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COTIDIANO

RETRATOS DAS HISTÓRIAS REAIS SEM AS MÁSCARAS DA HIPOCRISIA

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Batista Custódio

Torre de Babel, alegoria criada para explicar as diferentes línguas: todo mundo fala, ninguém se entende

A pessoa honesta e boa não deve ficar andando por aí, entre as falações de feridas abertas, sem o cuidado de não correr o risco de seus passos doerem nos feridos. Não tenho o passo que anda na troca de amigos. A honra é o meu altar e a honra alheia é santa nele. Sei estar de pé sem nada e não aprendi ficar agachado a tudo. Mas, às vezes, é preciso ficar calado e aguentar, à força, a decepção que está nos rasgando por dentro. Por isso, isolei-me ao sozinho das companhias que insistem ir à procura de luz no fogo que irá queimá-las. Há mais vozes caladas na consciência de autoridades que no silêncio dos mudos e existem menos venenos em cobras que em veias consanguíneas.

O ideal enterra-nos a pessoa na alma. A vida imantou-me no destino vocacionado ao jornalismo. Meu eito nos trabalhos é o sentimento e minha trincheira de lutas é o pensamento. Toda vez que ouço chefe de estado falar como se fosse dono do poder e patrão do povo, vejo nele o fantasma de ditador capaz de armar degolas da liberdade de imprensa e dói-me o aperto de corda no pescoço. Machuca-me pôr lendas de fábulas de populistas nas legendas da história dos patriotas. Mas reconheço a fraqueza na minha fortaleza. Tenho a cabeça firme e o coração mole. E sofro, dilemático, na índole, porque sou incondicional na lealdade do agradecimento aos benefícios recebidos e não sou adepto da cumplicidade na gratidão.

Se os tempos parassem amostras nas épocas e as pessoas pudessem se olhar no presente ao seu passado, ninguém falaria mal de alguém em todos. Passariam a falar mal apenasmente de si próprias e a falaram somente bem dos outros. No DNA da gênese política, o rodízio de personalidade é mais vicioso. No teatro da política, as peças são as mesmas, reprisadas. Só mudam os cenários no palco e os atores dos elencos na protagonização de mocinhos no prólogo e de bandidos no epílogo. O enredo encena a comédia no dize-tu-direi-eu maquiada na tragédia do diz-que-me-diz no espetáculo que não diz-a-que-veio no show ensaiado na ribalta das farsas bufonas.

Já está a sol alto o Fim dos Tempos, prometido por Jesus há dois mil anos. Nada mais restará encoberto nos reinos da hipocrisia em toda a Terra. É a quebra dos trigos com casca de joio e dos joios com casca de trigo, até à separação dos grãos do bem dos grãos do mal ao final dos poderes reduzidos a farelos na corrupção. Os líderes ardidos de ódio, azedos de rancor, indigestos de inveja, curtidos de mágoa e escutam o estribilho do sim-sim, nos hinos de louvação aos escândalos na fuzarca das desordens imorais, nos fuzuês das permissividades indecentes, nas futricas das bisbilhotices amolecadas e nas fofocas dos boatos malfazejos, irão ouvir o refrão do não-não dos cânticos no calvário do denuncismo nos temporais da expiação, à chuva das carapuças nas calúnias que armaram à chibata dos relâmpagos nas difamações que conceberam e ao apedrejamento dos raios nas injúrias que urdiram, enquanto usavam máscaras da santidade nos escondimentos de seus pecados.

Deus é justo e julga igual as falhas e as prestezas de todos nós, seus filhos na Humanidade.

É hora de todos os que rezam o Pai Nosso, a única oração que Jesus ensinou a nós, seus irmãos, ao pedirem “Dai-nos hoje o pão de cada dia”, autolembrarem que não podem se apossar dos pães de outros e que, ao suplicarem “Perdoai as nossas dívidas assim como perdoamos aos nossos devedores”, não devem retribuir na vingança aos que lhes devem reparações. Ou cantarem a prece Quanta Luz com pisca-pisca na fé.

É hora dos que se enricaram nos governos, e empobreceram os poderes públicos, compreenderem que socorrer aos pobres é a salvação dos ricos e que órgão público não é lar de parentes e os cargos não são balcões de negócios de amigos.

É hora de reconhecer. A vida pública virou o jogo da demagogia dos 33 partidos políticos, igualzinho a jogo dos times de futebol. Do mesmo modo que os times graúdos compram o passe dos artilheiros dos times nanicos na véspera do campeonato, do mesmo jeito os partidos faturosos nos prélios do poder agenciam adesões de cabos eleitorais nos de partidecos em votos nas quadras eleitorais. Do mesmo jeito e do mesmo modo, os torcedores ficam de pé como torcidas organizadas nas arquibancadas dos estádios e os eleitores ficam em pé na fila organizada nas seções do tribunato dos pleitos. Se der empate nos dois tempos do jogo, a escolha do campeão é prorrogada para a disputa de gols. E se não houver um dos candidatos majoritários, vitorioso no primeiro turno, a escolha do vencedor é prorrogada para o escrutínio do segundo turno. Os dois campeões levantam as taças. No futebol, a do símbolo no triunfo do campeão aos torcedores nas arquibancadas. Na política, a champanhe na vitória do eleito aos convivas nos camarotes.

