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No Timbre: os sobreviventes do garage

A Bang Bang Babies é formada por Renato (26), que é empresário e baixista, Vital (30), advogado e guitarrista, Pedro (29), auxiliar de cartório e vocalista, e como novo integrante tem o Rangel (25), que trabalha na associação de combate ao câncer e é o baterista "balada" da banda. Encontrei com os rapazes em um estúdio no leste universitário, para a entrevista da coluna No Timbre.

A ideia do conjunto começou em 2005, após Vital e Pedro serem “demitidos” de bandas diferentes, ambos se encontraram em um evento da Two Beers or not two Beers no DCE da PUC. No dia, Vital gravaria uma música dos Stooges em um estúdio montado no evento, e para entrar de graça no local, Pedro pediu para ser o vocalista no cover. “Apesar da entrada ser só 5 conto na época, isso já dava para comprar umas três catuabas”, brincou Vital.

E desse encontro improvável e sem grandes expectativas, que surgiu inicialmente apenas para dar um “migué” no ingresso, o resultado final do cover acabou agradando. Ao fim da experiência ao som de Stooges, Pedro e Vital resolveram que tinham que continuar tocando ao estilo garage rock, entre outras influências dos anos 70’. Cantado (ou berrado) em inglês, as letras da BBB trazem a pegada psicótica, sem noção e a generalidade da vida: “Cantamos sobre o amor, frustrações e ressaca. A ressaca, de vários tipos e suas consequências, é tema constante nas nossas produções.”



Marcado o primeiro ensaio, que inicialmente era tocado com apenas duas guitarras, novos integrantes foram convidados para se unir ao grupo. “No início eram três grungies, tocando garage rock, não tinha nada a ver com a proposta”. Depois de alguns shows nos eventos de pequeno porte da cidade, a banda já conseguiu no primeiro ano de formação lançar o primeiro EP. E enfim, em 2006, saiu o disco em CD com o mesmo nome da banda pelo selo da Fósforo Records, que na época também era iniciante.

O EP “Bang Bang Babies”, segundo o vocalista Pedro, traz faixas que refletem justamente essa energia juvenil e empolgação de quem acabou de montar uma banda de garage. Foi gravado por Gustavo Vasquez (que hoje é referência na produção musical goiana) quando o mesmo tinha acabado de voltar para Goiânia. Até hoje algumas composições desse álbum, como “O homem não pisou na lua” e “heart’s crash”, são executadas nos shows do grupo.

Um som tosco e honesto

Alguns cargos continuaram sendo alterados com uma certa frequência, mas Pedro e Vital mantiveram o projeto de pé. O que inicialmente era um “rock cru, direto e sem frescuras” com influência no som garage dos anos 70’, começou com o tempo a ficar mais elaborado, sem mudar a proposta original do conjunto. “A gente foi conhecendo o som do garage dos anos 90’, como The Gories, Blues Explosion entre outras”.


“Para nós o garage é basicamente um som tosco, tocado sem pretensão, com influência de bandas de proto punk dos anos 60 e 70, de bandas americanas que não seguem nenhum padrão específico”, comentou Pedro. O som garage não é comercialmente viável, tanto que hoje em dia é um estilo que as gravações são de difícil acesso, por não terem sido amplamente divulgadas: “se uma banda de garage rock faz sucesso, ela deixa de ser true”, brincou o vocalista. “Garage é um som que não se apega muito a técnicas, fazer um lance do jeito que você quer, inventar umas esquisitices e mesclar com outras vibes.”

O garage é um som que parte dos clássicos do rock, como o rockabilly dos anos 50, o surf music e o beat, tocado de forma mais tosca. “Com menos acordes, uma estética mais rasgada e um vocal gritado”, completou Vital.

A Bang Bang Babies faz há 10 anos o rock rasgado e autêntico em Goiânia. “Atualmente nós acreditamos que somos os últimos sobreviventes do gênero aqui na cidade”. Quando o grupo foi forjado, em meados dos anos 2000, o cenário alternativo da capital comportava mais esse tipo de experimentação, então, dentro da cena de eventos e festivais, outros grupos se arriscavam a puxar para essa pegada de rock mais cru.



Os integrantes comentam que os grandes sucessos na capital eram bandas como Hang the Superstars, que para eles foi a maior influência goiana, e a Mechanics. No cenário nacional também existiam boas bandas que arriscavam o estilo garage, como The Butcher’s Orchestra, Detetives e Autoramas. “Por ser um gênero mais aceito no auge do underground, a gente tocou em praticamente todos os festivais e eventos da cidade, além de convites para rodar o País afora apresentando”. Nos tempos áureos do neo-Garage Rock, o grupo passou por Palmas, Uberlândia, interior de São Paulo e Rio de Janeiro.

