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Waters garante show que irá passar pela fase de ouro do Pink Floyd

Turnê ‘This is Not a Drill’ é anunciada pelo músico como a primeira de sua despedida dos palcos

Fase de ouro: músico garante que set list tem canções eternizadas pelo Pink Floyd Fase de ouro: músico garante que set list tem canções eternizadas pelo Pink Floyd

Já aviso: vou chorar. Peço licença ao leitor, mas assim que Roger Waters, de 80 anos, dedilhar o fraseado da música “Wish You Were Here” no violão, eu vou me derramar em lágrimas. Queria ver você ouvir o músico do Pink Floyd tocar os hits da banda britânica a 40 metros de onde está e ficar indiferente a tamanha emoção. Pois é, essa é a distância que ficarei dele na Arena BRB Mané Garrincha (Asa Norte, Brasília), nesta terça-feira, 24, a partir das 21h.

Waters desembarcou em solo brasileiro para apresentar a turnê “This is Not a Drill”, que irá passar por seis cidades do País até 12 de novembro. Ele é acompanhado no show por Jonathan Wilson e Dave Kilminster (guitarras), Jon Carin (teclado, guitarra e vocais), Gus Seyffert (baixo e voz), Robert Walter (teclado), Joey Waronker (bateria), Shanay Johnson e Amanda Belair (vocais) e Seamus Blake (saxofone). Boa música não vai faltar.

O concerto percorreu cidades localizadas na América do Norte e Europa, sempre com arenas cheias, e não deve ser diferente por aqui - uma das datas em São Paulo, por exemplo, já se encontra com ingressos esgotados. É uma experiência cinematográfica e sonora, na qual o baixista do Pink Floyd interpreta músicas dos quatro lendários discos lançados pelo grupo nos anos 70: “The Dark Side of The Moon” (1973), “Wish You Were Here” (1975), “Animals” (1977) e “The Wall” (1979). Esses elepês fazem parte de uma riquíssima época pinkfloydiana.


		Waters garante show que irá passar pela fase de ouro do Pink Floyd
Politizado: turnê deve fazer duras críticas aos conflitos bélicos ao redor do mundo. Foto: Divulgação

Em texto enviado à imprensa, Waters diz que o espetáculo será uma inovadora “extravagância cinematográfica/rock and roll”. “É uma acusação impressionante da distopia corporativa na qual todos nós lutamos para sobreviver e um apelo à ação para amar, proteger e compartilhar nosso precioso e precário lar planetário. O show inclui uma dúzia de ótimas canções da Era de Ouro do Pink Floyd ao lado de várias novas, palavras e música, mesmo escritor, mesmo coração, mesma alma, mesmo homem”, afirma o artista.

Sim, mesmo cara: continua enfezado com os antigos companheiros de Pink Floyd (até regravou “The Dark Side…”), classifica como genocídio os ataques de Israel ocorridos em Gaza e entende que as pessoas precisam falar umas com as outras, como se estivessem num bar. Esse último ponto foi dito pelo músico durante entrevista ao jornalista Leandro Demori, que será exibida nesta terça, 24, no programa “Dando a Real”, na TV Brasil.

“The Dark Side…” funciona bem até hoje. A abertura do álbum, de cara, se mostra poderosa: uma pessoa grita, imagem de loucura se desenha na nossa cabeça, notas tocadas suavemente nas cordas da guitarra. “Breathe in the air”, canta o guitarrista David Gilmour. Foi uma revolução. Impossível negar a popularidade dessa obra-prima, lançada no dia 1° de março de 1973. O elepê se manteve nas paradas por uma geração inteira - 14 anos.

Quando o lendário disco do Pink Floyd chegou às lojas, em 73, não havia plataformas de streaming com zilhões de possibilidades musicais. Vivia-se um tempo analógico, dos vinis e das casas do ramo nas ruas pela cidade. Comprar um disco era coisa séria, compromisso inadiável para quem gostava de ouvir música e fazia questão de estar por dentro das novidades. E ainda hoje, pensando bem, todo mundo quer ter o disco na estante.

Se “The Dark Side…” passou a ser o disco do “prisma”, “Wish You Were Here” ficou conhecido dentre os fãs como “o álbum em que os dois executivos apertam as mãos e um deles está pegando fogo”. Era como Waters, Gilmour, Richard Wright e Nick Mason se sentiam: enlouquecendo. Uma faixa se chama “Welcome To Machine” (bem-vindo à máquina, em tradução literal) e, numa outra, “Have a Cigar”, zomba-se dos executivos da indústria fonográfica. “A banda é realmente fantástica, é o que penso”, diz a letra.