É hora de a pessoa ir a Deus no templo do coração e de ouvi-Lo no Tribunal da Consciência. Os templos cometeram os maiores pecados e os tribunais praticaram os maiores crimes na história da Humanidade.

Pesquisas científicas realizadas por sumidades da inteligência consagrada ao conhecimento, atestam que a Terra tem 4 bilhões e 500 milhões de anos. E os primeiros fósseis de ancestrais humanos datam de 7 milhões de anos atrás. Está longínquo o dia em que a Humanidade nasceu.

Réplica da Arca de Noé construída nos EUA: museu imita o gigantismo da famosa lenda bíblica

Vamos ao condado no Velho Testamento, lá no lugar onde o Noé construiu a Arca para embarcar e salvar da inundação diluviana os bichos de todas as espécies do mundo, sem ter ferramentas de porte e veículos de transporte coletivo. Toca-me o simbolismo da evocação piedosa aos bichos, que, ainda hoje, são caçados e matados em competições esportivas de caça ou tiro ao alvo. São vidas.

Andemos p’ra cá, no Velho Testamento, no local após o dilúvio onde o Ninrode construiu a Torre de Babel para ir onde mora Deus no Céu, quando não havia cimento para se fazer pilastras de concreto, cada um dos trabalhadores passou a falar em um idioma diferente, que todos não entendiam o que o outro dizia em nenhum deles e a Torre desmoronou-se, matou tantos e feriu uma porção na maioria. Afeta-me na sensibilidade o alegorismo que o objetivo da construção de Babel era subi-la à localização no Céu da casa onde mora Deus e que a causa da Torre cair foi o desentendimento das línguas diversas entre as pessoas, quando, séculos depois, Jesus esclareceu que a casa de Deus tem muitas moradas onipresentes nos infinitos do Universo e, mesmo hoje, os chefes das nações continuam desentendidos no idiomismo dos diálogos análogos a salvação das torres de dinheiro e antagônicos a acudir a paz das sanhas do coronavírus. Vidas são as obras da mais-valia no mundo.

Venhamos para ali no fim do Velho Testamento e ao princípio do Novo Testamento, onde é o ponto exato em que veio da eternidade até nós, o nosso irmão Jesus, trazer a palavra do Pai nos ensinamentos que se tornam mais atuais a cada novo dia. Toda pessoa precisa tomar juízo, copiá-los e decorá-los inteiros. Verá que nada acontece, sequer a queda da folha de uma árvore, sem a vontade de Deus e que estamos na data marcada por Jesus para o Apocalipse. Tirem dos olhos a cegueira da visão materialista. Desensurdeçam-se do absolutismo da ignorância que emudece a razão na consciência. E saiam olhando a disparidade dos acontecimentos. E voltem ouvindo o estardalhaço dos fenômenos da natureza. E parem observando o gigantismo das catástrofes causadas por um ínfimo vírus em todas as fronteiras da Terra. E meditem racionais sobre o flagelo das tragédias e a respeito da calamidade das desgraças na era do Novo Testamento e, se lúcidos, apregoarão que testemunham, nos castigos, o Apocalipse acontecer na prática conforme o prometido por Jesus ao João Evangelista.

Peregrinemos agora, cativos à verdade do Novo Testamento, lendo e relendo os adágios de Jesus e, autoconscientizados, constataremos que legiões de devotos professam a teoria e não desempenham a prática do Cristianismo. A legitimia das palavras carece do santificado nas orações, como o testemunho da fidelidade nos gestos carece da prova do dignificado nos atos. Não se chega à paz nos ódios, não se vai à paz nas mentiras e não se faz o verdadeiro nas hipocrisias. Manter-se à guia das recomendações da alma é a pessoa resistir, de frente, a privação das necessidades e a facilidade das cumplicidades sem ceder-se aos crivos da sobrevivência. Sofrer traições e não trair, penar delações e não delatar, padecer ingratidões e não ser ingrato, pois são as vilanias que mancham os potentados da honra no caráter.

Não se pode santificar todo pobre e praguejar todo rico no sumário das opiniões palpiteiras. As carências e as opulências intermeiam-se generalizadas nos caritativos e nos ególatras do contingente humano. As danações são xifópagas no construído das tentações no recebido das provações. O dinheiro corre dos que correm atrás dele e corre atrás dos que correm dele, e ai dos fortes que fraquejam e se apegam a ele, o dinheiro escraviza-os. O que a pessoa faz com o dinheiro, e faz só pelo dinheiro, acaba quando o dinheiro acaba. As vantagens pessoais endividam os espíritos no interesse coletivo.

