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CULTURA

52 anos da construção da História recente do Brasil

O motivo para o golpe militar de 1964 esta estritamente ligado a ordem bipolar que se instaurou no mundo pós Segunda Guerra Mundial. O mundo bipartido entre Estados Unidos da América e URSS na chamada guerra fria, onde ambas as potencias "combatiam o inimigo" e tentavam ampliar sua zona de influencia. A América Latina era zona de influencia norte americana capitalista, mas as ideias socialistas estava impregnadas nas classes populares brasileiras e era um perigo a ser combatido a todo custo.

O presidente do Brasil no período era João Goulart, popularmente conhecido como Jango, que assumira a presidência quando Jânio Quadros renunciou. O presidente Jango propunha para o País  a Reforma de Base (politica, previdenciária, tributária, educacional, agrária, entre outros), essas reformas desagradavam os setores conservadores da sociedade, entenda-se empresários e grandes proprietários rurais. Além do mais, João Goulart determinara que as leis trabalhistas fossem aplicadas também para os trabalhadores do campo, enfurecendo a elite rural brasileira. Estabelecendo para si uma imagem de subversivo e comunista perante os conservadores.

Os setores conservadores da sociedade brasileira, apoiados pelos Estados Unidos da América e pelo exército brasileiro, aplicaram o Golpe Militar de 31 de marco de 1964, que derrubou o governo de Jango e implantou a Ditadura Militar no Brasil. Tinha aí o inicio um dos períodos mais sangrentos da História  recente do Brasil. O Regime Militar foi rapidamente coibindo as liberdades individuais e implantando seu autoritarismo exacerbado através dos AIs (Atos Institucionais). Criou a Lei de Imprensa, uma forma de censura descarada e desmedida aos veículos de comunicação e a Lei de Segurança Nacional que visava detectar os “inimigos” do regime.

Pessoas foram perseguidas, presas e mortas em nome da Segurança Nacional. Muitas fugiram antes de serem capturadas quando o regime recrudesceu ainda mais. A juventude "rebelde", como mandava os anos de 1960 em todo o mundo , reagiu. Passeatas, comícios estudantis e também de trabalhadores brotavam nas principais cidades do País, ao que o Governo Militar respondia com mais violência e repressão, emitindo sempre um novo AI, sendo o mais repressivo deles o AI 5, que ampliava grandemente os poderes do Executivo e legalizava a tortura e a pena de morte. Neste período em que a pena de morte era legal no Brasil, foi também o período em que as cadeias não eram destinadas apenas às minorias (como se percebe em discrepância, nos dias atuais), pois a maioria dos presos eram os chamados presos políticos, jovens oriundos da classe média. Sendo este um dos fatores principais para o repúdio da sociedade pelo Regime.

Comissão Nacional da Verdade

        A comissão, composta por 7 membros, indicados pela Presidente da República Dilma Rousseff, para investigar violações cometidas contra os Direitos Humanos no Brasil entre 1946 e 1988 por agentes públicos, sob apoio ou interesse do Estado, foi sancionada em 2011, concentrando seus esforços principalmente nos crimes, que à época eram legítimos, cometidos durante a Ditadura Militar, entre 1964 e 1985. A CNV reconheceu 434 mortos e desaparecidos como sendo vítimas da repressão e tortura do período da Ditadura. Entre estes, vale a pena destacar três personalidades que exerceram grande influência em prol da restauração da democracia no Brasil.

O noviço dominicano, estudante de filosofia pela USP foi preso quando participava de uma palestra clandestina da UNE, em 1968, fichado e perseguido durante todo o período. Em 1969 fora preso novamente, junto com outros dominicanos por policiais do DOPS. Durante 30 dias Frei Tito foi vítima de torturas, entre as quais, relatadas por ele próprio: choques elétricos na cabeça, ouvidos, órgãos genitais, pauladas, socos, espancamento com uso de palmatória e queimado com cigarros. Em 1971, Frei Tito foi deportado para o Chile, sendo ainda ameaçado de ser capturado novamente, fugiu para a Itália. Teve apoio negado pela Igreja Católica, sendo taxado de “frade terrorista”. Submeteu-se a tratamentos psiquiátricos, devido aos traumas das torturas que fora submetido. Refugiou-se no Convento Saint Jacques na França, depois de surtos de pânico, desapareceu. Foi encontrado morto em 1974, por um morador de Lyon. Suspeita-se que tenha cometido suicídio.

Político e escritor, Marighella chegou a ser considerado o inimigo número um do Regime Militar. Foi preso diversas vezes, antes do período militar, por subversão. Durante o Governo Vargas, foi preso e torturado, permanecendo em cárcere por um ano. Saiu da prisão e entrou para a “clandestinidade” política. Após o Golpe de 64, Carlos foi baleado e preso pelo DOPS por um ano, saiu da prisão por decisão juducial e se juntou à luta armada contra o Regime. Em 1968 fundou o grupo armado ALN (Ação Libertadora Nacional). Sua ligação com os freis dominicanos do Bairro dos Perdizes era de conhecimento policial desde esta mesma época. Numa emboscada, em novembro de 1969, um dos freis foi obrigado a armar contra Marighella e outros dominicanos, entre os presos estava Frei Tito. Marighella reagiu à prisão, foi baleado e morto no local. Uma investigadora do DOPS, e um transeunte (vítima de bala perdida) também foram mortos na ação. Em 1996, o Estado foi oficialmente responsabilizado pela morte do escritor, sendo condenado a pagar pensão vitalícia a sua companheira, Clara Charf. No aniversário de 44 anos de sua morte, em 2013, a CNV realizou homenagem em sua memória, na Alameda Casa Branca, a mesma em que fora vítima de emboscada e assassinado.

O iugoslavo Herzog veio para o Brasil junto com sua família, fugindo dos horrores da Segunda Guerra Mundial e do Nazismo. Era jornalista e escritor. Militante do Partido Comunista, Herzog foi figura central no movimento pela restauração da democracia no Brasil. Quando Geizeil toma posse em 1974, ele propõe um governo mais ameno, diminuição da censura e investigação das torturas e mortes dentro das delegacias do DOPS e DOI-CODI. Mas a ala conservadora, sentindo-se ameaçada, continuava a endurecer-se ainda mais contra os revoltosos. O Centro de Informações do Exército tornou-se em 1975, inimigo declarado do Partido Comunista Brasileiro, do qual Herzog fazia parte. Quando Herzog era diretor de jornalismo da TV Cultura, fora “convidado” pelo II Exército a prestar esclarecimentos sobre sua ligação com o Partido Comunista. Apresentou-se voluntariamente ao DOI-CODI. Ele e outros dois jornalistas foram presos, na ocasião, Vladimir negou qualquer relação com o PCB. Durante as torturas sofridas por ele e seus colegas, à ase de choques elétricos, o som era abafado com o uso de música de rádio em alto volume. O Serviço Nacional de Informações recebeu uma mensagem em 25 de outubro de 1975, um dia após Herzog ter sido preso, avisando que o mesmo havia cometido suicídio das dependências do DOI-CODI do II Exército. Fotos de seu corpo foram divulgadas. Nelas era possível notar que a posição do corpo de Herzog refutava a afirmativa de suicídio. Além de duas marcas na região do pescoço de Herzog, que indicavam estrangulamento. O registro de óbito por suicídio foi retificado, passando a constar que a morte veio em “decorrência de lesões e maus tratos sofridos nas dependências do DOI-CODI”.

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