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Com desaceleração da economia, empresas de cobrança entram em crise cortam 30% do pessoal

RIO - O ano era 2012, e as empresas de recuperação de crédito viviam seu melhor momento. Com a política de ampliação do crédito e a redução da taxa Selic para 9%, cresceu também a inadimplência e a procura de bancos e de varejistas pelos serviços do setor. O mercado se ampliou e havia ganhado até uma entidade patronal, o Sindicato das Empresas de Cobrança e Recuperação de Crédito do Estado de São Paulo (Secobesp), oficializado em 2010. Três anos depois, porém, o cenário é de crise. A Associação Nacional das Empresas de Recuperação de Crédio (Aserc), que reúne mais de 200 empresas do setor, avalia que em média suas associadas demitiram 30% de seu pessoal em relação ao que tinham no ano passado. O vice-presidente da Aserc, Celso Senise, conta que a situação está crítica.

— O setor está em frangalhos. É uma falácia em achar que simplesmente com o aumento da inadimplência nossos negócios melhoram — conta ele. — O que acontece agora é que precisamos investir muito mais para recuperar menos.

A alta no desemprego é justamente um dos principais fatores geradores da crise. Senise argumenta que ele é o principal impeditivo ao pagamento de dívidas. Sem perspectiva de geração de recursos, a negociação com os devedores fica difícil.

— A pessoa privilegia os pagamento de coisas necessárias para sua sobrevivência, como conta de água e luz. O resto vai pensar em pagar depois. Quando se tem uma situação de pleno emprego, a dívida vai se adequando porque a pessoa continua com a renda. A perda do emprego é um complicador.

Dono da Fortune Gestão de Ativos e Contact Center, Senise afirma ter demitido de outubro para cá 40% de sua força de trabalho. Hoje a companhia funciona com 120 pessoas.

Em geral, as empresas são pagas pelo montante de recursos recuperados. Além disso, os contratos as obrigam a fazer contato com os devedores e tentar obter o pagamento da dívida. O diretor do Grupo Operandi, Sérgio Panagioti, explica que no momento atual estes dois dispositivos juntos geram mais trabalho, mas com retornos menores. Sua empresa mandou embora 20% dos funcionários e hoje opera com 110 profissionais.

— A norma é ligarmos para o devedor para entender o problema que ele vive. Se é momentâneo, entramos em acordo e fazemos um acompanhamento do pagamento da dívida. Se o cara está desempregado, não tem acordo possível.

Mesmo diante do cenário ruim, Senise avalia que há nichos a serem explorados. Ele cita a recuperação do crédito de dívidas estudantis, em alta por conta do corte de verbas no Programa Nacional do Ensino Técnico (Pronatec), e também a cobrança de dívidas relacionadas à compra de imóveis.

— O setor imobiliário é interessante de cobrar porque tem garantia real. Ninguém quer perder o imóvel, então há uma propensão maior a negociar.

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O Secobesp avalia que neste ano as negociações de reajuste salarial serão difíceis. Em agosto o sindicato patronal sentará com os 17 sindicatos que representam trabalhadores do setor em todo o país. O presidente Nicolas Alonso, avalia ser mínima a chance de aumento real.

— Aumento real neste momento é algo impensável. Infelizmente, para equilibrar contas estamos demitindo.

Alonso é o dono da Orcozol, uma das grandes do setor. De outubro para cá, ela demitiu 880 de seus 2 mil funcionários, sendo que metade foi readmitida posteriormente. Há 45 anos no mercado, Alonso avalia que deverá haver um encolhimento natural após a expansão da última década.

— Vejo um encolhimento pelo menos até o terceiro trimestre. Antes tínhamos problemas, mas era por ineficiência. É um setor que se profissionalizou há pouco tempo — explica. — Neste sentido vejo com otimismo o momento. É o momento de requalificação das empresas. As que sabem fazer vão continuar.

A Seeac, que representa os trabalhadores do setor, explica que é difícil precisar o fluxo de trabalhadores demitidos e contratados na área de recuperação de crédito.

— Há muitas demissões, mas também rescisões por iniciativa do empregado. É um perfil muito específico. São trabalhadores jovens, a maioria no primeiro emprego. Mais de 80% tem abaixo de 30 anos — diz o advogado do sindicato, José Fernando Osaki. — O que o sindicato tem negociado é no sentido de tentar manter os empregados. As propostas de reajuste têm sido em linha ou abaixo da inflação.

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