Após rezar várias vezes diárias o Pai Nosso, o Credo, a Ave Maria, a Santa Maria, o Salmo 4 ao dormir e o 91 ao acordar, agradeço aos 34 espíritos que me enviam mensagens ou manifestam-se-me na intuição e peço a Deus que os ilumine e abençoe e, em seguida, rogo a luminosidade da bem-aventurança para os entes queridos nos parentes, amigos e companheiros que me beneficiaram ou beneficiam e para os que me prejudicaram ou prejudicam nessa passagem na Terra.

Eis a rotina pontual das minhas preces cotidianas:

  • ✠ “Pai, magnetize o ar que respiro, a água que bebo e me banho e os alimentos que como, com o Vosso poder de curar as doenças físicas, no períspirito e no espírito e energize-me com fé inteira, saúde plena, arrojo do moço, o vigor do idealista na resistência às tentações e a firmeza na travessia das provações”.
  • ✠ “Pai, ilumine o meu Anjo da Guarda, os Anjos da Guarda dos familiares e os Anjos da Guarda dos amigos, para que anulem as vibrações malignas que venham contra nós, recolham as que estão dentro de nossos lares, do Diário da Manhã, e da APA do Encantado e conduzam-nas para os centros de redimissão na Espiritualidade”.
  • ✠ “Pai, ilumine-me a cabeça com pensamentos nobres e o coração com sentimentos sublimes que rejeitem as ondas de mágoa, ódio, rancor, vindita, ímpios de inveja, surtos de vaidade e impulso de apego à coisas e bens materiais”.
  • ✠ “Jesus, ilumine-me a aura, conduz-me na retidão moral e nos degraus da humildade ao destino dos benfeitores da Humanidade”.
  • ✠ “Virgem Maria, mãe de Jesus e Nossa Senhora, rogai a Deus por mim e mantenha sob o vosso manto todos os meus dias de vida na Terra”.

Deus é o Pai justo nas premiações e é o Pai justo nas reprimendas merecidas pelos filhos. Nós julgamos com benevolência as leviandades de nossos filhos e com virulência as imprudências dos filhos de nossos irmãos em Deus. O dantesco que acontece no contemporâneo em todo o Planeta é a separação do joio do trigo, anunciado há tempos remotos pelo irmão Maior da Humanidade, Jesus. É a derrubada gradual dos tapumes que ensombram os maus à luz dos bons. Na vida pública é o apartar os idealistas dos oportunistas. Na iniciativa privada é o selecionar dos legítimos dos falsários. Nas profissões é o separar dos mestres dos charlatães. Nas famílias é o diferenciar dos corretos dos tortos. Na sociedade é o distinguir, nas plebes e nas elites, os grãos dos restolhos. Não restará Mal encoberto no Bem.

O coronavírus é o primeiro capítulo da série de adversidades funestas pontualizadas na escriptologia das fatalidades no cronograma dos martírios a se cumprirem nesta década na Terra, que é o término da temporada da remissão no arrependimento dos desatinos e, daí em diante, serão três décadas no temporal de exílios dos malvados para uma civilização primata no planeta Kíron.

Quem viver, verá o sofrimento à espera nas amarguras nos anos de despedida dos banidos e, os desterrados, verão penações infernais no umbral e brutalidade nos amargores já encarnados em Kíron.

A estrada que o irmão Jesus abriu-nos para se ir ao Pai é a honestidade na retidão da honra, a bondade sem curvas ao egoísmo e não descer dos degraus da humildade. Entramos na contagem regressiva do tempo dado para nos reciclarmos das impurezas lixosas no dito e no feito acumulado na consciência. As dificultações criada-nos nesse mundo são as contas cobradas-nos de dívidas das facilitações na vida anterior. O inocente, condenado nos foros da Justiça terrena, condenou inocente nas instâncias de outra esfera existencial.

Printura de Akiane Kramarik, médium que pintou, aos 8 anos, o possível retrato verdadeiro de Jesus

O que escorre sangue nos cortes da violência soma patrimônio juntado, no seco do próprio suor e molhado na lágrima do próximo, tirou das tentações o alheio que virá buscá-lo nas provações; o que machuca no sofrimento o caráter de outros, com a nódoa da calúnia, difamação e injúria, põe vendas nas ideologias políticas e nas teologias religiosas a saldo das enganações e ganho do fácil, solenizam-se em tempos que não há mais e refratam-se a mundos caídos nos poderes humanos.

Há, nos Três Poderes da República, salários graduados que são pecaminosos na apropriação indébita do legal nos impostos arrecadados. Existem, na esteira rolante dos incentivos fiscais, faturas pecadoras na sonegação legalizada dos impostos. Têm, nas doações do dízimo, arrecadações pecadoras na profanação à caridade. O sacrilégio da cobiça gananciosa, de malfeitores teimosos nas heresias, profana o casto benevolente dos benfeitores obedientes ao sacro.

As impunidades nas arranjações de inocentes nas culpas e de culpas nos inocentes, em plena era do julgamento no Tribunal do Juízo Final, que o magistrado é Deus, Jesus tem as provas, a Vida é a testemunha, estamos indiciados na lei de Causa e Efeito, cada um de nós receberá a sentença que merecer no retorno do Bem e do Mal.

