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Márcia Caldas encarna 'Davi' contra Golias: "Aparecida não poderia ficar sem oposição"

Médica cirurgiã-dentista, Márcia Caldas (Avante), uma das candidatas de oposição em Aparecida de Goiânia, é uma mulher educada, com grande aceno para o universo científico e educação. É avessa à realização da política pela política e da troca de apoios de forma ilícita ou imoral. Sua principal contribuição à democracia do município é a coragem: exatamente aceitar o desafio de enfrentar uma candidatura que, segunda ela, tem tudo nas mãos – a começar de toda oposição anterior, que “foi convidada a fazer parte de seu governo”.

Ou seja, foi preciso “criar” uma oposição em Aparecida para que o eleitor não seja obrigado a viver uma disputa “surreal e autoritária”, em que se sente como um consumidor obrigado a “comer sempre o mesmo prato”.  Em entrevista ao DM, ela explica seu interesse na disputa e o que pensa sobre Aparecida de Goiânia.

Ao lado de Carol Araújo, sua vice, ela lança nesta terça-feira, 20, oficialmente sua campanha no Recanto Shalom Eventos a partir das 19h.  O governador Ronaldo Caiado (DEM) estará presente no lançamento. Ele diz ter se entusiasmado com a coragem das duas mulheres em ser “Davi contra Golias”.    

DM – Alguns cientistas políticos apontam uma ‘atrofia democrática’ em Aparecida de Goiânia, já que a antiga oposição deixou de existir. Isso prejudica a cidade?

Márcia Caldas - Com toda certeza. Falaram que é um sintoma comum em cidades interioranas e com reduzidas esferas políticas e públicas, cidades que não teriam importância nem interferência em grandes praças. Penso que não se aplica ao todo, já que Aparecida é pujante e influencia, sim, Goiás. Por outro lado, não sou cientista política, por isso ainda não tenho plena compreensão do fenômeno, já que a atual gestão é normal – ou seja, suscita críticas e debates como outra qualquer. Claro, em um ambiente sem alimento, qualquer alimento passa a ser “Muito bom!”.

DM – A senhora faz uma comparação da democracia e da disputa com o alimento. A cidade então só “comeria” uma espécie de “alimento político”?

Márcia Caldas -  Essa expressão não é minha. Eu ouvi de um analista na rádio Terra FM dias atrás. Achei interessante. O cardápio que se tem em Aparecida é pobre. Veja Goiânia. Lá existem 16 candidaturas, com senadores na disputa, profissionais liberais, enfim a sociedade da Capital, que tem um prefeito muito bem avaliado, mostra que vivemos uma anomalia muito grande em Aparecida. De repente, quase todos se afastaram da disputa por aqui.  

DM – O que mais incomoda em Aparecida?

Márcia Caldas -  Acho que existem coisas boas e ruins, como em qualquer lugar. Vou concentrar nas ruins, que vocês questionam. A velha política: tiraram do Garavelo o Cais e não devolveram absolutamente nada no lugar. Aumentaram o fluxo em outros lugares, dificultaram a vida da população numa canetada. Isso é velha política: tirar um serviço da população e não dar nada em troca. Agora, em época de campanha, fecharam o local onde era o Cais, já que causaria a indignação da população ver aquilo no estado em que está.  Estamos falando de um local de grande visibilidade. Dias atrás passei por ali e um menino brincou: “Sabe o que vão fazer aqui, pois tá tampado, sabe? Uma estação de lançamento de foguete!”. Imagina o que acontece nos demais bairros. A política deve ser espaço de transparência.

DM – Mas como prefeita qual seria sua atitude?

Márcia Caldas – É tão óbvio como deve ser. Acho que deveria ser obrigatório chamar a população, conversar e, se for o caso, deliberar.  Em hipótese alguma um bairro daquela magnitude pode ficar sem um centro de saúde. É inadmissível. Como profissional da área, vejo como erro estratégico.  

DM – Um ambiente sem partidos opositores e com reduzida disputa não é a escolha da população?

Márcia Caldas – Não acredito. Várias pessoas chegam para mim e agradecem que nós, eu e Carol, tenhamos decidido participar da disputa.  Veja que esse sistema foi implantado no Estado na gestão do PSDB durante mais de duas décadas. O governo cooptou grande parte dos antigos opositores, atrofiou o ambiente democrático e Goiás, ao fim, foi palco dos maiores escândalos do país. É preciso lembrar que um governador foi preso pela Polícia Federal neste ambiente. Então, nestas situações de democracia anômala, surge mais campo para a corrupção.

DM – O que faria diferente em Aparecida de Goiânia?

Márcia Caldas – O olhar feminino para a população deve ser determinante. Precisamos ter mais mulheres na gestão. A ausência de secretárias é algo impensável. Afinal, somos maioria na sociedade, as pesquisas mostram que temos maior capacidade e qualificação. Qual motivo, então, temos para viver uma supremacia masculina? Não digo isso com raiva dos homens. Nada disso. Eles teriam grande e fundamental participação. Só chamo atenção para esta outra anomalia.

DM – Na área de educação tem algum projeto?

Márcia Caldas – Aparecida precisa de uma grande reformulação na educação infantil. Em 2015, a Delta Economic e Finance mostrou que a cidade está distante em vários níveis de municípios como Anápolis e Goiânia. É um estudo nacional. A nota de Anápolis em educação é 4,83, enquanto Aparecida é de 3,38. A nota de Goiânia é assustadoramente quase o dobro: 6,18. Estes dados aliados a outros mostram que estamos patinando há 15 anos e não saímos do lugar. O IDHM de Aparecida é 0,24. E o de Goiânia é 0,72. Esse estudo me toca muito pois mede as melhores cidades do Brasil para as crianças e adolescentes. Não admito que o cidadão de Aparecida pague impostos similares ao de Goiânia e tenha uma educação ou qualidade de vida inferior em grande medida.

DM – Mas como resolver isso?  

Márcia Caldas – Conversei com educadores das universidades. Teríamos um ‘time lapse’ de 15 anos. Mas a medida é essa: a pessoa chega em Aparecida e não tem uma biblioteca, um teatro, somos atrofiados na oferta de políticas públicas para os jovens. Dias atrás eu vi uma loja que vende acessórios e roupas e discos para rap. Mas não vejo um abraço público nestes jovens, para que produzam e criem “nossa” arte. Não temos visto esta resposta civilizada do poder público. Logo, é preciso criar bibliotecas, centrais de produção de games, mentorias para que os jovens possam entender de perto como é um violino ou um código fonte de um jogo.         

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