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Ata do Copom mostra que BC não vê trégua para inflação em 2015

Banco Central retirou da avaliação o trecho que afirmava que a inflação "entra em longo período de declínio"

Reuters
O Banco Central não vê mais a inflação iniciando trajetória de queda em 2015, em meio a forte reajuste de preços administrados e desvalorização do câmbio, mostrou a ata da reunião da semana passada do Comitê de Política Monetária do Banco Central.
Na ata divulgada, o BC voltou a avaliar que a intensificação dos ajustes de preços relativos realinhamento dos preços domésticos em relação aos internacionais e realinhamento dos preços administrados em relação aos livres tornou o balanço de riscos para a inflação menos favorável, repetindo que os preços deverão continuar elevados este ano.
Mas o BC retirou da avaliação o trecho que afirmava que a inflação, "porém, ainda neste ano entra em longo período de declínio".
Em outra mudança, o BC afirmou que as decisões de política monetária serão tomadas visando a convergência da inflação para o centro da meta "ao longo do próximo ano", em lugar da expressão "no próximo ano", usada no documento de janeiro.
A meta de inflação é de 4,5 por cento com dois pontos percentuais de tolerância para cima ou para baixo. Na semana passada, o Copom manteve o ritmo de aperto monetário, elevando a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, para 12,75% ao ano.
Com a deterioração do cenário para a inflação, os economistas reforçam previsão de nova alta da taxa Selic em abril e aguardam mais sinais da autoridade monetária no Relatório de Inflação para definirem a intensidade do aperto. O relatório será divulgado no fim deste mês em data a ser marcada.
"Acho que não é um BC que está propenso a adotar uma dose de juros mais elevados", afirmou o economista-chefe do banco J. Safra, Carlos Kawall, acrescentando que a alta da Selic deverá ser de 0,25 ou 0,50 ponto percentual.
Kawall reforçou que a exclusão do parágrafo sobre a entrada da inflação em longa trajetória de declínio em 2015 indica que os preços vão continuar pressionados, citando o impacto do repasse cambial. Para ele, o BC passa a indicar um movimento mais gradual de convergência da inflação para a meta no ano que vem.
"É alguém que ainda está confiante que a trajetória da inflação para 2016 não é de elevação. É uma trajetória de convergência. Eventualmente, não chegando a 4,5% no ano que vem, mas caindo ao longo do ano", disse.
Na ata da última quinta-feira (12), o BC projetou alta de 10,7% dos preços administrados para 2015 ante previsão anterior de aumento de 9,3%. Entre os fatores considerados, está a estimativa de reajuste de 38,3% para energia elétrica em 2015 ante visão anterior de alta de 27,6%.
O BC tem repetido que fará o que for necessário para domar a escalada de preços, mas mesmo diante do aperto monetário iniciado em outubro de 2014, a inflação segue alta e resistente.
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve variação positiva de 1,22 por cento no mês passado, acumulando alta de 7,70% em 12 meses encerrados em fevereiro.
Na visão do estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, o BC vai desacelerar o ritmo de aperto dos juros somente se houver certo conforto em relação ao dólar.
"A preocupação acho que ainda é o câmbio, que vem mostrando algum stress nos últimos dias e semanas", afirmou.
Diante da escalada da moeda norte-americana, o economista acredita em alta de 0,5 ponto percentual no próximo encontro do Copom. "Vai precisar de um alívio no câmbio até a próxima reunião para o BC se sentir confortável em diminuir o aperto."
A moeda norte-americana recuava ante o real no início dos negócios desta quinta-feira, mas ainda acumulava alta de cerca de 9% neste mês.
Na ata do Copom, o BC voltou a dizer que a política monetária deve permanecer vigilante, mas complementou essa avalianção vendo como necessárias as iniciativas para redução da oferta de crédito subsidiado. No documento anterior, a visão era que o Copom considerava essas ações apenas oportunas.
A mudança de tom sobre a oferta de crédito subsidiado reflete a preocupação do BC em aumentar a eficácia da política monetária, fazendo com que a alta de juros atue sobre parcela maior do mercado de crédito.
Essa análise converge com recentes medidas adotadas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, reduzindo ou eliminando repasses dos Tesouro Nacional para programas governamentais baseados em crédito subsidiado.

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