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Em novo disco, André Morais põe palavra para dialogar com melodia

“Voragem”, terceiro álbum autoral, tem participações especiais de Ney Matogrosso e Fabiana Cozza. André desfila parcerias com nomes consagrados na música

Obra demonstra maturidade criativa do artista e revela que ele é nome para se ficar de olho - Foto: Divulgação Obra demonstra maturidade criativa do artista e revela que ele é nome para se ficar de olho - Foto: Divulgação

Ouve-se um piano e, segundos depois, o suingue toma conta da paisagem musical. “O lírio do desejo abriu-se em meu peito/ brotou leve a flor da pele em solo perfeito”, canta o multiartista paraibano André Morais, em seu terceiro disco autoral, “Voragem” - já disponível nas plataformas de streaming. Com 10 faixas inéditas da lavra do artista, o trabalho tem participações especiais de Ney Matogrosso e Fabiana Cozza.

Pés e mãos se movimentam enquanto Pablo está cantando. Difícil não mexê-los. Corpo partido ao meio. Amor é uma estrada escura, porque a “A Tarde Arde”, tal como diz a segunda canção. Lembra o cantor pernambucano Otto, artista que canalizou agruras existenciais no deslumbrante “Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos”, disco de 2009.

Já André - com “Voragem” - chega para consolidar sua maturidade criativa. Nos últimos anos, tornou-se conhecido por ter realizado trabalhos como ator, cineasta e roteirista. Ele põe nossa pele em arrepio, falando de “sexo vadio”, e se insere na tradição poética que jorra sensibilidade pelos poros da música popular: é uma profusão de sensações, uma simbiose de sonhos musicados e uma confluência de ideias dramáticas. “A Lira Nua” é um encanto.

Com faixas autorais gravadas com Elza Soares, Mônica Salmaso, Naná Vasconcelos e Tetê Espíndola, o artista assina com maestria o seu nome na cena da música brasileira. Até aqui, de fato, a carreira de André Morais se pavimenta em três pilares: música, teatro e cinema. Daí, a todo momento, por exemplo, “Voragem” desenha na cabeça do ouvinte imagens dramáticas e constrói narrativas poéticas, com lirismo da “Brasa”, “Leve” e da “Ocaso”.

Fabiana Cozza, consagrada na música brasileira, empresta a voz para fazer um dueto com André. A música “Pátria”, aliás, é um dos pontos altos do disco, numa progressão de acordes que evoca o samba. “André é uma pessoa muito querida, um ator, cantor e artista maravilhoso. Tem um olhar muito poético e apurado de arte. E eu quero estar sempre desse lado, da trincheira, ao lado dos artistas que tem sempre muito o que dizer”, elogia Fabiana.

Segundo o dicionário Houaiss, “Voragem” significa fenômeno devastador da natureza. É uma espécie de redemoinho formado no mar. Ou tudo aquilo que se consome com violência, que leva à profundeza, ao abismo. E, no entanto, carrega consigo a ideia de renascimento e transformação, embora represente também um movimento de morte, de finitude das coisas. Pode-se dizer que esse sentimento está presente na humanidade desde a pandemia.

André afirma que essa emoção lhe moveu a criar composições. Surgiram, então, as dez canções de “Voragem”. Apesar de chegar ao público após o isolamento social, os versos - com toda a peculiar intimidade e clima de confiança disposto neles - nasceram durante aqueles dias de dúvidas, em que só havia a possibilidade de se trancafiar em casa. Por isso, no disco, há solidão, encontro com a natureza, com o desejo e com a amorosidade.

Se solidão é uma melodia que assobia ao pé do ouvido, como nos diz André em “Maré Alta”, “Voragem” seria a busca pelo híbrido, o que lhe confere um quê de guia. Guia - entendam - dos nossos tempos. E a história do cantor se inicia com “Bruta Flor”, lançado em 2011. Seu segundo álbum, “Dilacerado”, lançado em 2015, traz amor temperado ao erotismo.

E muita teatralidade também, claro. Ele consolida parceria com Chico César. E abre parcerias com a compositora mato-grossense Lucina, autora de clássicos como “Bandoleiro” e “Me Rói”, cantados por Ney Matogrosso e Zélia Duncan. Passa a criar com o compositor paraibano Seu Pereira. Em “Dilacerado”, há as participações da grande Elza Soares e do mestre e percussionista pernambucano Naná Vasconcelos, em sua última gravação em disco.

Em “Voragem”, André Morais confirma ainda sua parceria com a compositora Lucina. Abre parcerias ainda com a cantora e compositora paraibana Socorro Lira e demonstra a força do texto da compositora potiguar Valéria Oliveira, construindo um universo criativo em que a presença do feminino se mostra relevante. Com isso, consolida o lugar da música autoral nordestina e do encontro da palavra poética com a construção cuidadosa entre harmonia e melodia. “Quando tem dramaticidade é muito bom”, ensina Ney Matogrosso.

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