Esse mundo sempre foi um cofre de crimes guardados nos segredos da sociedade e tem, sempre também, um confidente que sabe o nome do marginal e se trava na covardia ou ao conluio conivente. O comum na ciência da criminologia é a criminalidade maquiar o jaguncismo na insuspeição dos seguranças das autoridades ou na dissimilação dos guarda-costas dos empresários, pois, quando os atentados ou as execuções acontecem, o figurão das castas é criminalizado na criminização do meliante das hordas; e, o que é também comum acontecer, a torcida dos prejulgadores foca-se na suspeição em quem concentrar notoriedade econômica ou significar alicerçamento de celebridades políticas.

Há na história dos crimes, repercutidos nos barulhos das praças públicas, o silêncio dos mortos e as verdades caladas de inocentes acusados que foram as vítimas dos matadores na amizade com os seus mandantes. Os tempos legendam nos elencos da bandidagem um corolário dessa homonímia autoral na biografia da Humanidade. A autoria dos enredos e dos roteiros nessas tragédias é das más companhias. Os personagens configurados nas cenas não interpretaram sequer o papel de coadjuvantes atribuído-lhes pelas claques organizadas na plateia.

Na história do Brasil contracenam protagonizações das más companhias nas mentiras vestidas de verdade nas tragicomédias do Teatro do Poder.

Cláudio Manoel da Costa

No palco, o herói Cláudio Manuel da Costa (foto) suicidado na cela.

Atrás das cortinas, o líder da Inconfidência Mineira assinado na prisão.

No palco, o general Humberto de Alencar Castelo Branco morto dentro do avião caído ao chão.

Atrás das cortinas, o aeroplano que transportava o ex-presidente é derrubado no ar por uma aeronave no atentado a céu aberto, em Fortaleza.

(Os que lerem o livro Castello: A Marcha para a Ditadura, de Lira Neto, ou rememorizarem os anais dos acontecimentos de 1º de abril de 1964, testemunham que os líderes militares e os civis liberais, como o ex-presidente Juscelino Kubitschek, os governadores Carlos Lacerda (RJ), Magalhães Pinto (MG), Adhemar de Barros (RS), Mauro Borges (GO), Ildo Meneghetti (RS), escolheram o general Humberto de Alencar Castello Branco, presidente da República no mandato tampão até às eleições no próximo 8 de outubro de então, por ele ser de vocação democrática e honrado. Chefes das Forças Armadas e chefões da política partidária instituíram a ditadura militar e, deposto, Castello Branco apregoava a volta das eleições livres no povo).

(Os que quiserem saber a verdade da Inconfidência Mineira, devem ler o livro Confidências de um Inconfidente, escrito pelo espírito Tomás Antônio Gonzaga e psicografado pela médium Marilusa Moreira Vasconcellos).

Nas teatralidades das peças exibidas nas ribaltas das ruas, por gajos das más companhias pistoleiras, maquinados de seguranças nos guarda-costas maquinados pelas milícias de aluguel nos porões do submundo, foram os galãs de três festivais ao vivo de banditismo, que estão projetados nas telas da história, dois na posteridade, um no contemporâneo. Um, ao manso do luar no Rio de Janeiro. Dois, às brasas do sol em Goiânia. Os três à sombra do dinheiro, que é o poder que mais assoberba nos outros poderes a vaidade nas famas. Dois tiveram as máscaras rasgadas. Um permanece na máscara.

No palco, o Gregório Fortunato, chefe dos guarda-costas guardiões do presidente Getúlio, no Palácio do Catete e onde o mundo fosse o lugar público.

À noite de 5.4.1954, Gregório sai calado e sozinho. Ao holofote dos olhares, comete o atentado à balas, na Rua Tonelero nº 180, no bairro de Copacabana, ao Carlos Lacerda, deputado federal UDN, jornalista e dono do jornal Tribuna da Imprensa. Lacerda escapa com um tiro no pé. O segurança major Vaz fica morto.

As panelas oposicionistas ferveram nas salivas das línguas. A solidão trancou o presidente Getúlio Dorneles Vargas no Catete. O herói da Revolução de 1930, o ditador do Estado Novo, o presidente deposto em 1945, o presidente reeleito em 1950, foi conduzido misteriosamente ao suicídio, com um tiro no coração à cama e uma carta de despedida ao lado, na madrugada de 24.8.1954, 19 dias depois do infortunado atentado na Tonelero.

O Brasil parou chorando nos velórios das multidões. Lacerda fugiu para os Estados Unidos, voltou e morreu como o derrubador de três presidentes eleitos e entrou para a história, querendo ser um deles. Getúlio está na história como o único líder que governou o Brasil quatro vezes.

Atrás das cortinas, já se indo na despedida dos anos e sentindo na pessoa, o remorso vivo na consciência morta doer na verdade sufocada na alma, fez o testamento do seu arrependimento no depoimento como se ouvisse, nos tiros à noite da Rua Tonelero, a bala que não viu na madrugada do Palácio do Catete.

