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A falta que faz um “personagem” como Tarso de Castro no jornalismo de 2018

  •  Gaúcho de Passo Fundo, radicado no Rio, fundou Pasquim, Já, Enfim, Careta, O Nacional e editou o Folhetim, da Folha de S. Paulo
  • Debochado, crítico da ditadura civil e militar [1964-1985], aberto a pautas identitárias, como direitos das mulheres, homossexuais e negros
  • Cáustico, amante do jornalismo crítico, satírico, mordaz, adorava álcool, namorava por atacado e era odiado pelos homens da caserna
  • Tempos de sombras e de utopias. De liberdade sexual. Do lançamento da pílula anticoncepcional. Longe do surgimento da aids, no ano de 1981

- Millôr Fernandes cultivava um ciú­me doentio de Tarso de Castro.

É o que afirma o jornalista e escri­tor Palmério Dória. Autor de Ho­noráveis Bandidos. Fundador do Pasquim, em junho de 1969, o gaúcho de Passo Fundo, filho de Múcio de Cas­tro, proprietário do jornal O Nacional, e de Ada de Castro, nascido em 1949, ini­ciou a sua carreira no jornalismo à época do linotipo. Depois, radicou-se no Rio de Janeiro. A cidade maravilhosa. Anos 60.

- Nãoseiseerahomossexual. Masoseu pau – pênis – era enorme.

Assim define, com ironia, Sérgio Ca­bral, crítico cultural. É que o boêmio tro­cava de mulher como jogador de futebol muda de camisa e de tonalidade da cor de cabelo. Apesar disso, beijava homens. Como o cantor e compositor, ícone do tropicalismo, Caetano Veloso. Além de Otávio Frias, pai, ex-publisher da Folha de S. Paulo. Enfim, adorava sexo, álcool e jornalismo.

- Nem sempre na mesma ordem.

DEBOCHE E CRÍTICAS

Oformatooriginal, debochado, crítico àditaduracivilemilitar[1964-1985], uma noite que durou exatos 21 anos, aberto a pautas identitárias, como os direitos das mulheres, dos homossexuais e dos ne­gros, possui, sim, a impressão digital de Tarso de Castro. É o que aponta José Tra­jano, jornalista especialista na área es­portiva. Um remanescente da impren­sa nanica.

- Alternativa.

Com flores, flores e flores, uma imagem ao lado de Che Guevara, em Punta Del Leste, Uruguai, um beijo nos pés, Tarso de Castro encantou a atriz Candice Bergen. Linda, sensual, cult. Com ar blasé. Com quem man­teve um tórrido romance. A musa do cinema enviava passagens e dólares para o seu amante latino, “latin lover”, ir encontrá-la em Nova York, nos Es­tados Unidos.

- Depois, abandonou-a. Por não ser homem de uma só mulher. Candice Ber­gen ficou aos prantos. A ícone casou-se com Louis Malle. Viveu com ele de 1980 a 1995. Cineasta francês.

CONSPIRAÇÃO DE MILLÔR

A conspiração para derrubá-lo te­ria sido arquitetada por Millôr Fernan­des. Tarso de Castro afirmara a Jô Soa­res, em um talk show, que o humorista era um mau caráter. Pós-Pasquim, ele montou o . Careta, revista satírica, aparece na lista de suas invenções editoriais. Mais: Enfim. Uma de suas manchetes entrou para a história do jornalismo alternativo. De oposição.

- Enfim – Brizola volta.

O retorno, em 1979, do carbonário gaúcho, Leonel Brizola, líder da Cadeia da Legalidade, em 1961, com a renúncia daetílicavassouraJânioQuadros. Exilado noUruguaiem1964. Comadeposiçãodo nacional-estatista, em sua versão traba­lhista, João Belchior de Marques Goulart, em 1º e 2 de abril de 1964. Por um golpe de Estado civil e militar. Com a participação dos EUA.

FÚRIA E ATAQUES

- Delfim Netto, João Baptista de Olivei­ra Figueiredo, Paulo Maluf eram alvos de seus ataques. De sua fúria atrás da má­quina de escrever, que teclava com ape­nas dois dedos.

