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Família vai percorrer 60 países a bordo de uma Kombi

Norton Luiz
Editor de Veículos

Uma família de Anápolis, cidade da Região Metropolitana de Goiânia, situada a cerca de 60 quilômetros da capital, está de malas prontas para uma viagem por 60 países e com estimativa de duração de cinco anos. O advogado Eduardo Carmo e a esposa, Flávia Elisa, gestora de RH, deixam a cidade goiana em uma Kombi Safari 1986, na companhia dos dois filhos pequenos, de sete anos e seis meses, até o final de julho.

O itinerário do primeiro ano, que deve culminar com o lançamento de um livro acerca da aventura sobre rodas, começa com quatro ou cinco meses ainda em território brasileiro.

Na sequência, o grupo segue para Uruguai, Argentina, Chile e retorna para o Ushuaia, na Terra do Fogo, onde deve chegar em janeiro de 2019. A subida pelo mapa começa a seguir, por Patagônia, Bolívia e Peru, onde a família deve completar o primeiro ano na estrada, com parada estratégica para tratar de questões burocráticas relativas ao visto americano.

A viagem, então, prossegue pelo Equador, Venezuela, Panamá, Nicarágua, Costa Rica, México, Estados Unidos, Canadá e Alasca. Na sequência, a família retorna para o Canadá, passa de novo pelos Estados Unidos e segue para a Europa, onde deve programar os quilômetros seguintes do percurso.

O veículo escolhido para a viagem, parte de uma edição especial com apenas 400 unidades, custou cerca de R$ 75 mil e foi adaptado apenas para que a família possa suportar as baixas temperaturas no extremo sul da América Latina e para melhorar a autonomia elétrica do clássico vintage com motor 1.6 boxer, de 54 cv, câmbio manual de quatro marchas, encontrada após árdua procura por classificados de internet.

“Eu queria muito uma Kombi porque é um veículo que, além de fazer parte da minha memória afetiva, me remete a ideia de nostalgia e aventura”, conta o advogado, que contou com o apoio incondicional da esposa quando decidiu embarcar na aventura.

Morte da mãe

Segundo Carmo, a iniciativa da viagem aconteceu depois do falecimento de sua mãe. “Minha mãe teve câncer e ficamos seis meses muito próximos, durante o tratamento. Nesse período, conversávamos muito, inclusive, sobre sonhos adormecidos, e falamos sobre essa vontade que nós dois tínhamos, de sair pelo mundo, conhecendo gente e cultura novas”, explica.

A ideia de visitar lugares desconhecidos pelos cinco continentes era um desejo antigo da matriarca. “Ela se foi, mas o sonho renasceu”, diz o filho, emocionado. A Kombi era o carro que mais se encaixava nos projetos da família.

Eduardo conta que chegou a cogitar outros veículos com carroceria, mas a paixão antiga pela Kombi falou mais alto, um fascínio comumente exercido pelos clássicos modelos da falida Karmann Ghia do Brasil. Questão de memória afetiva.

Boa parte da relação com o pai, funcionário da área de transportes do setor de sedex dos Correios, ocorreu a bordo da conhecida Kombi amarela que cortava a BR-060, trecho Anápolis-Goiânia. “Nas férias, a gente ia trabalhar com ele na rota para Goiânia. Parávamos no caminho para pegar frutas e viajávamos entre malotes e correspondências”, rememora.

A escolha final se iniciou em uma viagem com a esposa para o interior da Terra de Todos os Santos. “Fomos para Itacaré, na Bahia, onde já havíamos morado por um tempo, para nos inspirar. Víamos muitas Kombis. Lá, conhecemos uma família de argentinos, pais e três filhos, que viajavam em uma Kombi adaptada”, relata.

O casal, que estava hesitante sobre a capacidade do Volkswagem em se adaptar às particularidades da longa viagem, logo teve a certeza que tanto esperava.

