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ENTRETENIMENTO

Máquina do tempo

História da arte na vida con­temporânea – uma série de montagens que trans­portam personagens de pinturas clássicas para cenários da vida atual. É através desse contraste que o artista ucraniano Alexey Kondakov desenvolve seu traba­lho. Figuras renascentistas são re­tiradas de seu contexto atual e co­locadas, através de programas de edição de imagem, em contraste com metrôs, muros de arte urba­na e barracas de praia. A ideia sur­giu em 2014, quando ele passava por um impasse criativo em seu trabalho como diretor de arte. De acordo com o artista, suas criações mostram situações corriqueiras do cotidiano, enfrentadas pela maio­ria das pessoas, mas que podem ser observadas em um novo ponto de vista devido às pessoas do pas­sado que as povoam.

O trabalho de Kondakov foi tema de um artigo do site Artsy, especializado em artes plásticas. A autora, Alexxa Gotthardt, fala da perfeição com que é feito o encaixe entre passado e presen­te nas imagens do artista, de for­ma que, à primeira vista, sua real intenção pode passar até desper­cebida. “Numa primeira observa­ção, é fácil confundir as imagens de Alexey Kondakov com fotogra­fias de celular da vida contempo­rânea. Seus objetos enfeitam me­trôs, ônibus, e bronzeiam-se na praia. Mas um olhar mais atento revela o delicioso golpe do artis­ta, que vive em Kiev: essas pes­soas não são do século XXI: são personagens abduzidos de pin­turas clássicas, e de forma preci­sa, aparecem sendo fotografadas em cenas atuais.”

A inspiração surgiu enquanto ele navegava por blogs sobre pin­tura. “Ele encontrou uma imagem da pintura Ninfas oferecendo Vi­nho, Frutas e Flores ao jovem Baco, pintada pelo pintor holandês Cae­sar Boetius van Everdingen, no sé­culo XVII. Ela mostra uma reunião entre Baco, deus da agricultura, do vinho e da fertilidade, bebendo ale­gremente na companhia de três ninfas seminuas”, conta a autora do artigo “O artista transportan­do figuras da história da arte para a vida moderna”, publicado no úl­timo dia 15. A forma descontraída dos personagens causou uma epi­fania em Kondakov. “Eu pensei: essa galera está festando da mes­ma forma que fazemos. Que tal co­locá-la no nosso tempo – em pai­sagens modernas?”, disse o artista à autora, Alexxa Gotthardt.

Alguns dias depois desse de­vaneio, Kondakov resolveu pho­toshopar as figuras da obra pri­ma de Van Everdingen em uma fotografia de uma rua coberta de neve em Kiev. “Ele postou a montagem no Facebook, e de­pois de receber muito feedback, decidiu continuar com o projeto. Desde então, criou inúmeras co­lagens digitais para a série, mui­tas delas compartilhadas com seus mais de 30 mil seguidores no Instagram.” Para os conhe­cedores de arte, as imagens pas­saram a servir como um jogo de adivinhação. “Em seus momen­tos mais inspirados, as imagens de Kondakov provocam dualida­de. As criaturas antigas são colo­cadas com tanta destreza no con­temporâneo que mal notamos o anacronismo. Por outro lado, os nerds da história da arte obser­vam-nas como um jogo.”

Alexxa Gotthardt brinca com a tendência dos jovens indies em vestir-se com visual clássico, o que faz com que as imagens não sejam uma auto denúncia escancarada. “Em uma delas, um jovem vestido de boina e capa aparece sozinho em uma pizzaria decorada com graffi­ti. Ele poderia ser confundido com algum millenium vintage, mas um olhar mais delicado nos revela se tratar de um fragmento da pintu­ra Retrato de Georg Giese, pintado em 1532 por Hans Holbein.”

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