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Woodstock completa 50 anos

Ninguém entre o público de 400 mil pessoas tinha mais de 30 anos quando ficaram acampados no ‘meio do mato’, comendo, bebendo, dormindo e transando ao ar livre. E, como estamos careca de saber, fumando maconha e tomando LSD.

Até hoje os registros que se tem do Festival de Woodstock apontam o evento como o maior símbolo da paz de todos os tempos, e a grande manifestação da contracultura – que desabrochara uma década antes com a prosa do escritor Jack Kerouac e os versos do poeta Allen Ginsberg.

Realizado entre os dias 15 e 18 de agosto de 1969 na fazenda Max Yasgur, no Estado de Nova Iorque (EUA), o festival é considerado um ato político contra a Guerra do Vietnã, que mandava os jovens para a morte em um conflito armado na Ásia que durara à época quase 20 anos.

A trilha sonora tocava artistas do calibre de Creedence, The Who, Jimi Hendrix, Joe Cocker, Santana, Janis Joplin, Jefferson Airplane, entre outros nomes. Com um som desses no line-up, o acesso ao rolê era congestionado e quem foi de carro teve de enfrentar quilométricas filas de congestionamentos.

Público que frequentou o festival não tinha mais de 30 anos - FOTO: REPRODUÇÃO

Ao todo, foram vendidos 186 mil ingressos antecipadamente, com valor de US$ 18. Boa parte do público, contudo, teria ‘metido o louco’ e pulado a cerca, assistindo o festival de graça e se esbaldando com o clima de liberdade.

Mas Woodstock não chegou a ser o primeiro evento de música a acontecer em pleno ar livre, na década de 1960, e muito menos o grande evento da cultura hippie. Para a maioria, o grande acontecimento continua sendo o Festival de Monterrey, realizado na Califórnia, no verão de 1967, como o retrato da época.

Apesar dos pesares, hoje Woodstock possui aura mitológica, especialmente por representar o apagar das luzes do movimento hippie. Tal episódio foi narrado pelo jornalista Hunter S. Thompson (um dos expoentes da contracultura no meio literário norte-americano) no livro “Medo e Delírio em Las Vegas”, em 1971.

O ‘fim do sonho’ começou em 1969 com o clã de Charles Manson, responsável por cometer assassinatos bárbaros ao som de rock e com a mente cheia de ‘ácido’, matando a sangue frio a Sharon Tate, esposa do cineasta Roman Polanski.

No mesmo ano, o rock foi passou a ser visto com maus olhos durante um show dos Rolling Stones em Altamont, na Califórnia, onde a gangue de motociclistas Hell's Angels matou um negro próximo ao palco.

O festival ‘peace and love’ quase não gerou lucros para os organizadores, que ganharam dinheiro com os áudios e vídeos produzidos sobre o evento. Na memória, temos a imagem de um lamaçal com lixo deixado pelos participantes: Woodstock é mito.

Contexto

69 foi o sopro final de uma geração inconformada pelo apelo armamentista do Tio Sam e de saco cheio dos costumes que seus pais tentavam passar a todo custo. A grande euforia e a utopia que mantinha viva a revolução estava quase terminando, pois os estudantes de Paris tinham acabado com suas barricadas e voltado às salas de aula.

Woodstock reafirmou uma coisa: o desprezo por tudo o que representava e defendia Richard Nixon, figura que estimulava uma guerra contra o comunismo.

Nada representou de forma tão sublime essa rejeição aos delírios do então presidente norte-americano como o uivo estridente da guitarra de Jimi Hendrix clamando o hino nacional dos Estados Unidos entrecortado pelo som das bombas.

Público que compareceu ao festival tinha menos de 30 anos - Foto: Reprodução

Ali, Hendrix passou a ser o detentor do posto de melhor guitarrista de todos os tempos. Richard Nixon, o reacionário líder dos EUA, estava começando a ficar desgastado no cargo mais importante do planeta, e tinha a maioria dos jovens como inimigos número 1.

Com o objetivo de expandir a mente humana, as drogas não surtiram o efeito desejado. E isso foi narrado por Hunter Thompson, em “Medo e Delírio”: “Não... não havia esperança nenhuma de comunicação por ali. Acabei admitindo isso – mas não a tempo de impedir que o doutor das drogas me cantarolasse até o acesso da sua casa e para dentro do meu carro e para a rua morro abaixo. Esqueça o LSD, pensei. Olha só o que ele fez com esse pobre infeliz”, escreveu o jornalista, na obra.

Woodstock foi o começo do fim da contracultura.

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