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Filme reconta a história dos últimos soldados da Guerra Fria

Em dezembro de 1991, a derrocada da União Soviética diluiu a utopia socialista de um mundo mais justo, sem opressão, com o fim do Estado e daquela exploração burguesa à qual teorizou Karl Marx, onde todos viveriam com dignidade. Era o sonho de que a exploração da vida pelo capital chegaria ao fim. Ledo engano, a revolução. O que se viu foram assassinatos de opositores e um projeto de poder banhado em sangue. Mas, mesmo com todas as intercorrências da História, a superpotência que ajudou a derrotar a carnificina nazista, no apagar das luzes da Segunda Guerra, desmanchou-se como quem vira as páginas de um velho livro.

O desmantelamento da URSS levou a economia cubana à lona, com uma queda significativa do Produto Interno Bruto (PIB). A solução encontrada pelo regime de Fidel Castro para sair da crise, entre outras coisas, foi abrir o país caribenho para o turismo estrangeiro, setor que era até então inexplorado. À medida que crescia o número de hóspedes na recém estruturada rede de hotelaria, a extrema direita se excitava com as draconianas tentativas de boicotar o suspiro de dignidade da ilha. Em cinco anos, contabilizou o jornalista Fernando Morais em “Os Últimos Soldados da Guerra Fria”, foram 127 ataques terroristas articulados por anticastristas.

Confira as primeiras críticas de Wasp Network: Rede de Espiões!
Ator Wagner Moura em cena do filme 'Wasp Network' - Foto: Divulgação/ Netflix

Moraes, repórter tarimbado pela labuta nas principais redações do País, lançou a obra – um misto de romance-policial com o rigor jornalístico que apenas os gênios detém – pela editora Companhia das Letras em 2011. Foi o suficiente para que o produtor Rodrigo Teixeira se encantasse com a narrativa (real) de cubanos que se infiltraram numa rede anti-Fidel Castro baseada na Flórida, nos anos de 1990. Daí até o texto ir parar nas mãos do diretor francês Olivier Assayas foi um passo. Fã do trabalho de Assayas, Teixeira não teve dúvidas: ele seria o cara ideal pro projeto. E o réalisateur por trás da minissérie “Carlos” aceitou prontamente o convite.

Após ser exibido no festival de Veneza no ano passado e abrir a 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, “Wasp Network” chega nesta sexta-feira (19) ao catálogo da Netflix. E o elenco é uma constelação de atores latinos de ponta: a espanhola Penélope Cruz, o mexicano Gael García Bernal, o argentino Leonardo Sbaraglia, o venezuelano Edgar Ramírez e o brasileiro Wagner Moura – amado e odiado neste Brasil repartido entre a cultura e a ignorância. As cenas foram rodadas em Cuba e mostram um envolvente suspense político em que rebeldes e desertores da ilha convidam o espectador a desatar o nó das nuances e lealdades volúveis.

A história começa no início da década de 1990, quando o piloto cubano René González (Edgar Ramírez) rouba um avião e foge do país, deixando para trás a esposa (Penélope Cruz) e a filha. Ele começa sua vida em Miami, cidade onde as figuras contrárias ao regime de Fidel Castro costumam se estabelecerem. No sul da Flórida, forma uma rede de espiões, a Rede Vespa, cuja missão é se infiltrar em organizações de ultra-direita que se opõem ao castrismo. Liberada pelo agente pró-Castro Geraldo Hernandez (Gael García Bernal), o grupo de espionagem tem como objetivo observar e impedir ataques a república socialista caribenha.

Trata-se, isso sim, da trajetória dos Cinco Cubanos, oficiais do regime de Fidel Castro, como González, que tiveram um desfecho trágico: os agentes acabaram sendo presos na Flórida em setembro de 1998 e, na sequência, foram condenados por espionagem e outras atividades ilegais. Foi um julgamento cheio de acusações, dos dois lados. À primeira vista, pode parecer que o filme – embora eletrizante – seja um thriller político típico dos anos de Guerra Fria. Acontece, no entanto, que com a América dividida de Donald Trump, “Wasp Network” se faz mais atual do que nunca em tempos onde governantes ressuscitam narrativas de outrora.

Há até pouco tempo a economia cubana dependia de recursos do Brasil e da Venezuela. Com a queda de Dilma Rousseff em 2016 e a eleição de Jair Bolsonaro dois anos depois, a mão financeira brasileira deixou de ser estendida, e a ilha de Fidel voltou a conviver com embargos econômicos. Em “Wasp Network”, os realizadores não escondem a paixão com que veem a luta de muitos adeptos do regime em defender o socialismo. Também, no entanto, revelam as dificuldades a que são submetidos a população desde a década de 1990, como foi documentado por Leonardo Padura e Pedro Juan Gutierrez em suas obras. “Wasp Network”, por isso e muito mais, deve ser visto.

Ficha Técnica

‘Wasp Network’

Diretor: Olivier Assayas

Gênero: suspense político

Disponível na Netflix

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