Fui à loucura ouvindo Pink Floyd. Comecei a escutar rock como todo mundo: Stones, Beatles, The Who, Jimi Hendrix. Mas foi eu ganhar uma guitarra para ter noção de que aqueles solos melódicos, de timbre inconfundível, eram obras de arte. Não era mais pop rock o novo, e sim art rock. Talvez Pink seja uma das poucas bandas em que os detratores de rock progressivo se veem forçados a abrir uma exceção sob o fraco argumento “ah, Pink Floyd não é progressivo, é psicodélico”. Syd Barrett, blá blá blá. Vos digo: bobagem, entendem?

“Animais”, disco que sucedeu “Wish You Were Here”, carrega a metáfora tirânica de “Revolução dos Bichos”, de George Orwell. No próximo trabalho, a banda deu um passinho: “The Wall” (1979) faz óbvia referência ao Muro de Berlim. O repertório ajudou a canalizar sentimentos de rejeição que estavam em Waters e sua antipatia a autoridades, sejam elas professores opressores ou chefes de estado com inclinações nazifascistas.

Distanciamento

Décadas mais tarde, Waters se distanciou dos músicos que integraram o Pink Floyd e deu declarações pró-Rússia. A coisa subiu de patamar - para um mais tenso - quando a esposa de David Gilmour, Polly Samson, disse que o ex-parceiro de seu marido não passava de “um antissemita até o âmago podre”. Só que, de fato, isso não faz muito sentido. Para o baixista, os antigos companheiros eram incapazes de escrever canções e não tinham nada a dizer.


		Waters garante show que irá passar pela fase de ouro do Pink Floyd
Nova dinastia criativa: obra-prima que completa 50 anos revelou liderança de Waters, após saída de Syd Barrett, no final dos anos 1960. Foto: Divulgação

“Eles não são artistas! Eles não têm ideias, nem uma única entre eles. Nunca tiveram, e isso os deixa loucos”, desferiu Waters, colocando-se acima do baterista Nick Mason, do tecladista Richard Wright e, claro, do guitarrista David Gilmour, seu desafeto-mor. A obra-prima “The Wall” vendeu 19 milhões de cópias pelo mundo e foi parar nos cinemas, sob direção do cineasta Alan Parker e do ator Bob Geldof na pele de Pink - um clássico da cultura pop.

Ao contrário do show em Berlim, realizado em maio deste ano e quando a polícia acusou Waters de apologia ao nazismo, a ópera rock discute abandono, isolamento e egocentrismo. Escritas por Roger Waters, as letras retratam a vida de um garoto que perdeu o pai na Segunda Guerra e cresceu convivendo com a ausência da figura paterna. Na vida adulta, Pink vira astro do rock e abusa das drogas e, num surto psicótico, começa a achar que é um líder totalitário e performa um autocrata na nazista. Waters se caracteriza no show.

Mas o músico não exibe nenhuma simbologia nazifascista. Veste dois martelos que estabelecem, na verdade, críticas a todo tipo de ditadura, como o stalinismo, por exemplo. Em “The Wall”, Pink volta da loucura em que as drogas o levaram, é julgado pelos crimes que cometeu e, ao fim de tudo, o muro se esfacela no palco. Aqui a metáfora é simples e direta: o único caminho perpassa pela destruição completa das opressões.


		Waters garante show que irá passar pela fase de ouro do Pink Floyd
Abraço de amigos: ex-Pink Floyd encontrou presidente Lula. Foto: Ricardo Stuckert/ PR

Órfão de pai morto pelos nazifascistas durante batalha na Itália na Segunda Guerra Mundial, o avô de Waters já havia ido embora na Primeira Guerra lutando pelo exército britânico. “This is Not a Drill” critica os EUA pelos conflitos bélicos mundo afora. A defesa da causa palestina possui outra dimensão. Ontem, deixou-se posar ao lado de Lula, Janja e Paulo Miklos, integrante dos Titãs. Roger Waters pode até ser polêmico, mas é um mestre.

Anote aí

24 de outubro, às 21 h

Arena BRB Mané Garrincha – Asa Norte

A partir de R$195

Acima de 16 anos desacompanhado

De 5 a 15 anos é obrigatória a presença de um responsável legal.

Venda de ingressos pelo Eventin


		Waters garante show que irá passar pela fase de ouro do Pink Floyd
Histórico: concerto realizado na cidade de Berlin, em 1990, é um dos maiores da história da música. Foto: Divulgação

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