Home / Cultura

CULTURA

Aos 82 anos, Martinho da Vila se prepara para lançar novo livro e disco

Um dos maiores nomes da história do samba, o cantor, compositor, poeta e escritor Martinho da Vila ganhou notoriedade na década de 1960 pelos seus discos conceituais, com uma ideia costurando o repertório e ligando uma música a outra. Aos 82 anos, ele não para de trabalhar. Prepara-se para lançar um livro e desde 1967 produz pelo menos um disco por ano. “Estou preenchendo os dias de recolhimento domiciliar para escrever. Um novo livro está quase pronto”, revela o sambista, com exclusividade, ao Diário da Manhã. Mas, Martinho, vem cá, e a música? Ué, “tenho um trabalho musical pronto para ser lançado”.

Nascido no dia 12 de fevereiro de 1938, em Duas Barras, no Rio de Janeiro, Martinho José Ferreira começou a trilhar o caminho para entrar no mundo da música aos 15 anos, quando se matriculara no curso de auxiliar químico industrial do Senai. No entanto, o negócio de Martinho sempre foi o universo das artes. Em 1954, já estando no Exército, o jovem venceu o primeiro concurso de samba enredo pela Escola de Samba Aprendizes da Boca do Mato. Treze anos depois, iniciou sua carreira musical no III Festival da Música Popular Brasileira da TV Record, cantando a canção “Menina Moça”.

Martinho se apresenta na casa de shows Asa Branca, na Lapa, no Rio de Janeiro - FOTO: ANIBAL PHILOT/ AGÊNCIA O GLOBO

Nesta época Martinho entrara para a ala de compositores da escola de samba Vila Isabel, compondo o enredo vencedor “Carnaval de Ilusões”, em parceria com o compositor Gemeu, que o ajudou a conquistar o quarto lugar. Paralelamente à carreira de músico, aventurou-se pelo universo da literatura, tendo lançado 15 obras para públicos variados, como infanto-juvenil (“Vamos brincar de política?”, de 1986), passando por histórias familiares (“Memórias Póstumas de Teresa de Jesus”, de 2002), entre outros. A paixão pela literatura foi aflorada em 1959, ao compor um samba-enredo sobre o escritor Machado de Assis.

Em comemoração aos seus 82 anos, o cantor lançou em fevereiro último o disco “Martinho 8.0 – Bandeira da Fé: Um Concerto Pop-Clássico”, registro ao vivo do concerto que Martinho fez no Theatro Municipal, entre os dias 2 e 3 de novembro de 2018 - trabalho está disponível nas plataformas de streaming. Dirigido pelo produtor João Wlamir, o show é dividido em duas partes. A primeira finaliza com a exibição do samba enredo da porta-bandeira e do mestre-sala da Unidos de Vila Isabel. Já a segunda acaba com um uma referência a Zumbi dos Palmares, principal representante da resistência negra contra a escravidão.

“Foi um evento pop/clássico, comemorativo dos meus 80 anos, com músicos populares e a Orquestra Filarmônica Rio regida pelo Maestro Leonardo Bruno e dirigido pelo por João Wlamir”. Para Martinho, a separação tradicional da música popular e clássica é uma bobagem. A prova disso é que “Martinho 8.0” conta com participação especial do rapper Rappin Hood e da pianista  Maíra Freitas. “O Rappin Hood representou outra vertente do popular e a Maíra é pianista com formação erudita”, adianta. Clássicos como “Escuta, Cavaquinho” e “A Tal Brisa da Manhã” fazem parte do repertório.

“Fiz esse samba dois anos antes do Dante de Oliveira entrar com aquele projeto para eleição direta, aquele evento que eu participei desde o primeiro momento, mas o duro é que não deu em nada. Só teve quando o pessoal quis. É isso”, diz Martinho, aos risos, no final da música “Meu País”, ressaltando sua conhecida faceta politizada. Martinho, aliás, é filiado ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e músicas como “O Pequeno Burguês” tecem bem-humoradas críticas à elite brasileira, escancarando a luta de classes. “Burgueses são vocês, eu não passo de um pobre-coitado”, canta.

Mas e a vida, Martinho, como está? “Segue normal, devagar devagarinho como sempre, com exceção do momento atual em que tudo foi paralisado pelo fantasma do coronavírus”, conta.  Com mais de oito décadas de samba e literatura, Martinho da Vila é um dos nomes mais respeitados da Música Popular Brasileira (MPB). Por essas e por outras, não há como contar a história do samba sem esbarrar no nome do cantor, compositor, poeta e escritor. “O futuro começa agora e é uma incógnita”, sentencia. Sim, é. Mas que podemos se deliciar com o samba de Martinho, podemos. Ainda bem.  

Ficha técnica

‘Martinho 8.0 – Bandeira da Fé: Um Concerto Pop-Clássico’

Autor: Martinho da Vila

Gênero: Samba

Disponível nas plataformas de streaming

Capa do disco - Foto: Divulgação

Mais vídeos:

Leia também:

  

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias