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CULTURA

“Nosso trabalho é tornar o invisível visível”

Wilson Silva

Especial para o DM

“4 diretoras e 20 diretores em competição. Quando haverá uma programação conjunta? Tristeza, cansaço e raiva.” Assim um dos cinéfilos comentou em rede social a lista de filmes selecionados pelo Festival de Cannes que, como em todos os anos, é motivo de ansiedade, orgulho para uns, frustração para outros, e polêmica para todos, alimentando o folclore e as fofocas em torno de um dos setores que ainda catalizam um mundo cada vez mais fragmentado. 

Copresidente do coletivo 50/50, observatório da igualdade criado em 2018 para promover a paridade e a diversidade na indústria cinematográfica, Julie Billy defende por meio de suas escolhas artísticas uma visão ousada e humanista do cinema. Ela é produtora e militante na França, que se orgulha de ter uma indústria de cinema pujante.

Então você acha que o cinema tem o poder de mudar o mundo?

O cinema tem o poder de representar o mundo. O impacto social do cinema como um lugar de debate, troca e compartilhamento é fundamental. Quando fechamos os cinemas, quando decidimos deixar de exibir filmes em uma emissora de televisão, evitamos um possível encontro com o outro e participamos claramente do empobrecimento do pensamento coletivo e do tecido social.

Que açoes concretas podem ser citadas?

O cinema também pode desempenhar um papel ecológico. Trabalhamos com uma consultoria que visa reduzir o impacto ambiental da indústria audiovisual por meio da criação de novos ecossistemas de produção. Os materiais de cena são confeccionados com materiais reciclados, foi implantada a coleta seletiva com objetivo de zero de plástico. O engajamento social também tem a ver com transmissão.

Você acredita ser possível um cinema popular e de autor?

Defendo primeiro, com a minha cinefilia, tanto os filmes populares e como os de autor. Sempre me recusei a me opor aos dois. Defender esses valores significa defender um cinema de autor exigente. E popular.

Você defende diversidade com as criações sucessivas de duas estruturas, associação Le Deuxieme Regard e o coletivo 50/50.

Em termos de forma, o meu compromisso consiste em tentar fazer um espaço de paridade e diversidade. Criamos a associação Le Deuxieme Regard em 2010, uma rede de profissionais que visa promover o papel das mulheres na indústria, organizando eventos. Na época, disseram-nos: "Mas ei, há muitas mulheres no cinema. Então começamos a contar. Os números falam: 50% alunas, 34% cineastas, 23% cineastas, 5% cineastas com orçamentos superiores a 6 milhões de euros. O teto de vidro do cinema, a gente não corta.

Como o coletivo colabora na pratica para maior diversidade?

Há 3 anos, meu compromisso como copresidente do coletivo com Laurence Lascary e Sandrine Brauer, também produtores, tem consistido no lançamento e acompanhamento de iniciativas e ações positivas em prol da diversidade e da igualdade. Por exemplo, com a criação da bíblia 50/50, temos um guia que permite ir ao encontro das necessidades dos produtores que pretendem diversificar o seu conjunto e “não sabem onde encontrar o povo”. Nosso trabalho é tornar o invisível visível.

Wilson Silva escreve sobre cinema para o DM

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