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Morre Fernando Brant autor de Travessia e parceiro de Milton Nascimento

Um dos fundadores do Clube da Esquina e parceiro de Milton Nascimento em clássicos como 'Travessia', ele sofreu complicações decorrentes de um transplante de fígado

O músico, jornalista e escritor Fernando Brant morreu às 21h40m desta sexta-feira, aos 68 anos, em Belo Horizonte, vítima de complicações decorrentes de um transplante de fígado. O velório começa às 10h deste sábado, no Palácio das Artes. O enterro será no Cemitério do Bonfim, na capital mineira. Brant tornou-se conhecido na MPB por conta de sua parceria com Milton Nascimento, com quem compôs mais de duas centenas de músicas, entre elas

"Travessia".

A amizade foi um divisor de águas na vida dos dois. Um encontro mágico. Fernando Brant e Milton Nascimento se conheceram nos idos de 1960. Logo depois, Milton convenceu o parceiro a escrever a letra de sua primeira música: “Travessia” surgiu em 1967 e foi um estouro. No mesmo ano, ficou com o segundo lugar no II Festival Internacional da Canção, no Rio. A carreira do cantor mineiro decolou, e o parceiro de fé sempre esteve por perto.

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Mas Fernando Brant era múltiplo. Seu envolvimento com música e literatura vinha desde o curso de direito. Em 1969, começou a trabalhar como jornalista na revista “O Cruzeiro”. Antes, ainda como universitário, foi escrivão no Juizado de Menores de Belo Horizonte.

Os anos 1960 foram pródigos e marcariam profundamente a história da música popular brasileira. Em Belo Horizonte, Brant e amigos lançaram um projeto que viria a ser a pedra fundamental do Clube da Esquina. Ao lado de Milton e Brant, estavam nomes como Lô Borges, Tavinho Moura, Beto Guedes, Toninho Horta, Ronaldo Bastos, Wagner Tiso e Flávio Venturini, entre outros. A produção profícua de mais de 200 músicas que saiu dali é um passeio por clássicos como “Sentinela”, “Saudade dos aviões da Panair (conversando no bar)”, “Ponta de Areia”, “Maria, Maria”, “Para Lennon e McCartney”, “Canção da América” e “Nos bailes da vida”, só para citar alguns.

O gênio que se tornaria o principal letrista de Milton Nascimento nasceu no interior de Minas Gerais, em Caldas, em 9 de outubro de 1946. Fernando Rocha Brant mudou-se, aos 5 anos, para Diamantina e, aos 10, para Belo Horizonte, onde passou o resto de sua infância e adolescência.

Numa entrevista ao site do projeto Museu Clube da Esquina, Brant falou da importância de suas raízes na sua trajetória musical. “O meu pai gostava de música. Ouvia muito rádio, que tocava música boa da pré-bossa nova. Tito Madi, Elizeth Cardoso, Agostinho dos Santos. Então eu acompanhava essas coisas, lia jornais também. A primeira vitrola que chegou em casa foi o meu irmão mais velho que comprou, que também trouxe os discos de música americana e já também do começo da bossa nova. Quer dizer, foi aos pouquinhos. Primeiro através do rádio. Se bem que desde pequeno, lá em Diamantina, ouvia muito a Rádio Nacional, porque a Rádio Nacional era a TV Globo da época, então todo mundo ouvia”, contou ele em um dos trechos.

FernandoBrant

Em outro momento, o letrista discorreu sobre a dimensão humanística da música: “Eu acho difícil a música não entrar na vida da gente. A música, essa que a gente vai ouvindo, é trilha sonora da vida da gente. De Diamantina, eu lembro de uma música que era assim: ‘Era de madrugada, ia raiando o dia/ Quando em minha casa bateu Maria’. Era um samba que tocava na Rádio Nacional.”

Há três anos, Brant foi diagnosticado com câncer no fígado e se submeteu a uma cirurgia para retirada do tumor. Mas novos tumores foram descobertos este ano. De acordo com a irmã dele, Ana Brant, o letrista passou por uma cirurgia que precisou ser refeita cerca de 48 horas depois. Na terça-feira passada, foi submetido, no Hospital das Clínicas de Belo Horizonte, ao primeiro transplante do órgão, mas houve rejeição. Uma das artérias do fígado entupiu, necrosando o órgão e liberando toxinas no organismo. Os médicos buscaram novo doador e, na madrugada de sexta-feira, Brant foi mais uma vez operado para um segundo transplante. Ao longo do dia, seu estado se agravou.

Na noite desta sexta-feira, pelas redes sociais, alguns artistas e amigos já se manifestavam sobre a morte do músico. Vermelho, tecladista do grupo 14 Bis, postou uma homenagem a Brant, citando os famosos versos do músico em “Canção da América” em sua página no Facebook: “Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito, dentro do coração. Fernando Brant, parceiro querido de tantas belas canções, partiu em sua travessia para outra vida. Um menino, um moleque morando sempre em nosso coração...” Pelo Twitter, Lô Borges, seu parceiro do Clube da Esquina, lamentou a morte: “Meus sentimentos à família desse grande e querido parceiro e amigo, Fernando Brant”. Já o senador Aécio Neves (PSDB) escreveu, em sua página no Facebook, que o compositor era um “grande poeta. Grande brasileiro”: “Com muita tristeza, faço silêncio neste momento, manifestando a minha homenagem e enviando, com emoção, o meu abraço à sua família”.

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