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Bob Dylan canta a morte de John Kennedy em nova música

Robert Allan Zimmerman, mais conhecido como Bob Dylan, é a antena de sua geração. E um dos nomes mais famosos da música mundial, um grande nome. Cantor e compositor de alta carga poética, Dylan levou ao delírio 50 mil jovens que assistiam o Festival de Newport de 1963, no Estado de Rhode Island, Estados Unidos. Consagrou-se pelas letras politicamente engajadas e inovadoras aliadas ao jeito incomum de cantar, explorando ao máximo sua voz anasalada. “Blowin´In The Wind” ganhou status de hino para a juventude norte-americana por tratar o clima de rebeldia contra as turbulências sociais do período.

Fã do poeta galês Dylan Thomas, o cantor se consagrou mundialmente na década de 1960 com os discos “Highway 61 Revisited”, de 1965, e “Blonde on Blonde”, do ano seguinte, mas foi com “Nashville Skyline”, de 1969, que ele impressionou críticos e fãs ao redor do globo: a primeira faixa é “Girl From The North Country”, o famoso dueto com o cantor Johnny Cash. No entanto, o compositor de “Ballad of a Thin Man” passou boa parte dos anos de 2010 em um hiato musical que durou oito anos, embora tenha feito discos aqui e ali com gravações clássicas de outros artistas que marcaram época.  

Foto: Divulgação

O último disco lançado por Dylan foi “Tempest”, em 2012. Agora, em meio à crise do coronavírus, o cantor ressurge com uma música de 16 minutos e 56 segundos sobre o assassinato do presidente John Kennedy, morto no dia 22 de novembro de 1963 em Dallas após ser atingido na cabeça pelo ex-marinheiro Lee Harvey Oswald, preso no mesmo dia. O título da música, “Murder Most Foul”, é uma expressão intraduzível do dramaturgo William Shakespeare. O autor de “Hamlet” e “Romeu e Julieta” conta que assassinatos são horríveis, mas esse é mais horripilante que o habitual, já que foi cometido pelo próprio irmão.

Mas, reacendendo a pergunta do jornalista Ivan Finotti na Folha de São Paulo, “Murder Most Foul” é uma música? Bom, para começar, não há um refrão, os versos mais parecem um poema de Allen Ginsberg, mas essa opção estética (literariamente falando) é bastante comum na obra de Dylan. Basta o leitor botar no auto-falante a fila de clássicos sessentistas (os já citados nesta matéria e os outros) para ouvir. Harmonicamente, a canção conta com piano, baixo, bateria e violino. A voz do do cantor está grave e nem tão anasalada. Mas é estressante a tentativa de decorar os versos para cantá-los em casa, por exemplo.

“Murder Most Foul” é uma obra fabulosa. Primeiro: Dylan começa declamando o tiro que “explodiu” a cabeça de Kennedy (“Then they blew off his head while he was still in the car”, “Eles explodiram sua cabeça quando ainda estava no carro”, em tradução livre). Nas próximas estrofes, o cantor faz referência a primeira onda da Invasão Britânica, especialmente quando os Beatles tomaram as rádios dos Estados Unidos na primeira metade dos anos 60 (“The Beatles are coming', they're gonna hold your hand”, algo como “Os Beatles estão chegando, vão segurar a sua mão”). Há ainda referência ao festival de Woodstock e, mais à frente, ao jazz de Thelonious Monk, Charlie Parker e Nat King Cole.

Apresentação de Dylan no Festival de Newport de 1963 levou ao delírio 50 mil jovens - FOTO:  Rowland Scherman

Até Etta James e John Lee Hooker, expoentes do blues norte-americano e responsáveis por influenciar o rock inglês, são citados pelo poeta (“Play Etta James, too, play”, em tradução: “gogue também Etta James, jogue Eu preferiria ficar cego” e “Play John Lee Hooker, play”, algo como “jogue, John Lee Hooker, jogue”). Dylan faz também referência à ópera-rock “Tommy”, da banda The Who, um dos clássicos eternos do rock, além de “Don't Let Me Be Misunderstood”, sucesso do The Animals (“Trata-se de um passeio, uma viagem, um rolê pela história dos grandes gênios que marcaram a cultura pop – e até a cultura norte-americana – nas décadas de 1950”, em tradução livre).

“Murder Most Foul” mostra, de uma vez por todas, que Bob Dylan é um dos maiores expoentes da contracultura norte-americana. De certo modo, a música é um tapa na cara daqueles que ainda cismam em definir a música de Dylan como arrogante, presunçosa e petulante. Acredite, o passeio pela história, pela importância e pela relevância dos maiores nomes das artes do século passado apenas exemplifica a importância do poeta (Nobel da Literatura, é bom lembrar) para a cultura pop. Em tempo: Bob Dylan, para fazer uso de uma expressão de Finotti, é a maior antena dos anos 60. “Murder Most Foul” prova isso.

Ficha técnica

‘Murder Most Foul’

Autor: Bob Dylan

Gênero: Folk, poesia falada

Disponível nas plataformas de streaming

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