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'Aumenta que é Rock´n´Roll' resgata história de rádio que revolucionou a comunicação nos anos 80

Estrelado pelo ator Johnny Massaro, longa-metragem pode despertar juventude contemporânea para música de espírito rebelde

Johnny Massaro encarna jornalista que fez história na comunicação levando o rock às ondas radiofônicas, a partir de 1981 - Foto: Globo Filmes/ Divulgação Johnny Massaro encarna jornalista que fez história na comunicação levando o rock às ondas radiofônicas, a partir de 1981 - Foto: Globo Filmes/ Divulgação

Você acorda. Acorda e abre os olhos. Ouve The Who às seis da manhã. Pete Townshend atacando com aquele riff de “The Kids Are Alright”. Ou mandando ver os acordes de “My Generation”. Ou Roger Daltrey falando que às vezes precisa fugir. Ou ele próprio dizendo que vai perder a cabeça. Saco cheio. Caretas são os outros. Anseia por cair no rock´n´roll.

Imagine que isso realmente rolou no 1° de maio de 1982. Quem sintonizasse os 94,2 da Rádio Fluminense FM se perguntaria o que um som desvairado como esse e composto quase 20 anos antes poderia ter em comum com o insolente rock brasileiro. Um desvario Who a tal hora, numa frequência porra-louca, como se o grito da juventude não pudesse esperar.

Até pouquíssimo tempo atrás, a “Maldita” – apelido gentilmente aplicado à Fluminense pelos jovens – era um modesto braço radiofônico do Grupo Fluminense de Comunicação, amparado pelo jornal “O Fluminense” – no 9° andar de um prédio em péssimas condições no centro de Niterói, estado do Rio de Janeiro. Ficava nas proximidades da rodoviária.


		'Aumenta que é Rock´n´Roll' resgata história de rádio que revolucionou a comunicação nos anos 80
Bruno Jablonski vive no filme o músico Herbert Vianna - Foto: Globo Filmes/ Divulgação.


Foi na porta de lá que, doze meses antes, batera o jornalista Luiz Antonio Mello. Ele trabalhava na reportagem do “Jornal do Brasil”, então referência na cobertura cultural da imprensa patropi. Com todo tempo do mundo, propôs um programa sobre rock. Rock e comportamento – na verdade. Para Luiz Antonio, deveria se chamar “Rock Alive”.

“Rock Alive”? É. Levaram-lhe, então, para apertar a mão do presidente do grupo, Ephren Amora. “Numa dessas confusas manobras milagrosas, em setembro de 1981, a partir do projeto, Mello assumiu a direção da emissora”, escreve o pesquisador Ricardo Alexandre, no livro “Dias de Luta: o Rock e o Brasil dos Anos 80”, da Arquipélago Editorial. Ali foram lançados nomes como Barão Vermelho, Blitz, Paralamas do Sucesso e Legião Urbana.

Dessa vez, a história da “Maldita” – que encerrou as atividades em 2005 – foi parar na telona. Sob direção do cineasta Tomás Portella, o filme “Aumenta que é Rock´n´Roll” narra a história da emissora radiofônica pela perspectiva de Luiz Antonio, caracterizado como um atrapalhado radialista. Inesperadamente, ele se vê comandando uma estação falida.

Fissurado nos Rolling Stones, o diretor-jornalista conta apenas com a paixão que tem pelo gênero musical maldito. E, claro, tinha consigo uma equipe doidona. Entre solos de guitarra juvenis e um sinal oscilante, o espectador acompanha o jovem chapado de LSD curtindo um show de rock na plateia. Em seguida, ele recebe uma fita com um sucesso certeiro.

Era o hit “Você Não Soube Me Amar”, a canção bem-humorada do chope e da batata frita gravada pela Blitz, em 82. Mas Luiz Antônio logo adverte: “aqui não vai ter essa de musiquinha de trabalho, aqui a gente não vai ter essa de jabá. Tocou hoje só toca amanhã”. Alice, papel da atriz Marina Provenzzano, o interpela: “e o que a gente vai tocar?” Idealista e obstinado, o jovem responde: “o que ninguém tá tocando: rock. A gente vai ser maldito”.

Ora, qual rádio em sã consciência tocaria aquele rock stoniano mas lupciniano feito por um tal Barão Vermelho? Isso mesmo, apenas “a Maldita”. Ou quem peitaria a indústria fonográfica para dar espaço a um bando de oito caras de nome Titãs? Pior ainda, como lançar os legionários do Centro-Oeste? E esses Paralamas, cujo vocalista, Herbert Vianna, foi interpretado – e de maneira fidedigna – pelo ator Bruno Jablonski, pô-los pra tocar por quê?

Luiz Antonio Mello, diretor da Fluminense FM, afirma no livro “A Onda Maldita” que na estação a grande maioria dos superstars nacionais e internacionais do rock começou suas carreiras no Brasil

Roteiro

O roteiro, escrito por L.G. Bayão a partir do livro autobiográfico “A Onda Maldita”, de Luiz Antonio Mello, contextualiza ainda os fatos políticos transcorridos no início dos anos 80. Havia uma atmosfera de euforia em torno da redemocratização, uma vez que o Brasil se preparava para sair de um regime ditatorial. Há também os bastidores do Rock In Rio, porém a edição de 85 do festival de Roberto Medina – até hoje – é alvo de críticas.

Não houve bandas paulistas (Titãs, Ira! ou Ultraje a Rigor) no line-up. Contudo, “Aumenta que é Rock´n´Roll” compensa com a trilha sonora, feita pelo guitarrista legionário Dado Villa-Lobos. Inclusive, o músico participa da história por ter sido integrante da Legião Urbana, grupo forjado pelo lema punk “do it yourself” – antes de ir para o Rio de Janeiro, a banda liderada por Renato Russo tentou o sucesso se mudando para São Paulo.

“Geração Coca-Cola”, da Legião Urbana; “Meu Erro”, dos Paralamas; e “Aumenta que Isso Aí é Rock ’n’ Roll”, de Celso Blues Boy, fazem parte da trilha. O nome do filme, aliás, foi tirado do rock lançado por Blues Boy no disco “Som na Guitarra”, de 1984. É dele também versos que podem se aplicar ao espírito daquela rádio: “Sua mãe não trabalha pra você virar um marginal/ é certo que você nada fez”. Cazuza também canta na canção “Marginal”.

Luiz Antonio Mello, diretor da Fluminense FM, afirma no livro “A Onda Maldita” que na estação a grande maioria dos superstars nacionais e internacionais do rock começou suas carreiras no Brasil. O fotógrafo Maurício Valladares apresentou ao público nacional bandas que faziam sucesso no exterior, caso do U2 e The Cure – bem como os estilos dub e ska. Lá, a revolução se estendeu ainda às mulheres, pois foi a primeira emissora a tê-las na locução.

Ou seja, “A Onda Maldita” – com direção segura e atuações didáticas – chega para despertar a juventude contemporânea à música de espírito rebelde, mostrando que o rock tem, sim, espaço no coração e nas mentes dos jovens. Porque – como dizia o vocalista, guitarrista e compositor Roberto Frejat dentre os anos 80 e 90 – o rock’n’roll pode até ficar envelhecer, mas nunca se verá o gênero maldito velho. Demodê, então, é certo que jamais.

Aumenta que é Rock´n´Roll

Direção: Tomás Portella

Elenco: Johnny Massaro, Marina Provenzzano

Duração: 114 minutos

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