Na confissão, o pedido de perdão ao revelar que cometeu o atentado de morte revoltado com as denúncias de Lacerda entulhadas de calúnias nas acusações e sem o conhecimento de Getúlio, mas que, sobretudo, decidiu-se a fazê-lo, comovido com a tristeza do amigo em cada surpresa ao descobrir as ingratidões às lealdades estimadas nas falsidades das traições. Penitencia-se que a razão maior do seu desjuízo foi ter escutado, nos corredores do Palácio do Catete, ministros e intelectuais comentarem que o deputado Carlos Lacerda fazia o jogo de cartas marcadas de alianças ocultas.

As autoridades afirmavam que o deputado Carlos Lacerda verberava pelos que desejavam parar o programa Marcha para o Oeste a fim de se tentar impedir que o centro do poder viesse a mudar-se do Rio de Janeiro e de São Paulo para o planalto do Brasil Central. Os jornalistas diziam que o jornalista Carlos Lacerda esbravejava-se enciumado por o Banco do Brasil ter feito o empréstimo de Cr$ 500.000,00 para o jornal Última Hora, do jornalista Samuel Weiner, uma das escolas do jornalismo independente e fechado pela ditadura militar.

No palco, o jornal O Momento panfleta na primeira página a manchete: O HOMEM VOLTOU E DEU À LUZ. A matéria reportava, com texto jocoso no estilo afrontoso, o fato de Pedro Arantes, mandachuva da Empresa de Força e Luz, estar ao boticão, na cadeira do dentista, e a luz apagar. Ele foi à sede e religou a energia. Voltou ao consultório e extraiu a dor dentina. Foi-se embora e mandou redesligar a luz.

À época, a expressão dar à luz era useira no ato de mulher parir e, tinha que ser viril, na quadra das candeias e lamparinas, o varão condutor da EFL, predecessora da Celg na transmissão na rede de quatro décadas e legadora a Enel, há três anos da monopolização usinada nas cachoeiras de lucros e turbinados nas fontes de alta tensão das estações da opinião pública até o momento.

A leitura de O HOMEM VOLTOU E DEU À LUZ deu curto-circuito na fiação nervosa na pessoa no núcleo dos neurônios no macho da EFL. Pedro Arantes fecundou-se de sanha no torpedo de trechos intrigantes. Goiânia empenhou-se no concubinato do leva-e-traz, nas transas das línguas sem o que fazer no rendez-vous das fofocagens, na esquina do Café Central.

Um cadáver levanta uma revolta. Corpo de Haroldo Gurgel, massacrado por jagunços, foi carregado pelos goianos do local do crime até às portas do Palácio das Esmeraldas. Na fotografia superposta no detalhe, a manchete do jornal O Momento que provocou o bárbaro assassinato, com repercussões, à época, na mídia mundial

O tempo das jagunçadas na política em Goiás dava à luz ao dia na manhã de 8 de agosto no ano de 1953. Havia mais revólveres às cinturas que canetas nos bolsos. A redação do jornal O Momento labutava em uma sala alugada no edifício da Avenida Anhanguera e cuja parede à direita murava ao fundo o lote baldio de frente para a Praça do Bandeirante.

FHC

(Lá no terreno que o governador Mauro Borges construiu o prédio da sede do Banco do Estado de Goiás, cedido ao Banco Itaú na privatização instituída por Fernando Henrique Cardoso (foto abaixo) no primeiro mandato. Foi ele o artífice da alteração constitucional, adotiva na Lei Eleitoral da reeleição nos mandatos do Poder Executivo e pregestante de adesões, nas alcovas do Segundo Turno, indutivas ao celibato dos partidos dos candidatos derrotados a amaciarem-se coligados à corrupção e procriarem o segundo mandato presidencial, em que FHC se ninou no berço de dois governos do Brasil e, ao qual, as oligarquias enrabicharam-se às tetas das leiteiras nos partidos amamentados nos úberes da política. O eleitor é a babá nas hostes da demagogia, diversos dos bobões e vários dos bobocas são gestados nos ovários das ideologias).

Nos minutos à beira das 11 horas, depois daquele amanhecer, há 67 anos na data de hoje, Nenê Calango, Domingos Borrely e José Serapião de Sá desapearam do carro choferado por um homem apelidado de Pernambuco, mandaram o porteiro do Lorde Hotel convidar os donos do jornal, pois precisavam ter uma conversa com eles no momento, e ficaram aguardando na recepção, de porta com a calçada. Vieram os jornalistas Haroldo Gurgel, Antônio Carneiro Vaz e o irmão João Vaz. Foram recepcionados à descargas da violência enfurecida, aos solavancos da brutalidade animalizada e ao tom da sentença de morte rosnada na pergunta inquisitiva: “Qual dos três escreveu O HOMEM VOLTOU E DEU À LUZ?