Foi ali, na praia visitada por tantos mochileiros e viajantes, que o casal começou a acreditar que a grande aventura, antes sonhada, poderia se tornar realidade. Tudo seria uma questão de planejamento que incluía abandonar as respectivas carreiras para botar os pés – ou melhor, as rodas, na estrada. O encontro com a Kombi que materializaria esse destino ocorreu em frente à televisão, há cerca de um ano.

“Eu vi uma reportagem de um senhor chamado José Barazal, que tinha uma Kombi Safari. Assim que a vi, me apaixonei de vez. Decidi comprar um veículo como aquele. Virou a nossa meta”, comenta Eduardo. Seis meses depois, o veículo finalmente apareceu, por meio da visita de um representante ao local de trabalho da esposa de Eduardo.

“Ele ouviu ela comentando com as amigas sobre nosso projeto e disse que tinha uma Kombi do estilo em Brasília. Essa estava dentro do nosso orçamento. Gastamos cerca de 75 mil com a Kombi”, afirma Eduardo. Mas, para ele, o dinheiro estava bem gasto: a Kombi, sem perder o charme vintage, estava plenamente adaptada a viagens de longa distância.

“Tem banheiro com pia e chuveiro, duas camas de casal, fogão, pia de cozinha, uma pequena sala de estar e um pequeno guarda-roupas”, enumera.

Eduardo lista, ainda, com carinho e entusiasmo, algumas das características que fazem de sua Kombi, batizada no documento como Karmann Mobil, um veículo único. “Ano 86, motor 1.6, dupla carburação original, mas carburação simples adaptada pelo antigo dono”, informa. Para ele, o veículo, por si só, já tem uma história que vale a pena ser contada.

Agora, vai virar personagem central da história do casal e dos filhos, que levam o nome de "Família  Ducerrado" nas redes sociais, como youtube, facebook e instagram, por onde todo o mundo poderá acompanhar os quilômetros rodados pelo grupo.

Ainda de acordo com Eduardo, existem recursos financeiros para bancar o projeto por apenas um dos cinco anos da jornada. Mas ele está confiante nas possibilidades propiciadas pela sociedade da informação e o comércio de conteúdos audiovisuais digitais. “Tem site de financiamento coletivo e algumas parcerias”, antecipa.

Eles pretendem trabalhar como documentaristas de viagem, vendendo o conteúdo imagético de sua jornada para empresas da internet. Entretanto, não destacam negociar com empresas fora da rede internacional de computadores, até porque precisarão de todo tipo de apoio durante o percurso. “O que importa é dar vazão ao sonho”, arremata.

 O bólido das odisseias hippies

Nenhum veículo entrou para a consciência coletiva e o imaginário da era da contracultura como a Kombi. Por ser um utilitário capaz de transportar várias pessoas sem a necessidade de habilitação especial, o automotor da Volkswagen foi adotado pelo movimento hippie como aquele que transportaria pessoas e sonhos com um mundo de paz, amor e concórdia entre os homens.

A imagem da Kombi se ligou de tal forma ao movimento hippie e à prática da carona entre as décadas de 1960 e 70 que não foi outro veículo que não a clássica camioneta o meio de transporte das heroínas dos novos clássicos Forrest Gump, O Contador de Histórias (1994) e Sombras da Noite (2012).

Para além da Era Hippie, foi em uma singela Kombi amarela que uma então pequena Abigail Breslin embarcaria para se tornar a Pequena Miss Sunshine.

Quer retratada em formas idilicamente customizadas segundo a intenção alegórica da época, em desenhos que misturam arabescos ligados a motivos lisérgicos, quer como símbolo de toda jornada sob o signo da carona e da falta de destino certo, a Kombi se notabiliza por garantir sua singela presença sempre que uma viagem se inicie sob o signo da aventura.

Nessa escolha, em que trajeto e existência se fundem, o viajante, faminto de estrada e de sentido, sempre adia encontrar o último paradeiro. Pois a Kombi é o veículo de todo aquele que transforma em lema de vida o velho adágio espanhol: Lo caminar se hace caminando.

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