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ENTRETENIMENTO

Big bangs de tinta

Com influências que mistu­ram o pensamento e a arte do oriente e do ocidente, o pintor Zao Wou-Ki (1920–2013) criou quadros que rodaram todo o planeta, e hoje valem rios de di­nheiro. Boa parte de suas telas pos­sui comportamentos semelhantes, carregando redemoinhos coloridos, muitas vezes percebidos como a materialização de mundos através de pequenos big bangs. Zao é con­siderado um dos mais famosos pin­tores chineses do século XX, e seus quadros chegam a custar mais de 25 milhões de dólares. Vivenciou várias civilizações contemporâneas em seus 93 anos, passando por vários lugares da Ásia, Europa e América do Norte. Mudou-se para Paris nos anos 1940, e passou os últimos anos na Suíça, incapacitado de trabalhar.

Em 2016 foi tema da exibição Zao Wou-Ki: No Limits, realizada em Nova Iorque e organizada pela Asia Society – uma organização sem fins lucrativos que tem como objeti­vo levar conhecimento ao mundo sobre a cultura asiática. O evento foi reportado pelo jornal norte-ameri­cano The New York Times no texto Zao Wou-Ki, um mestre da fusão abstrata, da autora Roberta Smith, que considera a primeira exibição compreensível do artista nos Esta­dos Unidos. “Trata-se de uma co­leção intrigante e aristotélica de 60 trabalhos de 1943 até 2003, com pinturas em tela e papel, aquarelas e vários tipos de gravuras”, descreve a autora. “Ainda assim, Zao escorre­ga entre seus dedos, oscilando en­tre o quente e o frio, recusando-se à calmaria”, completa.

Esse estado de inconstância físi­ca representado nas imagens de Zao é associado a uma das mais intri­gantes teorias científicas já criadas: a teoria do Big Bang, ou da grande explosão, que tenta decifrar a ori­gem do Universo. Tal observação é feita pelo historiador francês Jean Leymarie, autor de um livro sobre o artista. Ele destaca a influência ad­quirida por pintores abstratos, como Paul Klee, e da forma como a men­sagem visual de Zou pode ser per­cebida. “Ele nomeia seus trabalhos de acordo com a data na qual os fi­naliza, e nelas, massas de cores pa­recem materializar um mundo em criação, como um big bang, onde a luz estrutura a tela”. Outra inspiração de Zao foi o pintor norte-americano Franz Kline, criador da chamada pintura gestual (ou action painting).

Para Roberta Smith, a técni­ca de Zao, é outra característica marcante em seus trabalhos. “Ele tinha uma facilidade impressio­nante. Mesmo quando você não gosta de uma pintura específica, pode estagnar-se diante dela se perguntando ‘Como ele fez isso?’”. Ela relata que a intenção desta exi­bição não foi apenas de divulgar um compilado com os melhores e mais conhecidos trabalhos de Zao Wou-Ki, mas mostrar aos visitan­tes a continuidade do ciclo de sua obra ao longo dos anos. Atualmen­te, suas obras estão espalhadas pelo mundo, em museus de gran­de nome, como a Tate Gallery, de Londres; o Museu de Arte Moder­na de Nova Iorque (MoMA) e a Ga­leria Nacional de Artes de Washin­gton D.C., nos Estados Unidos.

FUSÕES

O contato com o mundo ociden­tal surgiu de uma série de mudan­ças que vinham acontecendo na China no início do século XX. “O desejo de Zao de fundir diferentes elementos das culturas do orien­te e do ocidente em um único esti­lo contemporâneo se construiu de forma precoce, e provavelmente inevitável. Ele nasceu numa famí­lia de muito conforto e privilégios em Pequim, no ano de 1920, e pas­sou seus primeiros anos na cidade de Nantong, perto da boca do Rio Yangtze, na costa sudeste da China”, conta Roberta Smith. A infraestru­tura desta cidade foi essencial para o afloramento de Zao como artista. “Entre 1890 e 1930 a cidade de Nan­tong foi atualizada para uma cida­de moderna (leia-se cidental). Ela tinha cinema, arena de esportes e o primeiro museu da China”, conclui.

A autora lembra da importân­cia da arte oriental na criação de estilos de pintura abstrata. “Zao chega até aqui como um artista que trouxe um elemento asiático para o expressionismo abstrato – um estilo já endividado com a arte asiática – em uma fertilização cru­zada reversa, semelhante àquela que fazia o grupo japonês Gutai”. Em novembro de 2017 obteve um novo recorde financeiro. Sua exibi­ção na galeria Christie’s, em Hong Kong, arrecadou 202,600,000 de Hong Kong Dólares, equivalente a mais de 25 milhões de dólares norte-americanos, ou cerca de 100 milhões de reais. O ex-presidente francês Jacques Chirac ofereceu uma pintura de Zao aos seus mi­nistros durante o último encontro oficial de seu mandato.

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