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Canal aberto volta a exibir filmes não explícitos

Depois de quase uma década distante da TV aberta, os filmes eróticos retomaram seu espaço nas madrugadas no último dia 24, através do consagrado Cine Band Privé, que imortalizou personagens como Emmanuelle (Sylvia Kristel) e, posteriormente, Justine (Daneen Boone).

A explicação para a retomada desse tipo de conteúdo, numa era onde a pornografia explícita em suas variadas nuances, pode ser acessada de forma instantânea, está numa aposta de nostalgia: para muitos jovens e adolescentes que percorreram a saga dos anos 1990, tais filmes sintetizam um transporte à misteriosa, e proibida, atmosfera da sexualidade daquele período, não documentada com tantos detalhes gráficos, constantemente atualizados a cada nova produção do cinema pornográfico.

Aparentemente, o impulso nostálgico da Rede Bandeirantes trouxe bons frutos: o filme “Emmanuelle 2: a antivirgem”, de 1975, fez crescer a audiência da emissora em 150% em relação à semana anterior, quando ainda exibia filmes “comuns” na faixa da madrugada de sábado para domingo.

No longa, a personagem principal se desloca até Hong Kong, na China, para encontrar seu marido (com quem mantém um casamento aberto), e acaba descobrindo a presença de um hóspede que desperta seu interesse. A seleção de filmes, apresentada pela Band durante os 15 anos em que exibiu o Cine Privé, deve permanecer a mesma, de acordo com matéria publicada pela Folha de São Paulo no último dia 7, que diz que a emissora não pretende renovar seu catálogo.

Misticismo

Lembro de uma tarde de domingo em que jogava pingue-pongue com alguns primos mais velhos, em meados da virada do milênio. Além de comentar com detalhes o enredo do filme exibido pela Band na noite anterior, eles também traçavam um paralelo dos melhores filmes já exibidos pelo canal.

Cena do filme Erotismo Virtual (1996)

O desenrolar da conversa transitou por outro oásis da pornografia adolescente da época: as sessões proibidas das locadoras. Aquele que podia descrever a experiência de assistir um pornô “de verdade” acabava ganhando bastante atenção na assembléia – “Meu pai costuma alugar algumas fitas de vez em quando, o que me permite assisti-las quando não tem ninguém em casa”, comemorou aquele cujos olhos desvendaram de maneira explícita o poder do sexo filmado.

Minha primeira experiência com Cine Privê aconteceu de forma bastante tardia, em algum réveillon do início da década de 2000 – para mim era complicado ficar acordado até muito depois da meia-noite naquela época. Alguns dos meus amigos reclamavam dos filmes mais recentes e da ausência de Emmanuelle no catálogo, mas a experiência não foi das piores.

Lembro-me até hoje do nome do filme: “Erotismo virtual” – uma espécie de ficção científica barata, misturada com doses fitoterápicas de sedução e mistério. De certa maneira, era intrigante observar que a trama lidava com temas ainda obscuros, como óculos de realidade virtual. Há poucos segundos, descobri que trata-se de uma produção de 1996, dirigida por Gary Hudson.

Sinopse

A complexidade da sinopse do filme me surpreendeu um pouco, e narra um assassinato durante uma sessão de sexo virtual. Não me lembrava de tantos detalhes: “Aparentemente, o amante charmoso, Tam, morreu durante sua última sessão de realidade virtual no clube V.R. O legista acredita que ele morreu de insuficiência cardíaca, mas a detetive Drew Malache não concorda", diz o texto.

Cena de Justine: o prazer da sedução (1996)

"Para provar que Tam foi assassinado, ela veste o traje de eletrodos V.R e se conecta aos disquetes de realidade virtual de Tam. Ao ouvir e assistir tudo, ela se torna parte das sessões dele e ele começa a falar com ela sobre sua morte - e outras coisas”, completa. A personagem principal, detetive Drew Malache, é interpretada pela atriz Kate Rodger.

Naquele período, a pornografia já buscava formas mais intensas para se estabelecer no mercado. Não era incomum encontrar revistas explícitas descartadas na beira da calçada, mas o famoso Cine Privê continuava intrigando a mente dos jovens. Saltando cerca de 10 anos no tempo, lembro de uma festa de família mais ou menos em 2010.

Um dos parentes foi questionado por outro em relação ao diálogo com seus filhos (pré-adolescentes do sexo masculino) sobre sexualidade. A resposta foi mais ou menos nesse rumo: “Não preciso explicar nem ensinar nada, já está tudo filmado”.

Naquele evento, nada foi discutido sobre o conteúdo, e a forma objetificada de apresentação das mulheres nesse tipo de conteúdo gráfico, tampouco sobre a importância de incentivar as novas gerações a se comportar de forma menos egoísta e predatória, a procurar conhecer o corpo feminino e a proporcionar prazer às suas parceiras. Tudo parecia estar ligado ao clássico mecanismo insípido do sexo, como se homens tivessem uma necessidade biológica a ser suprida pelas mulheres, e ponto final.

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