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O universo popular pelas mãos de Omar Souto

Na exposição Raízes do Brasil o artista exibe 15 obras inéditas

Dia 18 de março, às 20 horas, o Ponto de Cultura Catedral das Artes – Instituto Cultural Noé Luiz da Mota abre a exposição individual Raízes do Brasil, do artista plástico Omar Souto, que comemora 40 anos de dedicação à pintura.

Nas 15 telas pintadas a óleo, o artista se inspira em tipos populares do universo caipira e das ruas, cenas de casamentos na roça, folia de reis, releitura de Portinari, cenas de bordel, retirantes, e cangaceiros. A exposição estará aberta à visitação a partir de 19 de março e vai até dia 18 de abril, funcionando de segunda a sábado, das 9 às 19 horas. A entrada é gratuita.

Em entrevista ao DMRevista, Omar, que é um visitante assíduo da redação do jornal, começa dizendo que adora vir as dependências do jornal contemplar uma das suas obras, segundo o mesmo, “uma das que mais me orgulho na minha trajetória: as esculturas e monumentos do jardim do Diário da Manhã”.

As dezenas de obras, algumas pequenas, outras com cinco metros de altura, são feitas com concreto e fibra de acrílico e retratam diversas passagens da cultura mundial, como Buda, o batismo de Jesus Cristo, a imponente estátua do jornalista Fábio Nasser com o sobretudo ao vento na entrada principal do jornal e passagens da vida do editor-chefe Batista Custódio, que, segundo Souto, “é um poeta sem igual, de imensa sensibilidade”.

“A arte me escolheu”

“Eu sempre pintei e esculpi as raízes do Brasil. Esse sempre foi um tema pulsante do meu trabalho.” Omar, que tem mais de 40 anos de carreira como artista plástico, trabalhou os últimos três anos dedicado a essa exposição. “Pinto há 66 anos e até hoje não aprendi a pintar, estou sempre aprendendo e desenvolvendo meu trabalho.”

Omar, que nasceu na cidade de Heitoraí, no interior de Goiás, trabalhava como pedreiro e pintor de letreiros, porém, quando teve acesso a uma tela e algumas tintas, alcançou destaque nacional e internacional, que, segundo o próprio artista, não esperava acontecer: “Não conheço a dimensão da minha obra. Já perdi a conta do número de telas, esculturas e murais que forjei nessas décadas em que fui escolhido por Deus para ser pintor”, completou Souto.

Omar conta que a sua maior inspiração vem do que ele considera ser de Deus, algo externo a ele: “Sinto algo falando em meu ouvido, para mim toda criação é divina, com as artes plásticas não é diferente.” A temática religiosa está sempre presente nas obras do artista. A fé é um tema inerente à vida dos povos tradicionais, seja retratando a folia de reis, os pagadores de promessa, a devoção a Padre Cícero ou as crenças da cultura indígena. A arte de Souto causa comoção pela simplicidade dos traços e a intensidade dos personagens.

Durante nossa conversa, Omar, que está sempre exibindo bom humor e irreverência, com piadas pontuais sempre na ponta da língua, fala com encanto a respeito da profissão a qual “ele foi escolhido” para fazer: “Não tenho hora certa para pintar, não tenho frescura. Apesar da maioria das obras ser feita em óleo sobre tela, se tiver um lápis ou um pedaço de carvão na parede já é suficiente para começar a desenhar alguma coisa.”

O artista conta que desde os seis anos de idade gostava de rabiscar os lugares e sempre tentou se expressar graficamente de alguma forma. Apesar de ter tido algumas orientações no começo da carreira, é autodidata e sempre evoluiu a partir da experiência pessoal. “Fui jovem, cresci, envelheci e até hoje estou aprendendo a pintar, estou sempre aprendendo como ser um pintor.”

Omar deixa bem claro que a obra dele traz experiências vivas, algumas trazem autorretratos do próprio autor; em várias, no papel do noivo. Souto comenta que tudo que faz é motivado pela emoção: “Às vezes estou almoçando, deitado, conversando, ouvindo uma música ou cheio de problemas, paro tudo que estou fazendo e começo a pintar. Isso é a minha vida.”

Durante a nossa conversa, com a fala simpática e simplória de um goiano do interior, que não demonstra o ego que teria todo o direito de apresentar devido a vasta obra e reconhecimento que tem pelo mundo, Omar se emociona, emudece a fala por alguns momentos e com os olhos marejados, comenta: “Vivo para a arte, mas nem sempre a arte me dá a vida.” Sobre as questões financeiras que envolvem o processo de crescimento de um artista, Souto relembra tempos difíceis em que chegou a ter que vender seu único meio de locomoção, uma bicicleta, para comprar mais algumas bisnagas de tinta e pincéis. “Continuar a pintar era a minha prioridade.”

Apesar das dificuldades enfrentadas, Omar Souto, aos 66 anos, se consagrou como um dos mais criativos e produtivos artistas goianos, destacando-se principalmente pela sua maior obra, a Via Sacra Goiânia-Trindade, realizada no início da década de 80, constituída por 14 painéis relatando a Via Crucis de Cristo. Trata-se de uma galeria aberta, de maior visitação turística religiosa no Estado de Goiás.

EXPOSIÇÃO: RAÍZES DO BRASIL, DE OMAR SOUTO

Local: Ponto de Cultura Catedral das Artes - Instituto Cultural Noé Luiz da Mota

Rua Campo Verde nº 15 - Setor Santa Genoveva

Dia: 18 de março, às 20 horas

Visitação: 19 de março a 18 de abril, das 9 às 19 horas

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