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CULTURA

A força renovadora de Ângela Rô Rô

por Leon Carelli

Com uma voz rouca característica que originou seu apelido e assinatura ‘Rô Rô’, Ângela Maria Diniz Gonçalves é uma das figuras mais transgressoras da MPB na década de 1980. Seu álbum de estréia, auto-intitulado e lançado em 1979, é visto como uma das peças mais importantes da música nacional. Cantora das confusões e das fossas sentimentais, foi uma das primeiras pessoas do meio artístico do país a assumir-se homossexual. Seu talento como compositora continua até hoje eternizando seu trabalho.

Na linha de artistas como Maysa, Jacques Brel e Ella Fitzgerald, tidos pela cantora como verdadeiros ídolos, materializa-se a música de Ângela Rô Rô. Emplacou em seu disco de estréia o sucesso ‘Amor, meu grande amor’, acompanhado por outras 11 canções, todas de sua autoria. Com ares de madrugada no bar, batidas leves e suaves, agarradas ao blues e ao rock, vestem a voz aveludada da cantora, que traz as mais comoventes histórias de amores conturbados e da paranóia boêmia dos artistas vistos como “malditos” pelos censores de etiqueta da mídia.

Ousadia

Irreverente, mesmo sabendo da vida dupla de vários artistas que preferem não expor ao público sua sexualidade, Ângela costumava brincar em palco, dizendo: “Vocês sabem: eu sou a única cantora lésbica da MPB”. Envolveu-se em alguns escândalos, marcantes para o imaginário popular na construção de sua imagem pública. Alguns deles envolviam um relacionamento ‘secreto’ com a cantora Zizi Possi, tornado público por Ângela, em meio a histórias de traição e declarações alcoolizadas diante de um grande público.

Zizi ofendeu-se por ter tido seu direito ao segredo atropelado pela ex-companheira. O disco ‘Escândalo’, de 1981, surge na carreira de Ângela Rô Rô em meio a inúmeras críticas sobre seu comportamento. A própria capa do álbum simula uma manchete de jornal, como forma de crítica à exposição midiática de sua vida pessoal àquela altura. Apesar de todas as associações negativas motivadas pela mentalidade fechada dominante no país, sempre teve seu trabalho musical muito bem avaliado pela crítica.

O álbum ‘Escândalo!’ também trazia a canção ‘Meu mal é a birita’, mais uma passagem autobiográfica que jogava com a fama de alcoólatra na qual Ângela viu-se inserida em meio à teia de informações criadas por jornais e revistas especulativos. Ela também foi levada a abandonar um programa de entrevista após ser atacada pela apresentadora Cidinha Campos com perguntas constrangedoras e de cunho moralista.

Compositora

Afastou-se dos holofotes da imprensa durante quase toda a década de 1990, apesar de lançar alguns discos e participar de projetos produzidos por Almir Chediak. Dentre os nomes que já beberam da fonte da compositora, estão grandes artistas como Maria Bethânia, Barão Vermelho, Marina Lima, Emílio Santiago, Ney Matogrosso, Toni Platão, Simone e Zélia Duncan. Nos anos 2000, decidiu largar as bebidas e os cigarros. Perdeu cerca de 35 quilos, e voltou a participar de projetos na televisão.

Ao longo de seus mais de 30 anos de carreira, já gravou mais de 100 canções de autoria própria. Também já gravou canções de autoria de Chico Buarque, Caetano Veloso, Adelino Moreira, Nelson Gonçalves, João Donato, Tom Jobim, Dorival Caymmi e vários outros. Suas canções mais famosas são ‘Amor, Meu Grande Amor’, ‘Gota de Sangue’, ‘Tola Foi Você’, ‘Não Há Cabeça’, ‘Me Acalmo Danando’, ‘Agito e Uso’, ‘Mares da Espanha’, ‘Só Nos Resta Viver’, ‘Renúncia’, ‘Came e Case’, ‘Querem Nos Matar’, ‘Fogueira’, ‘Gata’, entre outras.

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