Haroldo Gurgel

Não era nenhum deles, garantiram. E, aos socos de revólveres à mão dos pistoleiros, disseram que não revelariam o nome do autor da matéria e, então ouviram, com as pontas dos canos encostadas nas cabeças e os dedos dos jagunços nos gatilhos dos revólveres armados, que, se não falassem o nome, matariam os três. Haroldo, Antônio e João não se rendiam à fascinorisidade e, quanto mais resistiam tanto maiores ficavam os espancamentos, cometidos aos olhos dos transeuntes passando às pressas na Praça do Bandeirante, assustados com o cangaço aberto ao público sob o limpo do azul no céu e a luz do sol vesperal ao meio dia.

Certamente, temerosos de possíveis testemunhas, Nenê Calango, Borrely e Serapião dividiam o olhar aos três jornalistas e ante olhares vendo-lhes de longe, e decidiram que havia chegado o momento sem adiamentos na execução. Haroldo mentiu que tinha escrito O HOMEM VOLTOU E DEU À LUZ, evidentemente para salvar os dois colegas. Em vão. Haroldo Gurgel tombou morto na tiraiada. João Vaz caiu baleado mortalmente. Antônio Carneiro Vaz a salvo das pontarias ao rolar espancado no chão. Os assassinos fugiram de revólveres às mãos no carro para o encontro no lugar marcado por Pedro Arantes, que se guarneceu na amizade de Pedro Ludovico e os amoitou no Palácio das Esmeraldas.

A céu arregalado, o mormaço da revolta acarrancou os ânimos entreolhando-se exaltados na fisionomia apreensiva da tarde. À vigília das estrelas, o escuro da noite tintou-se de luto na faixa escrita com letras vermelhas na cor sangue, na parede do lote baldio da Praça do Bandeirante: AQUI TOMBOU UM MOÇO DEFENDENDO A LIBERDADE DE IMPRENSA.

Goiânia amanheceu ao clima de velório nas ruas e à toada de rezas nos lares. A barbaridade cadenciou os fôlegos e a liberdade de imprensa por Goiás nas manchetes e editoriais dos principais jornais e revistas das pátrias na Terra. A capital enfezou-se. Abrigou-se sentinela à porta do hospital que salvava da morte as vidas dos irmãos jornalistas João e Antônio Vaz. Amotinou-se armada da coragem, no confronto com as covardias, e carregou, na força da multidão, o corpo do jornalista Haroldo Gurgel numa passeata da Praça do Bandeirante, respingada do sangue escorrido das veias do jornal O Momento. Municiados de ideias livres, cobravam justiça para os mártires das balas dos carrascos homiziados no aposento dos seguranças palacianos. O governador Pedro Ludovico saiu à porta, destemido, com a mão no revólver e avisou que só entrariam passando por cima do seu corpo. O consenso dialogou prudencial na turbulência emocional e a lucidez aplacou a intolerância generalizada nos tufos das iras sopitadas na turba.

O cortejo estradou-se de volta na Avenida Goiás, acolhendo peregrinos nas ruas, acampou-se romaria na Praça do Bandeirante e, aquartelada por militâncias políticas antiludoviquistas, instalaram, no arsenal das acusações à militança do xará Pedro Arantes, o apedrejamento a Pedro Ludovico nas estilingadas das denúncias. O trucidamento selvagerizado do jornalista Haroldo Gurgel, em praça pública, avezinhou o estado de repúdia nos altares à liberdade, nos templos dos democratas, em todas as distâncias do mundo. Legiões de goianos ensandeceram-se nas paixões inconscientes nos prejulgamentos contaminantes da consciência nos julgamentos. E a impunidade mudou-se do crime, no Pedro vindo do município de Rio Verde, para a incriminação do Pedro, que trouxe, da Cidade de Goiás, a capital do Estado para a cidade de Goiânia.

As plateias sectárias, das lides engajadas aos centros de militância na miscigenia dos oposicionistas nos partidos políticos, prolataram queixa-crime consubstanciada em depoimentos colhidos no vozerio do denuncismo, de que Nenê Calango, Borrely e Serapião jagunçavam o Pedro Arantes, que era jagunço do Pedro Ludovico; que o nomeou para chefão da Companhia de Força e Luz e que o acoitou os capangas no Palácio das Esmeraldas para livrá-los da prisão em flagrante; que seria a prova cabal da cumplicidade do governador Pedro Ludovico Teixeira com a bandidagem exibida em praça pública, no assassinato do jornalista Haroldo Gurgel, no jornalista João Vaz baleado e no jornalista Antônio Carneiro Vaz espancado na cena dos três corpos ensanguentados e inertes ao chão; e que a matéria O HOMEM VOLTOU E DEU À LUZ, com ilação duvidosa ao seu machismo, foi o pretexto pessoal para Pedro Arantes assumir a autoria do banditicídio; e que o motivo era o objetivo político de fechar o jornal que atacava com prazer aos pessedistas aos desejos dos udenistas. O tragicídio fechou O Momento.

