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Poetas “clandestinos” invadem a cidade  

        Com a crescente demanda de movimentos culturais em Goiás, Goiânia é agraciada com mais um movimento, que reúne um coletivo de poetas, a fim de, além de divulgar seus trabalhos autorais, faz um convite aos escritores que ainda não tiveram sua “vez” no seletivo mercado de editoras. É o Goiânia Clandestina, um movimento, uma movimentação, realizado por vários poetas goianienses e de outras cidades, que visa a auto publicação dos escritores, onde eles mesmos escrevem, imprimem e divulgam o trabalho autoral. Trata-se de uma editora independente com produção ativa na Deriva Discos, Livros & Afins , fixada na Alameda Botafogo, 415, no Centro, endereço que terá validade por apenas mais dois meses.

Já são dois fanzines publicados, outros tantos à caminho, e há ainda a idealização de realizar livros e material audiovisual, sempre envolvendo o poético e o submundo urbano. Por submundo, leia-se: tudo que é marginalizado. A ideia central é abrir as portas aos escritores marginais, e convidá-los a participar, escrever e divulgar o próprio trabalho de forma que o não estar no mercado, ou talvez o anonimato, não impeça o “compartilhar de literatura, ideias e sentimentos”.

        Izabela Devoti, do selo literário Siririca Poética participa desta movimentação no Goiânia Clandestina e conversou comigo, num papo descontraído, para a edição do Diário da Manhã de hoje. “O Goiânia Clandestina é o ‘faça você mesmo’ de poetas com os olhos secos e as mãos vazias. O  que se aprende morando em Goiânia, é que a eferverscência de vida viva, o caldo grosso da arte e da cultura só é vivo se é feito por nós mesmo. Nós estamos nos publicando”, diz. Dentre as características fundamentais do Goiânia Clandestina está a linguagem urbana, envolta em críticas sociais, erotismo, princípios de liberdade, lifestyle alternativo,  a própria contracultura.    

Quando perguntada sobre a experiência de participar de uma produção completamente independente, desde sua fundação até a execução, Izabella diz que a missão do Goiânia Clandestina é exatamente a de dizer para o mundo aquilo que é silenciado, entretanto, deve ser dito de forma a  extrapolar censuras que, no caso de editora independente, a principal facilitação será a não-obrigatoriedade de requisitos para concretizar qualquer trabalho, pois “lugar de poesia é na calçada” . “O Goiânia Clandestina é o ‘tem que acontecer’  material, virtual, e transcendentemente, aqui e agora, com a missão de compartilhar, invadir, ocupar, enunciar, e se alastrar sorrateiramente esfregando por aí o que não se diz.”

Segundo o poeta, professor e estudante de Ciências Sociais, Ícaro Luã (19), a ideia da editora: “é a tentativa de não só abrir, mas arrombar as barreiras que os poetas suburbanos encontram por aí. Onde tem lugar o poema sujo e o poema mal-lavado. E também o poeta sujo e o poeta mal-lavado.  Somos a produção artesanal-material de uma verdade urbana e bucólica que pode ser percebida através do multiperspectivismo, da fragmentação, na ausência de um sentido, na descontinuidade dos fatos que não têm de ser necessariamente eternos. Nós apostamos na etnografia experimental como caminho a ser seguido rumo à mais plena sinceridade dos sentidos, das formas que não deixam trairmo-nos enquanto indivíduos, pessoas da cidade, poetas, marginais, heróis, enfim, enquanto coletivo.” finalizou o poeta.

Segundo o poeta Mazinho Souza, o  Goiânia Clandestina tem lançado pelo menos  um zine por mês, constando o coletivo de poetas. “Está espalhando zines em troca de uma boa conversa, uma cerveja gelada,  e é aberto a contribuir com algum dinheiro, pois a poesia não é proprietária nem dela mesma, então vender o que não é palpável não é meta”, brinca o poeta. Os dois fanzines já publicados estão disponibilizados na internet, num blog (goianiaclandestina.blogspot.com.br) mantido pela movimentação, e também em versão impressa. O primeiro deles é o Chorume Metropolitano, que reúne os versos de poetas como Mazinho Souza, Ícaro, Vinícius Gade, Walacy Neto, do selo literário Zé Ninguém, Alana Sales, Adriana Gonzaga, Fábio da Silva Barbosa, Izabela Devoti, entre outros. O segundo é o Ninguém vai ser Ninguém, de autoria de alguns dos poetas já citados.

“Seria uma editora independente, seria uma experiência antropológica, uma prova de existência no tempo, o escapar da nossa prisão contemporânea que é o experimentar apenas pelo consumo. Seria uma editora independente quando existir a máquina de xerocar, reproduzir, multiplicar dentro da casa e a casa é a Deriva e convida a todxs xs lobxs da estepe ou xs vagabundxs do Dharma a somar,

 Seria uma experiência antropológica ouvindo o barulho da máquina de escrever junto a conversas niilistas, intensas, de alegria gratuita, fugaz e verdadeira, ao som de discos, rodeados por livros, quando todos os encontros forem possíveis sem fronteiras espaciais. ”

Izabela Devoti , poeta, feminista, estudante de História na UFG

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