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Jimi Hendrix eternizou a utopia da contracultura

Se Eric Clapton é o deus da guitarra, Jimi Hendrix é o capiroto: mais transgressor, mais arrojado, mais sensual, mais amor, mais foda... Hendrix acrescentou boas doses de LSD ao blues clássico tocado no delta de Mississippi. Referência ainda hoje para quem quer tirar uma onda como guitarrista ou tenha a pretensão de levar esse ofício a sério, o músico norte-americano estabeleceu uma relação com a música que poucos são capazes de compreender, e o motivo à primeira vista parece simples: Hendrix era uma torrente que pulverizou as notas do protesto contra a artilharia do Tio Sam no front asiático durante os anos de Guerra do Vietnã.  

Mesmo depois de misturar álcool e barbitúricos e sair de cena aos 27 anos, Hendrix figura no topo de qualquer lista sobre os maiores nomes do rock que se diga séria. Pelos seus brilhantes dedos e pelo seu inconfundível pedal wah-wah, ele produziu sons inéditos a partir do uso peculiar de efeitos antes renegados, como microfonia e distorção, criando uma magia densa, espiritual, mística e sexual. A faixa “Are You Experienced”, por exemplo, fundiu dois gêneros musicais completamente opostos: o heavy metal (cuja consagração rolaria em 1970 com o Black Sabbath) e o jazz-fusion (no mesmo ano, pelo trompete de Miles Davis).

Dono de um insaciável apetite por sexo e drogas, Hendrix tocou ao longo dos anos 1960 em bandas de estrelas negras do soul (como Wilson Pickett, Sam Coocke) e do rock (mandou ver como músico de apoio do pioneiro do gênero, Little Richard). Mas a verdade é que ele apareceu do nada, aparentemente na Inglaterra, com o grupo The Jimi Hendrix Experience – banda que teve vida curta, mas goza de papel essencial na história do rock and roll. No ano seguinte, já sob os holofotes da fama, Hendrix propôs uma reinterpretação matadora da psicodelia, gênero que estava em alta à época com Jefferson Airplane, Grateful Dead e a galera de San Francisco.

O músico, conhecido pelo seu peculiar gosto pela moda, vestia-se de maneira chamativa, com roupas coloridas e exuberantes, bandana na cabeça (geralmente vermelha) e anel nos dedos. Em suas passagens pelos palcos, Hendrix impressionava o público com o ímpeto descaralhante com que se apresentava. Certa vez, durante um show no Festival de Monterey em 1967, ele tocara guitarra com os dentes e botara fogo no instrumento. Tantas situações pitorescas, como se imaginava, foram responsáveis por alçá-lo ao status de astro do rock, chegando a disputar os holofotes com Beatles e Stones – a essa altura fenômenos do showbusiness.

Fruto de um contexto pós-macarthismo, Hendrix deixou-se influenciar pelas questões que estavam em alta nos espaços de discussão da época. No auge da Guerra do Vietnã, conflito armado que levou milhares de jovens para a morte, o músico tocou uma versão antológica do hino americano em sua guitarra no festival de Woodstock (1969) e recriou o som das bombas e tiros em “Machine Gun”, canção gravada pela Band Of Gypsys, trio formado por músicos de soul. Ambos os momentos são considerados por críticos um retrato sincero da sociedade americana, além de serem documentos históricos. Hendrix, portanto, é o guitarrista da contracultura.

Estupefatos

Em 1967, Eric Clapton, então guitarrista da banda The Yardbirds, e Pete Townshend, do The Who, ficaram impressionados ao assistirem Hendrix tocar após serem levados por Chas Chandler, ex-baixista do The Animals, que o conhecia de Nova Iorque. Clapton teria se virado para Townshend e falado “acabou para a gente”. Não acabou. Pois o músico norte-americano fazia algo que até aquele momento parecia inimaginável. Hendrix, de fato, acreditava que havia bastante coisa a ser explorada nas possibilidades propostas pelo universo da guitarra elétrica. E foi isso que ele fez. Passadas cinco décadas, ele continua reinando no panteão dos gigantes.

Nascido em 27 de novembro de 1942, Hendrix estava num quarto subterrâneo de um hotel pouco glamouroso em Londres. A mulher que o acompanhava era Monika Dannemann, alemã bem-nascida, patinadora que aposentou-se por causa de uma lesão. Eles haviam se conhecido um ano antes e tinham se visto poucas vezes. Após a morte do músico, pelo menos de 20 álbuns foram lançados desde aquele 18 dia de setembro. No Brasil, ganhou uma homenagem do cantor Tom Zé, em “Jimmy, Renda-se”, música que integra o LP “Tom Zé”, de 1970. Curiosidade: a tropicália foi diretamente influenciada pela sonoridade de Jimi Hendrix. Viva Hendrix!

Jimi Hendrix em três músicas

Hey Joe

“Hey Joe”, imortalizada pelo guitarrista, trata-se de uma canção de 1962 escrita pelo músico norte-americano Billy Roberts. Aborda um assassino que sai para matar uma mulher com a complacência do narrador, uma letra que não passaria incólume em 2020.

Little Wing

Suas origens remontam à gravação de 1966 de “(My Girl) Maybe a Fox”, um R&B que mostrava toda a inspiração que Hendrix tinha em Curtis Mayfield. Ele criou a música enquanto se apresentava no Greenwich Village de Nova York. Uma vez terminada, a música foi gravada pelo Jimi Hendrix Experience. Faz parte de “Axis: Bold as Love”.

Hino Nacional dos Estados Unidos

Entrou para a história a versão amplificada que o guitarrista tocou no festival de Woodstock. Hendrix deu voz aos anseios da paz e as críticas à Guerra do Vietnã. A simulação de bombardeios e tiros a partir da microfonia da guitarra é um dos atos mais geniais já feito.

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