Home / Economia

ECONOMIA

Grécia surpreende o mundo

O mundo financeiro já contava com a capitulação do primeiro ministro grego, Alexis Tsipras, diante da pressão do chamado Eurogrupo, que reúne credores, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional – FMI. Ele tinha até o dia de ontem, sábado, para dizer sim à proposta da banca, que consiste, em resumo, na adoção, pela Grécia, de um plano de ajuste considerado, por Atenas, recessivo e draconiano. A alternativa de Tsipras: levar a Grécia ao descumprimento de suas obrigações a vencer no próximo 30 de junho, o tal “default”, o que, no limite, levaria a União Europeia a expulsar a Grécia da Zona do Euro.

Na sexta-feira à noite (alta madrugada no Brasil, devido à diferença de fuso horário), Tsipras anunciou que vai submeter a proposta do Eurogrupo a um referendo. Ele não quer assumir, sozinho, a responsabilidade das consequências, seja da aceitação da proposta, seja de sua rejeição. A Grécia está em sinuca. Se aceita a proposta, terá que impor sacrifícios imensos ao povo grego, já vivendo numa pindaíba de dar dó. Se não aceita, levará a Grécia, fatalmente, para a marginalidade econômica, com consequências talvez piores do que a recessão planejada pelo Eurogrupo. As opções são: ficar no espeto ou cair na brasa.

O ministro alemão das finanças, Wolfgang Schaüble, em entrevista ao Le Monde de ontem, disse que não há mais bases para negociações, já que o governo grego, com este anúncio, pôs fim, unilateralmente, às negociações. Segundo o Financial Times, de Londres, a premier alemã Angela Merkel chegou a fazer um “súplica” a Tsipras que aceitasse o acordo. Tudo em vão. O holandês Jeroen Dijsselbloem, que coordena o Eurogrupo, já antes da reunião com o governo greco ter início, em Bruxelas, se dizia “decepcionado”. Foi, segundo afirmou, “um dia triste para a Grécia”.

Corrida aos bancos

A decisão de Tsipras provocou efeitos imediatos em seu país. Ontem, segundo informou Le Figaro, conceituado diário conservador parisiense, na manhã de sábado os gregos já corriam aos caixas eletrônicos para retirar seus depósitos. Ainda segundo Le Figaro, muitos caixas deixaram de funcionar por não haver mais notas a serem sacadas, apesar do Banco Central Europeu ter tomado, durante a semana, medidas consistentes em abertura de créditos especiais para evitar a perda de liquidez dos bancos gregos. A corrida aos bancos já começou e as autoridades europeias não sabem como contê-la, a curto prazo. “A situação pode degenerar a qualquer momento”, comenta Le Figaro.

Seja qual for o resultado do referendo, supondo que possa ser realizado, em tempo recorde, até o dia 30 de junho, o fato é que tudo aponta para o “default”, ou seja, a quebra da Grécia. O que os credores vão fazer diante do calote? Scchable e outros ministros de finanças da Europa chegaram à conclusão que é preciso elaborar, o quanto antes, um “plano B”, já que, do ponto de vista dos credores, não há mais o que negociar. Mas a presidente do FMI, segundo o diário britânico The Guardian, que a entrevistou, afirmou que “o trabalho com os gregos deve continuar”. Yanis Varoufakis, ministro grego das finanças, também acha que a conversa ainda não chegou ao fim. Ele disse ao Guardian que ainda espera um chamado do Eurogrupo para discutir, quem sabe, uma dilatação do prazo.

A correspondente do Wall Street Journal em Bruxelas, Gabriele Steinhauser, informou em sua matéria para o jornal americano que nos meios oficiais europeus já se discute uma ideia até então impensável: manter a Grécia na zona do euro mesmo que ocorra o “default”. Uma ideia que contradiz a crença solidamente estabelecida nos últimos 5 anos, que antevê numa moratória grega uma desenfreada corrida aos bancos, controle de capitais e todo o resto do enredo sinistro de uma falência.

O mundo financeiro assiste assim, em suspense, o desfecho da crise grega. Se os credores, na undécima hora, cederem a Atenas, que nada mais pede senão um parcelamento da dívida – no que contam com a discreta simpatia do governo norte-americano –, Tsipras sairá do episódio como o grande vitorisoso político. Terá imposto ao capital financeiro internacional uma fragorosa derrota. Mas disso só saberemos no 1° de julho próximo.

Ex-presidente do FMI, Dominque Strauss-khan publicou artigo em seu blog na internet, ontem, o qual foi reproduzido ou comentado por toda a imprensa europeia. Segundo Strauss-Khan, muitos erros foram cometidos, principalmente pelo FMI, e ele próprio, o articulista, admite sua parte de responsabilidade. O maior erro, segundo ele, foi tomar a crise grega como mera crise orçamentária e de balanço de pagamentos. “O FMI subestimou a fraquesa institucional da Grécia e a natureza inconclusa da união monetária europeia. Disse que o FMI devia ter estado mais presente. Ele acha que os representantes das instituições estão cometendo os mesmos erros de sempre e sugere uma “mudança de lógica” na abordagem do problema. Ou, como ele disse, “tomar uma direção radicalmente diferente na negociação com a Grécia”. Parece que Strauss-Khan não será ouvido, já que a banca considera encerrada as negociações.

Os termos dos credores

Os credores exigem de Atenas a meta fiscal de um superávit primário de 1% do PIB em 2015 até 2018, para assegurar a quitação das dívidas. Tsipras rejeita, alegando que isso praticamente anula a margem de manobra orçamentária do governo, deixa-o sem caixa para cumpir as obrigações ordinárias do governo.

Os credores querem ainda reformas fiscais com o objetivo de aumentar, em 1% do PIB, as receitas gregas. Trata-se de aumentar taxas e impostos sobre medicamentos, livros, espetáculos, água, eletricidade, hotelaria e alimentos.

Essas duas são as principais. Existem outras, secundárias. Mas não nessas duas que as negociações empacaram. Atenas não quer ceder. Caso passem essas duas propostas, o Eurogrupo, segundo Le Figaro, oferece um pacote de ajuda financeira à Grécia visando reestruturar o endividamento do país. Os gregos querem nove meses de prazo, mas a banca só quer dar cinco. Seriam alocados mais de 10 bilhões de euros para recaptalizar os bancos do país e para pagar parcelas da dívida junto ao FMI.

A Grécia deve 322 milhões de euros, o que corresponde a 177% do seu PIB médio. O Eurogrupo até admite estabelecer taxas camaradas e prazos a perder de vista se o governo grego aceitar, por escrito, as sugestões de reformas. Entre os próprios credores, contudo, não há unanimidade quanto a isso, pois há quem, segundo Le Figaro, acredite que a lenga-lenga foi longe demais sem que a Grécia, até agora, tenha emitido algum sinal de que pode transigir. (H.C)

eco9

eco8

Leia também:

  

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias