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5 filmes, 5 mulheres - O cinema feito por elas

Embora o ato de listar, em inúmeras situações aparenta traduzir mais uma circunstância de exclusão do que eleição, é necessário para pontuar e nortear particularidades pertinentes à vários assuntos de maneira organizada. A lista a seguir levanta o nome de cinco cineastas mulheres que produziram e produzem arte na contemporaneidade e têm seus filmes acessíveis para o público. Reiteradamente, na última semana, ressalta-se a importância de trazer a luz produções realizadas por mulheres, que embora após muita luta tenham seus trabalhos reconhecidos pela crítica, permanecem ocultas ou negligenciadas frente aos grandes blockbusters de produção masculina.

A arte produzida pela ótica dessas cineastas reflete mais do que a força presente na produção feminina, dentro e fora das telas, histórias são contadas e como um berro ensurdecedor, elas afirmam: estamos aqui.

Confira a seguir cinco filmes, e cinco mulheres para conhecer ainda este ano.

Agnès Varda

“Nunca fiz filmes políticos, simplesmente me mantive ao lado dos trabalhadores e das mulheres”.   Agnès Varda

A mítica cineasta da Nouvelle Vague deixou um legado de meia centena de obras audiovisuais e várias instalações artísticas. Seus filmes focavam no realismo documental, ou formas não-ficcionais de mídia, com ênfase no feminismo e em produzir críticas sociais em um estilo experimental. Agnès soube utilizar os avanços tecnológicos e foi uma das primeiras a filmar com câmeras digitais: “Certamente, por meu estilo documental, sou grata pela chegada das câmeras digitais. Por seu tamanho e manejo, por sua facilidade para serem escondidas, me ajudaram muitíssimo”.

Ganhadora do Oscar honorário no mesmo ano em que competiu ao Oscar de melhor documentário com Visages, Villages (2017), sua obra anterior, a realizadora belga dizia que a virada de século significava também sua virada de campo artístico: “Se vocês prestarem atenção, minha carreira se divide em duas partes, a do século XX e a do XXI. Na primeira sou mais cineasta; na segunda, artista plástica”. Para Varda, “os filmes não param o tempo, o acompanham”. No festival de San Sebastián, recebeu o primeiro prêmio Donostia dedicado a um não ator. Além disso, ganhou a Palma de Ouro Honorária de Cannes, em 2015, e o César Honorário do cinema francês, em 2001 (além de outros dois desses prêmios como documentarista).

A indicação para conhecer um pouco do cinema da diretora é:

Uma Canta, a Outra Não (1977)

No auge do movimento hippie, Varda narra a trama de duas garotas opostas: Pauline (Valérie Mairesse) e Suzanne (Thérèse Liotard) que, apesar das diferenças, se tornam grandes amigas. A primeira é livre, espontânea, e torna-se artista de rua - cantando músicas divertidas contra a guerra e em defesa do direito ao aborto - enquanto a segunda investe na vida familiar, casando-se e tendo filhos. Os caminhos diferentes questionam a emancipação da mulher após o icônico maio de 1968.

Sofia Coppola

Nascida em 1971, Sofia é uma cineasta, roteirista, produtora e atriz ítalo-norte-americana. Em 2003, recebeu o Oscar de Melhor Roteiro Original pelo filme Lost in Translation, e se tornou a terceira mulher a ser indicada para um Oscar de Melhor Diretor. Em 2010, com o drama Somewhere, ela se tornou a quarta cineasta dos Estados Unidos (dentre eles a primeira mulher) a ganhar o Leão de Ouro, o maior prêmio no Festival de Cinema de Veneza. Embora paulatino, o processo de reconhecimento de mulheres em grandes festivais é imensuravelmente necessário e urgente.

Sofia voa além de seu sobrenome, embora infelizmente ainda seja trabalhoso não associa-la ao pai, Francis Ford Coppola. Contudo, mesmo com essa herança tão rica e carregada de significado, Sofia conseguiu criar uma atmosfera única com suas narrativas sensíveis, instigantes e de cunho social, fugindo totalmente da estética criada pelo pai. Sua emancipação é digna e sincera. Hoje, com sete filmes em seu currículo, sendo o último, O Estranho que Nós Amamos, que lhe rendeu a Palma de Ouro em Cannes, Sofia conseguiu firmar sua proposta visual, sem cair nas obviedades propostas pela indústria de grande massa.

Para conhecer Sofia, assista:

Maria Antonieta (2007)

O filme conta a história da jovem rainha da França do século XVIII, Maria Antonieta. Sofia baseou-se em um livro biográfico de Antonia Fraser, em detrimento de outro, de Stefan Zweig, alegando que continha uma descrição mais humana de Maria Antonieta.

A princesa austríaca Maria Antonieta (Kirsten Dunst) é enviada ainda adolescente à França para se casar com o príncipe Luis XVI (Jason Schwartzman), como parte de um acordo entre os países. Na corte de Versalles ela é envolvida em rígidas regras de etiqueta, ferrenhas disputas familiares e fofocas insuportáveis, mundo em que nunca se sentiu confortável. Praticamente exilada, decide criar um universo à parte dentro daquela corte, no qual pode se divertir e aproveitar sua juventude. Só que, fora das paredes do palácio, a revolução não pode mais esperar para explodir. Passando por uma grande turbulência, Antonieta perdeu um filho em plena Revolução Francesa.

Anna Muylaert

Seguindo a lista de mulheres que produzem cinema, chegamos no Brasil. Destaque no cinema nacional, Anna é diretora e roteirista, responsável pelos filmes Que Horas Ela Volta? (2015), Mãe Só Há Uma (2016) e É Proibido Fumar (2009) e Xingu (2011). Suas criações também apresentam uma abordagem de cunho social, porém sem interpretações estrangeiras, e sim levando em consideração as questões no Brasil.

A diretora ganhou prêmios no Festival de Sundance e no Festival de Berlim, com o referido Que Horas Ela Volta?, e foi destaque também em Berlim com Mãe Só Há Uma. Suas últimas obras refletem temas polêmicos para a sociedade brasileira, que na maioria das vezes, infelizmente, ainda se mostra preconceituosa com as minorias.

Além de Xingu, para que se aproxime de Anna, assista:

Que Horas Ela Volta? (2015)

O longa de Anna Muylaert trata dos conflitos que acontecem entre uma empregada doméstica do Brasil e seus patrões de classe média alta, criticando as desigualdades da sociedade brasileira. A estreia mundial do filme aconteceu no início de 2015, no Sundance Film Festival, em Utah nos Estados Unidos. O longa brasileiro estreou nos cinemas de sete países europeus, antes de chegar ao Brasil em 27 de agosto de 2015.

Em setembro do mesmo ano, o filme foi o escolhido pelo Ministério da Cultura entre 8 longas brasileiros, para representar o Brasil na disputa pelo Oscar de melhor filme estrangeiro da edição de 2016. Todavia, infelizmente não foi indicado ao prêmio. Já em dezembro de 2015, Que horas ela volta foi eleito um dos cinco melhores filmes estrangeiros do ano pela organização norte-americana, National Board of Review. No mesmo mês, foi eleito o melhor filme do ano e entrou na lista dos 100 melhores filmes brasileiros segundo a Abraccine.

Julia Murat

Carioca de 1979, Fez estágio de assistente de direção de Ruy Guerra em Estorvoe, desde então, não deixou mais a atividade cinematográfica, realizando seus próprios curta-metragens e trabalhando como assistente de direção, edição e câmera. Bacharel em Desenho Industrial na UFRJ (2003), também graduou-se no curso de formação de roteirista da Escola de Cinema Darcy Ribeiro (2004). Em 2006, foi selecionada para o curso de desenvolvimento de projeto cinematográfico da Fundação Carolina e Casa América, em Madri, com o roteiro do seu longa Histórias que só existem quando lembradas (2011), selecionado para o Festival de Veneza, Toronto, San Sebastian e Roterdam, e vencedor de mais de 25 prêmios internationais. Além de dirigir, também produz, monta e escreve roteiros de curtas, médias e longas-metragens. Murat ganha espaço e se destaca entre as diretoras mulheres na cena nacional.

Entre os trabalhos de Julia, conheça:

Pendular (2017)

Baseado na performance Rest Energy, de Marina Abramović, uma aclamada artista nascida na Sérvia, onde ela e Ulay, seu companheiro na época, se equilibravam enquanto ela segurava um arco e ele uma flecha que apontava para seu coração, Pendular joga com os impasses de relação onde as duas personagens principais parecem demasiadamente alheias uma a outra. A intertextualidade com a obra de Abramović tem um enorme significado ao que tange, também, a arte produzida por mulheres.

Ao decorrer da narrativa, em um galpão abandonado, um casal de artistas contemporâneos observa a arte, a performance e sua intimidade se misturarem. A partir de sequentes contradições, eles vão aos poucos perdendo sua capacidade de distinguir o que faz parte dos seus projetos artísticos e o que nada mais é que a relação amorosa, criando até mesmo um conflito com seu passado.

O longa complexo e maduro é repleto de metáforas em seus simbolismos, que exploram a incomunicabilidade do casal em uma modernidade líquida onde relações são construídas a partir de laços efêmeros.

Dee Rees

Dee Rees é uma cineasta e roteirista estadunidense. Tornou-se conhecida pelos trabalhos em Pariah, Bessie e Mudbound, que lhe renderam inúmeras indicações a prêmios renomados, como o Critics' Choice Award e o Emmy Award. Graduada pela Universidade de Nova Iorque, também se destacou em Empire.

Apesar de ter ganhado bastante notoriedade apenas em 2017 com o longa Mudbound- Lágrimas Sobre o Mississipi, produzido pela Netflix, Dee vem faz um trabalho incrível sobre negros nos Estados Unidos desde 2005. Inclusive, para o seu último filme, convocou apenas mulheres para trabalhar na equipe, incluindo a diretora de fotografia Rachel Morrison, que foi a primeira mulher da história a ser nomeada ao Oscar na categoria.

Começando pelo grande desque de Dee, assista:

Mudbound- Lágrimas Sobre o Mississipi (2017)

A tímida Laura (Carey Mulligan) acredita ter tirado a sorte grande quando encontra Henry McAllan (Jason Clarke), um homem um pouco bruto, mas interessado nela. Logo após o casamento, a família se muda para uma fazenda no chuvoso delta do Rio Mississipi. Enquanto Laura enfrenta dificuldades para se adaptar à vida rural, ela é confrontada com uma família negra, os Jackson, responsáveis por ajudar no trabalho pesado com o plantio e a colheita. Duas posições muito distintas se desenham na família: enquanto o pai idoso de Henry, Poppy McAllan (Jonathan Banks), luta para manter os privilégios dos brancos no terreno, o irmão de Henry, Jamie McAllan (Garrett Hedlund), desenvolve uma boa amizade com o filho dos caseiros, Ronsell Jackson (Jason Mitchell), pelo fato de ambos compartilharem traumas da guerra. Um violento conflito de etnias, gêneros e classes sociais marca a convivência entre os McAllan e os Jackson.

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