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Orós: o lado experimental de Fagner

A carreira do cantor e com­positor cearense Raimun­do Fagner é marcada por várias canções românticas. Hits como Deslizes, Borbulhas ao vento e Canteiros são canções recorren­tes em rodas de violão da juven­tude e em trilhas sonoras de tele­novelas. Em sua carreira de mais de 40 anos, Fagner acumula mais de 30 álbuns em sua discografia. Um deles, Orós, uma parceria entre o cearense e o maestro alagoano Hermeto Pascoal, chama a aten­ção pela diferença de tudo aquilo que Fagner já havia feito.

O título do álbum remete à ci­dade de Orós, uma pequena cida­de no centro-sul do Ceará. As lem­branças de infância do cantor estão em sua maioria na memória dessa cidade, o que dá um tom intimis­ta ao disco. A viagem ao passado de Fagner passeia por muitos ele­mentos, como a linguagem pecu­liar nordestina, dando ênfase à so­noridade brasileira. Foi lançado em 1977 pela gravadora CBS, contendo oito faixas, cinco delas contendo as­sinatura do próprio cantor.

RECEPÇÃO

Wilmar Bittencourt, em maté­ria especial para o portal virtual da TV Cultura, faz uma análise do fa­moso disco de 1977, que foi rece­bido com certo espanto pelo pú­blico, acostumado com as baladas românticas de Fagner. A inspira­ção de Fagner no momento era transmitir o Nordeste para o mun­do, para isso recrutou os serviços de Hermeto, também conhecido como O Bruxo. “A opção por Her­meto foi acertada, pois o enfoque moderno e literário das canções do cearense pedia o som universal do alagoano que, naquela década, já havia tocado com Miles Davis e gravado dois álbuns nos Estados Unidos”, analisa Bittencourt.

Outro ponto importante na pro­dução de Orós foi a escalação de músicos para a gravação do ál­bum. Além de Fagner e Hermeto, estão presentes nomes como Ro­bertinho de Recife, Itiberê Zwarg, Paulinho Braga, Aleuda, Nivaldo Ornelas, Márcio Montarroyos, Do­minguinhos, Chico Batera, Sergi­nho, Meireles, Mauro Senise, Zé Carlos e André Dequech.

A blogueira Klaudia Alves, que mantém a página Música do Cea­rá, um catálogo que reúne comen­tários sobre discos de vários artistas do Estado, comenta como o dis­co de Fagner impressiona desde a capa. “Orós não tem nada de óbvio, a começar pela arte da capa (Cafi e Fausto Nilo) e também pelo nú­mero de músicas. Em uma época em que era quase que obrigatório se gravar 12 músicas, Orós tem oito faixas, sendo uma delas instrumen­tal. Porém, o que mais surpreende no disco é a parceria com Herme­to Pascoal, um artista que até os dias de hoje é cultuado por todos que entendem de música, mas está longe de ser um músico popular”.

O que chamou bastante a aten­ção do público foi o grau elevado de experimentações nele presente. Apesar disso, é levado com bastante suavidade, o que o diferencia de dis­cos assumidamente experimentais, geralmente difíceis de escutar para o grande público. Fagner como artista popular, não queria dificultar, e sim impressionar. Hermeto soube con­duzir o trabalho, não deixando os momentos experimentais soarem invasivos demais ou quebrarem o clima leve das canções.

Para o crítico musical Bernardo de Oliveira, em análise publicada na revista Camarilha dos Quatro, Orós trata-se de “um disco que à época foi saudado como um mer­gulho do artista em suas origens cearenses. Quer dizer, no lugar de apelo popular temos a reverência e a inspiração por aquilo que supos­tamente o fez ser quem era”. Olivei­ra também colocou em discussão o ecletismo de Orós. “É tanto for­ró quanto jazz em sua abordagem de ruptura e conciliação. Passando de momentos de singela psicode­lia a improvisos com naturalidade”

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