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ENTRETENIMENTO

Bosque sagrado

Criado no século XVI, próxi­mo à propriedade de seu idealizador, Vicino Orsi­ni, o Sacro Bosco (italiano para Bosque Sagrado), também co­nhecido como Parque dos Mons­tros, é um conjunto de esculturas e edificações erguidos em uma região de floresta da comuna de Bomarzo, na Itália, distante cer­ca de 50 km ao norte da capital Roma. Orsini, um condotiero (ou comandante de milícias), atuou em várias guerras italianas de sua época. Na batalha de Artois, uma pequena cidade no norte da França, foi aprisionado pelos inimigos alemães, que o man­tiveram sob cárcere por vários anos. Pouco antes da libertação de Orsini, sua esposa, Giulia Far­nese, faleceu. Segundo algumas fontes, o jardim foi criado por Orsini como uma forma de lidar com a perda.

No período em que se deu a construção do Sacro Bosco, Or­sini passava por um momento de grande contato com sua pró­pria espiritualidade. De acordo com E. L. Hamilton, em artigo para o site The Vintage News, o condotiero passou a ver a vida de uma maneira bem diferente quando conseguiu escapar da morte na guerra. “Depois da li­bertação de Orsini e seu retorno para Bomarzo, ele distanciou-se da religião formal. Converteu-se ao epicurismo, uma filosofia de­votada aos simples prazeres, de­finida pela ausência de dor e pela opção por uma vida moderada”. Nos momentos que antecede­ram a edificação do bosque, Orsi­ni passou a frequentar o meio ar­tístico de sua região. “Além disso, cercou-se de artistas, escritores, e outras pessoas do meio criativo”.

INFLUÊNCIAS

O epicurismo é um ensina­mento transmitido inicialmen­te por Epicuro de Samos, fi­lósofo ateniense do século IV a.C., e prega a procura por um estado de serenidade de espíri­to através da busca da tranqui­lidade, da limitação do medo e dos desejos extremos que podem causar a preocupação constante. Epicuro também é conhecido como o Filóso­fo do Jardim, devido à comu­nidade que fundou com ami­gos e seguidores chamada “O Jardim”. No Sacro Bosco, que mais tarde ficou conhecido pe­jorativamente como Jardim dos Monstros, Vicino Orsini man­dou construir mais de 30 es­tátuas de pedra com estética incomum, e estilo maneirista, predominante em meados do século XVI e caracterizado pela tendência à intelectualidade.

O design das peças é atribuído ao arquiteto Pirro Ligorio, uma figura bastante conhecida da­quele tempo. Ligorio trabalhou como arquiteto papal do Vatica­no sob comando dos papas Pau­lo IV e Pio IV, e foi responsável pelo desenho das fontes de Villa D’Este, em Tivoli, para o cardeal Ippolito II. “Teriam essas visões monstruosas emergido do senso de competição ou de um estado profundo de depressão de Vici­no Orsini? Os historiadores ain­da debatem esse tema até os dias de hoje”, explica E. L. Hamilton. A vida de Orsini era bastante pri­vilegiada. Ele nasceu em 1523, fi­lho de uma família da nobreza, e ganhou o status de Duque sete anos após a morte de seu pai. Na metade do século XVI, sua vida teve uma reviravolta, e passou a participar de batalhas violentas no exército do Papa.

A inspiração imagética do conceito criado por Orsini para o Jardim ainda é incerta. Segun­do pesquisas, podem ter vindo tanto de obras literárias como de tendências arquitetônicas regionais. “Alguns historiado­res afirmam que as imagens grotescas do jardim são inspi­radas pela literatura clássica apreciada por Orsini, como Ae­neid, de Virgil, e Orlando Furio­so, de Ludovico Ariosto–traba­lhos que descrevem uma linha intermediária entre natureza e arte”, conta E. L. Hamilton. “Ou­tros sugerem que ele criou um contraponto aos luminosos jar­dins criados por seu amigo, o Cardeal Cristoforo Madruzzo, numa cidade próxima chama­da Soriano di Cimino”. Uma das obras do Sacro Bosco, La casa pendente, é dedicada ao Car­deal Madruzzo.

INTERPRETAÇÃO

Em publicação da BBC, a au­tora Liz LaBrocca entrevista a historiadora Melinda Schlitt, que fala um pouco sobre as im­pressões acadêmicas à respeito do Jardim. “Em vez de buscar­mos uma mensagem narrati­va unificada, é mais apropriado direcionar nosso conhecimen­to ao relacionamento entre as esculturas e as escrituras que as acompanham–o que certa­mente era a intenção de Orsi­ni”, afirma. Ela também aponta certa pessoalidade na postura das estátuas encomendadas por Orsini, que clamam por uma atenção particular. “Essa poesia exorta o visitante a não procurar semelhança entre as maravilhas daquele jardim com a de outros jardins da região”, conclui. Artis­tas como Jean Cocteau e Salva­dor Dalí tiveram o Jardim como inspiração para suas obras, dis­cutindo amplamente o signifi­cado de suas peças.

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