Home / Cultura

CULTURA

‘Raimundo Fagner & Zeca Baleiro, 2002’ é raridade musical do começo ao fim

No início da década passada, os cantores Fagner e Zeca Baleiro estavam em momentos diferentes de suas carreiras: Zeca ainda despontava no cenário da Música Popular Brasileira (MPB), enquanto o camarada já era um nome conhecido na cena nacional, com sucessos acachapantes nos anos de 1970 e 1980. No entanto, foi nesta época que os dois se encontraram, passaram a tocar juntos e resolveram se tornar parceiros.

Nos anos 2000, ambos descobriram uma sintonia bacana e caíram na estrada com um show intimista numa miniturnê que passou por oito cidade brasileiras. Portanto, o mais novo disco da dupla trata-se de um registro informal, sem preocupação, ao estilo voz e violão, sonoridade simples, bela... Assim é que foi concebido o disco “Raimundo Fagner & Zeca Baleiro”, lançado em 2020 pelo selo Saravá Discos. O álbum, da primeira à última canção, revela a crueza da dupla.

Registro informal de uma apresentação feita em Brasília (DF) em 2002, o disco chegou às plataformas de streaming na última sexta-feira (17), com dez músicas tocadas no show e mais outras duas-faixas bônus que foram gravadas não faz muito tempo em estúdio. Críticos dizem que a habilidade na captação do som é invejável, parece que Fagner e Zeca estão fazendo uma serenata enquanto você bebe uma cerveja após findar o trabalho.

E é: olhe que em tempos digitais, o áudio tinha tudo – e mais um pouco – para ficar, digamos, um tanto zoado, meio antiquado, etecetera e tal. Não foi isso que rolou, porém.

O álbum tem seus méritos e triunfos musicais, a começar pela “Canção Brasileira”, composição de Sueli Costa e Abel Silva, gravada por Fagner em 1980. Até “Dezembros”, bela música por conta de sua letra lindamente melancólica e seu arranjo guiado por violões e piano, é – para o fã do cantor mais arguto – a melhor música do disco.

Mas detalhe: ela é interpretada por Zeca Baleiro, que imprimiu à canção seu DNA.

Mesmo sendo um dos tesouros, a música à época estava em construção. Os versos cantados por Zeca e Fagner não eram aqueles que se tornaram conhecidos por integrar a trilha sonora da novela global “Da Cor do Pecado” – depois o cearense modificou aqui e ali, ali e acolá e a canção ganhou a cara que conhecemos -, mas ainda assim faz um bem danado ao nosso ouvido mal tratado pela verborragia de certas duplas que invadiram as paradas de sucesso.

O medley “À flor da pele”, composição de Zeca Baleiro, de 1997, eternizada na voz de Gal Costa, também é uma das coisas boas do disco. Sucesso radiofônico setentista romântico de Fagner, “Revelação”caiu como uma luva de pelica na tonalidade vocálica de Baleiro, diluindo as misturas dos repertórios e mostrando por que o mais novo álbum ao vivo dos dois é bom, e por que ele deve ser ouvido à luz da trilha sonora da pandemia.

Zeca e Fagner destilam poesia e lirismo acompanhados por músicos como Adelson Viana (piano e acordeon) e Tuco Marcondes (violão e guitarra). “Você rasga os poemas que eu te dou/ mas nunca vi você rasgar dinheiro”, canta Fagner, acompanhado leve e sutilmente por um piano. “Belinha canção do parceiro”, define o autor de “Dezembros”.

“Orgulho”, de Paulinho da Viola e José Carlos Capinan, é uma espécie de viagem de musical à poética que marcara o nome de Fagner entre os grandes da história da Música Popular Brasileira. “Cebola Cortada”, composição creditada a Clodo Ferreira e Petrucio Maia, confirma toda a intensidade que marca esse raro de registro ao vivo de um show dos dois.

“Raimundo Fagner & Zeca Baleiro” conta ainda com dois bônus de estúdio, bons bônus, é importante lembrar, que caem bem ao tom e ao repertório do disco. No entanto, o real valor da obra estão resguardados às regravações do samba “O Meu Amor Morreu”, de Luiz Marçal de Aquino”, sucesso na voz de Paulo Diniz, e a balada “Quando O Sol”, outro achado musical.

Só uma coisa consigo dizer do disco: “Ao Vivo em Brasília, 2002” reafirma a afinidade musical de Zeca Baleiro e Raimundo Fagner. É um achado, é um registro interessante de um show que exalta a mais bela poesia da cortinute, é um bom álbum para ser ouvido em tempos esquisitos. Zeca e Fagner são como Sócrates e Casagrande.

Ficha Técnica

“Raimundo Fagner & Zeca Baleiro”

Artista: Fagner e Zeca Baleiro

Gênero: Música Popular Brasileira

Gravadora: Saravá Discos

Disponível nas plataformas de streaming

Leia também:

  

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias