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Há 30 anos Raul Seixas saía de cena e virava o maior nome do rock brasileiro

Estávamos na entrada do Clube Jaó, no Setor Jaó, quando alguém disse “o Marcelo Nova parece o mesmo cara que despontou com a banda Camisa de Vênus no início da década de 1980”. Lembro-me que estava ali para assistir ao tributo da icônica banda baiana ao cantor, compositor e mestre do rock brasileiro, Raul Seixas (1945-1989), na 23ª edição do Goiânia Noise. Amigo de Raulzito e parceiro dele no disco “A Panela do Diabo”, de 1989, o vocalista do ‘Camisa’ prometia cantar hinos como “Sociedade Alternativa” e “Pastor João e a Igreja Invisível”.

Dois anos depois, enquanto escrevo este texto sobre a relevância estética e musical do roqueiro, rememoro outro período que ficara marcado à memória: a chamada Primavera Estudantil, levante ocorrido entre os meses de outubro e novembro de 2016. Aquele momento ficou conhecido pela ocupação por parte de acadêmicos e secundaristas de vários prédios da Universidade Federal de Goiás (UFG). E o que isso tem a ver com Raulzito? Ora, ouvíamos loucamente “Eu Também Vou Reclamar”, “Ouro de Tolo”, “S.O.S Disco Voador” e outros clássicos do cara.

Raul Seixas continua vivíssimo. Bem, vamos lá, talvez não exatamente vivíssimo... Mas seu legado segue mexendo com a percepção de vários jovens que tem o sentimento de rebeldia inerente à existência. Por décadas e décadas! Quer algo mais foda que isso?! De Barão Vermelho a Pitty: todos são fãs do eterno maluco beleza e veem-no como um gênio! Com uma vasta e criativa produção musical, ele ganhou notoriedade pelo horizonte diverso de sua obra, misturando crítica social e política com misticismo, entusiasmo e aventura.

Considerado sem exagero algum o Rei do Rock Brasileiro, Raul ganhou relevância pela fusão musical que procurou ao longo da carreira. Flertou com o blues raiz do delta Mississipi, mas nunca dispensou a sanfona de Luiz Gonzaga. Também pirou com a guitarra do norte-americano Chuck Berry, mas não menosprezou o tango do argentino Carlos Gardel – basta ouvi-lo no clássico “Tango para a Morte”, e você verá o que digo. Por isso, muitos quiseram dividir o palco com ele e o tinham como um deus.

Seu estilo de hippie, eternizado em entrevistas, tornou-se icônico. Virou o maior representante da contracultura no País (em plenos anos de chumbo dos milicos) e chegou a ser visto pela ditadura como ‘vagabundo’. Compôs com o escritor Paulo Coelho canções que estão no rol dos maiores sucessos da Música Brasileira. Tomou ácido, viajou, bebeu, fumou, cantou, amou... Raul foi um dos artistas mais brilhantes que o País já teve e, certamente, o maior nome do rock brasileiro.

Aos 44, com o diabetes complicado em função do consumo desregrado de álcool, Raul saiu de cena no dia 21 de agosto de 1989, em São Paulo. Nos últimos anos de vida, viajou pelo País em turnê com Marcelo Nova e, ao lado do vocalista do Camisa de Vênus, lançou o disco “Na Panela do Diabo”. Do trabalho, ficou marcada a música “Carpinteiro do Universo”, composição em dueto com Nova, além de outras faixas que até hoje são reverenciadas pelos fãs em geral. 

Pois é, Raulzito. Dos tempos de ocupação da UFG, onde tínhamos a cabeça cheia de sonho e suas músicas eram o nosso guia, até os dias atuais lhe ouvir é um alento. É um ato de resistência, de rebeldia, de deboche, de escracho! Lembro-me que cheguei a importunar uma camarada pela qual era apaixonado de madrugada, com sua música tocando no alto-falante, e eu – obviamente – com os sentidos tocados por um vinho de quinta. Que saudade, Raulzito!

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