso esta­rão presentes ao evento para que possam explicar um pouco de sua cultura e de sua arte aos interessa­dos nas peças xinguanas.

SOBRE O POVO WAURÁ

“O povo Wwaurá é falante de uma língua pertencente à famí­lia Aruak e habita a terra indíge­na do Xingu, localizada na região Centro-Oeste, no Estado de Mato Grosso, com 2.790.491 hectares. A sociedade waurá se divide em três aldeias: a maior é denomina­da aldeia Piyulaga, que fica à mar­gem do Rio Batovi, no município de Gaúcha do Norte, na região do Alto Xingu, onde vivem cerca de 350 pessoas; a outra aldeia se cha­ma Ulupuwene, situada no Rio Batovi/Ulupuwene, no município de Gaúcha do Norte, na região sul do Alto Xingu e têm 85 habitantes; a terceira aldeia se chama Piyule­wene e está localizada à margem do Rio Karl Von denSteinen, que fica no município de Feliz Natal e tem aproximadamente 30 pes­soas, na região do Médio Xingu.

O povo waurá continua con­feccionando e usando as suas próprias panelas, produzindo e valorizando diferentes tipos de cerâmica dos antepassados e ao mesmo tempo, criando novas for­mas e objetos. No entanto, o con­vívio do nosso povo com a popu­lação não indígena das cidades do entorno e a influência da mídia têm provocado mudanças cultu­rais e de comportamento nos jo­vens, que deixam de se interessar pelo aprendizado da arte da cerâ­mica” – relato de Hukai Waura, xin­guano integrante do curso da UFG.

SERVIÇO:

EXPOSIÇÃO DE ARTE INDÍGENA

Dias 21 e 22 de julho, sábado e domingo

Horário: das 8 horas às 16 horas

Local: Restaurante Panela Mágica - Rua 1 3, 773, Setor Oeste

Telefone: 62 3223-6604

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