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CULTURA

Oposição à linha reta

No dia 19 de fevereiro de 2000, há 16 anos, um dos artistas mais vibrantes da arquitetura encerrava sua passagem pela Terra. Friedensreich Hundertwasser nasceu em Viena, na Áustria, durante a década de 1920. Ganhou destaque mundial através de suas obras em arquitetura, e por ser um opositor da linha reta nos traços de suas construções. Também era avesso a qualquer tipo de padronização, expressando tal conceito através da construção de edifícios. Sua obra mais conhecida,Hundertwasserhaus, tornou-se um lugar de reflexão caracterizado pela variedade imaginativa e unicidade.

No site dedicado Hundertwasser.art, dedicado à obra do artista, ele próprio descreve-se como um pintor “orgânico”, que leva um modo de vida “orgânico”. Tal palavra, para ele, passa uma ideia de fluência natural, que não tem as pretensões ou imediatismos da forma com que o mundo se organiza política e economicamente. “O que o homem precisa para ser feliz?”, questiona. “Progressão é retrocesso, e retrogressão torna-se progresso. Minha pintura, penso eu, é uma pintura diferente por ser vegetativa”.

Ele fala ainda da necessidade de padrão que as pessoas buscam: o que faz com que qualquer tentativa de diferenciação pareça uma afronta à horizontalidade homogênea que comanda o fluxo da vida da maioria das pessoas. “Uma razão das pessoas não quererem pintar organicamente ou seguir um modo de vida orgânico é a forma despretensiosa como ela segue. Cresce lenta e simplesmente e não apela para a nossa ordem social. As pessoas querem resultados instantâneos baseados no princípio da dilaceração e do incêndio”.

Começou a trabalhar com arquitetura aos 55 anos, quando já carregava certa fama por seus trabalhos na pintura. De acordo com a visão do artista, cada pessoa está apta para decorar sua própria casa. Sua arquitetura está desligada do funcionalismo e do racionalismo que dominaram a construção civil no século XX, através do uso de cores vibrantes, linhas distorcidas e pelo desejo de harmonia com a natureza. 34 construções de Hundertwasser encontram-se espalhadas por nove países (Áustria, Alemanha, Espanha, Holanda, Israel, Japão, Nova Zelândia, Estados Unidos e Suíça).

Origens


Hundertwasser passou por momentos difíceis durante a Segunda Guerra Mundial. Ele e a mãe eram de origem judia, e camuflavam-se nas origens católicas do pai para evitar perseguição por parte dos nazistas. Suas habilidades artísticas surgiram bem cedo, mas só resolveu dedicar-se às artes após a guerra, quando entrou para a Academia de Belas Artes de Viena. A perseguição sofrida devido às origens desenvolveu um complexo de identidade no artista, que assinou suas obras com vários nomes diferentes até chegar ao nome Hundertwasser, que não era seu nome de batismo.

Começou a atuar na arquitetura na década de 1950. Também trabalhou na área das artes aplicadas, criando bandeiras, estampas, moedas e posters. A obra de Hundertwasser também apela para a natureza, e visa criar espaços que dialogam harmonicamente com o meio ambiente. Seu sonho de viver e trabalhar em conexão íntima com a natureza foi realizado durante a década de 1970, quando transferiu-se para a Nova Zelândia, país que adotou como seu e onde viveu até o fim, em 2000.

Política


A visão política de Hundertwasser também causava algumas polêmicas. Em 1959 ele esteve envolvido na fuga do Dalai Lama, que precisou sair do Tibet por problemas políticos. Também dedicou-se ao ativismo ambiental, usando seu reconhecimento nas artes como espaço para lançar ideias em prol do desenvolvimento sustentável. Em atitudes ousadas, o artista propôs novas bandeiras nacionais para Austrália e Nova Zelândia. A bandeira é bastante discutida nesses países devido à presença de símbolos da monarquia britânica em seus desenhos.

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