Goiânia estava rachada, no topo da opinião pública, às pancadas de calúnias no duelo dos governistas e oposicionistas. O juiz Alberto Rodrigues Alves, inteligência afiada, coragem cívica, impulsivo no emocional, passou à noite redigindo a sentença condenatória do Pedro Ludovico e, ao chegar ao gabinete para proferi-la, foi surpreendido por sua demissão no decreto lido pelo juiz Fausto Xavier de Rezende, transferido noturnamente de Jataí para Goiânia. O ar parou nos fôlegos a respiração na sala. O abafamento ficou ainda mais intenso ante o inesperado no clima da vara.

Após a passeata fúnebre retirar-se aos gritos de protestos e pacífica nos atos da porta do Pálacio, o governador Pedro Ludovico Teixeira chamou o secretário da Segurança Pública e mandou conduzir presos o mentor e a trinca de executores do crime. O delegado instalou inquérito policial. Prestaram depoimento. Confessaram que mataram em defesa da honra do chefe deles na EFL, sem o conhecimento do governador Pedro Ludovico, e que o esconderijo no Palácio das Esmeraldas foi improvisado por Pedro Arantes, que assistia à distância o que havia sido programado para ser uma surra boa e, na hora, ficou apavorado ao ver o estardalhaço da violência e os corpos do Haroldo, do João e do Antônio estirados na calçada, nos escondeu depressa no Palácio, antes que o governador ficasse sabendo da morte dos três jornalistas do jornal O Momento.

O silêncio engasgou os arrotos de brabeza no Pedro Arantes, cegou o paradeiro do Nenê Calango, Borrely e Serapião esguaritados um do outro nos botecos. Exonerado da Companhia de Força e Luz, Pedro Arantes foi conduzido à força do destino à estrada de volta à luz da família. Nenê Calango, Borrely e Serapião amargaram a travessia das encruzilhadas na sorte. Nos rastros de todos, ficaram os tropeços históricos que as más companhias trazem aos chefes do poder político e do poder econômico no auge das famas.

Atrás das cortinas, o Pedro Ludovico que não troca de amigos de lutas por amigos do poder, o governador que não se sujou no dinheiro em seus governos, está sepultado pobre na capital que fez no Centro-Oeste a abertura da rota na História do acampamento que Juscelino Kubitschek criou Brasília no lugar demarcado na profecia do santo Dom Bosco, onde será a capital da pátria que governará a Terra ainda neste milênio e que já está nascendo.

Pedro Ludovico era inteiro nele todo. Não falava às costas, nem se calava à frente. Não cobrava insultos na ausência, nem deixava de devolvê-los na presença. Lia em alemão Johann Goethe, o estadista de Fausto e de Clavigo. Lia em francês Gustave Flaubert, o estilista de Diário das Ideias e de As Tentações. Pedro escreveu uma crônica antológica e espelhante da fidalguia em tradicionais famílias goianas que criavam um bobo e uma boba para serviçais aos zelos caseiros. Os bobos casavam-se com as filhas dos patrões e, as bobas, com os filhos das patroas. Com o andar dos anos, essas famílias passaram a ter seus próprios bobas e bobas.

Pessoas assim, como Pedro Ludovico e Juscelino Kubitschek, estão nas dimensões do futuro e a vida os traz, de quando em quando, na solidão do tempo nos séculos, e é essa a razão de não as verem os que se tapam em suas curtezas no presente. E esses são os que se atolaram nos ódios do passado e estão entre os que fincaram o monumento de Pedro Ludovico na tira da Praça Cívica, aos fundos do Palácio, depois despejaram-no para o canto, à sombra das árvores, na beira de uma ruela, quando o local do homem, que é o marco de Goiânia, é no centro de onde está o seu nome, na Praça Cívica Pedro Ludovico Teixeira, de costas para o Palácio das Esmeraldas e de frente para o monumento às Três Raças, que trabalharam na construção da capital; e com pedestal feito de duas pedras no formato da Pedra da Serra Dourada, em homenagem à Vila Boa, onde Pedro Ludovico nasceu. Nas mãos desses obreiros estão as digitais das más companhias do ódio nas mágoas e do rancor nas vinditas, monumentos nas vaidades invejosas. Neles, a História sempre bate com as tacas mais doídas da vida, à porta de suas saídas deste mundo.

(Carlos Lacerda era jornalista fulgurante no condoreirismo dos textos nos panfletos e carbonário nos discursos do político. Quem quiser saber a origem do seu ódio ao Getúlio Vargas, deve ler Getúlio Vargas em Dois Mundos, escrito pelo espírito de Eça de Queiroz e psicografado pela médium Wanda A. Canutti).

No inventário do patrimônio das lutas históricas de Pedro Ludovico Teixeira há grandes heranças de remorsos no legado das memórias isentas em aliados e em adversários, ou como meeiros nas poses ou inteiros no espólio como más companhias. Wilmar Guimarães destacou-se como opositor ferrenho a Pedro Ludovico. Valentão de andar só armado. De inesperado, surpreendeu a todos. Entrou no Palácio Alfredo Nasser espremido de gente no salão, confessou à beira da urna mortuária o seu arrependimento e discursou seu reconhecimento que Pedro Ludovico foi um estadista na política e um homem honrado na vida. O sepultamento de Pedro Ludovico foi ao gosto de seu idealismo na multidão à pé, como se fosse uma procissão e como se o caixão fosse um andor, e ao ritmo de seu romantismo na banda tocando o tango La Comparsita, de Carlos Gardel, da saída do salão nobre, na Assembleia Legislativa, à chegada ao túmulo, no Cemitério Sant’Ana.