Os shows, principalmente, costumam ser insanos. “Banda de garage não tem nada a perder, nenhum padrão ou imagem a zelar. Então costumam ser apresentações bêbadas e divertidas.”

Tendências

Em determinado momento, após passado uns três anos, os integrantes da Bang Bang comentam que o “Selo de qualidade” do rock goiano passou a ser o Stoner Rock. “Vários grupos autênticos passaram a seguir por essa vertente, que é mais pesada e mais trabalhada. Nós continuamos com o pé na lama, insistindo na proposta da tosqueira verdadeira.” Vital completou dizendo que a banda nunca vai seguir tendência nenhuma, vai continuar tocando o que quiser e como quiser.

Para o guitarrista Vital, após 2010 aconteceu o que ele chamou de “crise do autoral” dentro do rock. Então deixaram de tocar em grandes festivais e passaram a fazer shows e promover de forma autônoma festas menores, em pub’s e inferninhos. O músico analisa que hoje não se vende mais uma banda, se vende um evento, então se o evento for legal o povo anima de ir. “Dependendo da proposta da noite, vai um público bacana que gosta e quer ouvir esse tipo de som, que apesar de não ser o melhor tecnicamente, cheio de riff’s e solos elaborados, certamente é um dos mais divertidos de se ouvir em um show.”



A banda lançou em 2009 um novo disco, pela Monstro Discos. Chamado Love and Bullets, o disco traz uma pegada um pouco diferente do primeiro EP, mais bem gravado e produzido, trazia uma sonoridade mais “clean” do que as primeiras gravações do grupo. Pouco tempo depois saiu outro EP, virtual, gravado no Loop Studio, apenas para lançar um material novo, porque a ideia dos integrantes da Bang Bang era soltar um vinil de 7’ polegadas.

Após lançar o “Love and Bullets”, o grupo resolveu fazer uma mudança geral no modo de produzir as músicas. “Começamos a procurar a estética mais crua possível, que se parecesse com a sonoridade das bandas de garagem sessentistas. Em influência do Garage mais lo-fi, como Oblivians e The Mummies. O disco foi produzido por Mauricio Mota (ex-Hang the Superstars), que buscou timbres mais toscos, abandonando a tecnologia utilizada até então. Foi gravado em fita tape, para conseguir alcançar o grau de simplicidade desejada.

Mandinga

Seguindo pela autonomia, a Bang Bang, que superou e aguentou as dificuldades financeiras de se manter um grupo de rock na ativa por 10 anos, evolui em experiência e criatividade, mantendo a proposta inicial e sem abrir concessões por conta da “moda vigente”. Partindo desse princípio foi criada a Mandinga Records, que logo de cara lançou o segundo disco em 7’ polegadas, prensado em vinil. O álbum Bang Bang Babies (Mandinga Records) foi gravado em 2013 no Loop Estúdio, com o auxílio de dois amigos, Benke e Fernando Almeida (da banda Boogarins). “Foi feito tudo praticamente ao vivo e o resultado agradou muito. Das quatro faixas que gravamos, três foram lançadas no 7” que marca o início da Mandinga Records.”

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Em 2014 a banda organizou uma turnê por conta própria, no mais autêntico estilo do “Do it for yourself”. O grupo passou pelo interior de São Paulo, divulgando o novo compacto de 7’ polegadas em vinil. Apesar de tocar há tanto tempo e ter lançado um vasto material, o grupo é unânime em dizer que o retorno financeiro a partir da música autoral é quase nulo: “A gente nunca criou expectativa em nada, se não já tínhamos nos frustrado há muito tempo. O lance é tocar porque gosta, aí consegue continuar, por diversão, pela curtição mesmo.”

Novidades

Em 2015, a Bang Bang Babies completa a primeira década de carreira, um marco raro, suado e que poucos grupos musicais podem ostentar na capital goiana. A proposta atual dos rapazes é seguir durante esse ano para São Paulo para gravar um novo material, contendo 11 músicas inéditas. “A intenção é juntar uma grana e lançar um vinil completo, um bolachão grande de 10 ou 12 polegadas, com uma arte bacana e tudo mais”, adiantou Pedro.

“Para quem quiser entender a Bang Bang, precisa ouvir os dois últimos EPs, em vinil em um fone em casa, tem umas pegadas lisérgicas que nos palcos não conseguimos reproduzir, porque a aparelhagem costuma ser muito boa, aí não dá para tocar da forma tosca que gostamos”, completou Pedro Rabelo.


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