A turma do Pasquim parou atrás das grades. Menos Millôr Fernandes. Ma­deixas longas, barba por fazer, bebia e se esquecia de pagar as elevadas con­tas, dava gorjetas gordas para os gar­çons e era incomum na arte de paque­rar as mulheres. Tempos de sombras e de utopias. De liberdade sexual. Do lan­çamento da pílula anticoncepcional. Longe do surgimento da aids.

- A tiragem do Pasquim chegouaatingir250mil exemplares. A Revista Veja, fundada em 1968, produzia 50 mil exemplares.

O jornalista irreverente fazia uma, duas, três, quatro edições do semanário após os cortes da censura. As suas entre­vistas eram um show, com apelo públi­co, à parte. Entre as históricas, a de Ibrah­im Sued e a de Leila Diniz. Uma mulher além do seu tempo. Sedutora, morreu em um acidente de avião. No trágico dia 14 de junho do ano de 1972. Em Nova Déli. Na mística Índia.

A CENSURA

- Sob Emílio Garrastazu Médici, gene­ral-presidente. Os censores cortavam, cor­tavam, cortavam...

Os veículos de comunicação que fundou – Pasquim, Já, Careta, Enfim – não eram máquinas de faturar dinhei­ro. Crises econômicas sempre levavam ao fechamento dos produtos editoriais. A administração não era o seu forte. De­mocrata, contrário à ditadura civil e mili­tar, defensor das liberdades e da igualda­de social, gostava também do luxo, dos prazeres, do refinamento.

- Um hedonista calculista. Homem que estendeu os seus momentos de pra­zer e de loucura. Além da juventude. Até o fim de sua vida.

Alcoolista, TarsodeCastrocontraiucir­rose hepática. Ele entrou em coma. Um, duas, trêsvezes. Nãoparavadejogar, debe­ber, deformularcríticasedeacumulardia­tribes. De um ato de amor, nasceu o seu fi­lho João Vicente de Castro. Hoje um ator da TV Globo de raro talento. Ele guarda relíquias do pai, como um isqueiro. O ge­nitor parecia uma chaminé com fumaça.

A FALTA QUE FAZ

- É preciso ter amigos, mas poucos.

Éumadesuasfrasesantológicas. Gê­nio. Até um visionário. Virtudes. No rol dos seus defeitos: perdulário, alcoolista, arrogante, presunçoso. Na verdade, um mix de todas as características apresen­tadas. Mesmo assim, trata-se de um per­sonagem que fez história. – na cultura e nojornalismo – sobaditaduracivilemili­tar. Uma vida “Extra- Ordinária”. A de Tar­so de Castro.

- A sua morte ocorreu aos 49 anos de idade, em 20 de maio de 1991. Ex-marido de Bárbara Oppenheimer, namorado de Leila Diniz, flerte de Betty Faria, com um affair com Candice Bergen.

Em um exercício de imaginação, se Tarso de Castro estivesse vivo, com seu jornalismo independente, não navega­ria na onda do pensamento único. Dos grandes conglomerados de comunica­ção. Cáustico, atacaria, sem dó nem pie­dade cristã, o golpe que depôs Dilma Rousseff, as reformas ultraliberais, a pri­são, semprovas, baseadasemconvicções, de Luiz Inácio Lula da Silva.

- A falta que faz um “personagem” como Tarso de Castro no jornalismo em 2018, no Brasil.

 Delfim Netto, João Baptista de Oliveira Figueiredo, Paulo Maluf eram alvos de seus ataques” Os censores cortavam, cortavam, cortavam” Não sei se era homossexual. Mas o seu pau – pênis – era enorme”

SERVIÇO

Filme: A Vida Extra-Ordinária de Tarso de Castro

Gênero: Documentário

Diretores: Leo Garcia e Zeca Brito.

Made in: Brasil

Ano: 2017

Duração: 90min

Classificação indicativa: 14 anos

CRONOLOGIA

1941 Nasce Tarso de Castro

1969    Pasquim é lançado

1979 Volta de Leonel Brizola

1985 Fim da ditadura

1991 Morre Tarso de Castro

1964 Golpe no Brasil

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