O acompanhamento agregou à contrição nos pesares dos filhos nascidos em famílias alimentadas nos governos, do bravo da Revolução de 30 e que, adultos, foram os conjuradores da cassação do seu mandato de senador e da suspensão dos direitos políticos por 10 anos. Era a penitência do remorso na dor da consciência das vivos que abriram feridas da calúnia na honra do morto.

(Quem ler a 9ª edição do Velho Cacique, de Luiz Alberto Queiroz, e Tu és Pedro, de Hélio Rocha, voarão no panorama das distâncias floridas e frutificadas, ouvindo o canto dos pássaros nas festas revoadas, o azul calado na luz do sol e na tormenta dos ventos, mas não verão, nas pedras roladas nos vales, as angústias, e nem enxergarão nos botes das cobras, sob o capim das chapadas, as traições, nas desolações do Pedro Ludovico nas peçonhas mordendo-lhe nos sorrisos das más companhias).

O acontecido ontem, hoje e amanhã nas eras é comentado ali, acolá e aqui a critério das versões controversas de cá e de lá na visão das partes envolvidas, quando, em verdade, a história será sempre esclarecida pelo senhor da razão, o tempo. São demandas do sofrimento transitado e julgado nos aborrecimentos.

Nos diálogos das conversas exacerbadas nos litígios, os litigantes não estão sozinhos um do outro na culpa das falhas recíprocas na falta de juízo. E só existe um lugar para se ir a ele e ouvir a razão na origem das causas nas demandas desaconselháveis e prejudiciais aos contendores. É o tribunal da consciência. Sobram nos julgadores e nos julgados os que nunca estiveram dentro da sua consciência, que é o tribunal onde Deus nos fala, e rezam do lado de fora do coração, que é o templo onde Deus nos ouve. Deus já viu nossos atos ao ouvir nossas palavras.

Ou se mantém tranquilo na travessia das desgraças terrenas e inteiro na firmeza à verdade divina, ou se vacilará no equívoco dos que se endeusam e caem à realidade nos infortúnios humanos, com a paciência esbagaçada nos pandemônios emocionais. Os sofrimentos são carinhos de Deus para a nossa recuperação do apego aos bens na Terra e salvação no aconchego ao bem do Céu.

As más companhias imutam-se no inconsciente da pessoa que nem ela própria tem consciência que as porta. Elas contagiam principalmente nos sucessos dos maus exemplos e empolgam na eloquência dos maus conselhos. A pessoa rica em inteligência e pobre em conhecimento idiotiza a sabedoria no vulgar. Alicia, nas interferências precipitadas, chefes de família nas trocas de amor nas paixões e aliena, nas injunções combinadas, chefes de poder nas gambiras do povo atrás das portas dos governos. São as tentações dos maus nas provações dos bons. As más companhias pearam duas pessoas nas dores partidas em uma ferida unida nas chagas. Maurício Sampaio e Manoel de Oliveira. Eles estão ao céu das atenções mutantes no mormaço dos prejulgamentos. Vou colocá-los inteiros aos olhares abertos da opinião pública.

Manoel de Oliveira merece fazer uma reflexão sobre si mesmo. A vida o levantou menino da carência nas dificuldades e o carregou molhando-se de suor nos degraus da humildade ao alto no jornalismo e na política. Referenciou-o na alegria das glórias com as graças da felicidade nos benefícios recebidos e nas bênçãos dos retribuídos. Chegou onde ninguém o tira do palco da história, embora balançoso na política, e onde escorregou-se no encerado lustroso das más companhias na ribalta do jornalismo e do futebol.

Valério Luiz

A vida condoeu-se e o reergueu gota a gota nas lágrimas do padecimento no Jardim dos Oliveiras. Moem-no os canteiros da angústia nas belezas que não voltam nas presenças que não lhe saem da frente nas recordações. Corta-lhe a saudade nas lembranças da doce bela filha Cláudia da Silva Oliveira e do talentoso e arrojado filho Valério Luiz e seu sucessor nos sonhos do ideal no jornalismo. Nem se descansa no calvário das preocupações dolorindo-lhe o sentimento de apreensões nos carinhos indormidos, ora emergenciais, ora sobressaltados, a toda hora. Sempre, porém, cuidadoso com a meiga e afetuosa filha Patrícia da Silva Oliveira, tão linda no coração que a morte se recusou a levá-la na fatalidade em deferência à vida. E, todavia, nunca menos expansivos na dedicação ao sensitivo e sofrido nos enganos da sorte do filho Mateus Soares Oliveira (foto).

Manoel de Oliveira está na solidão dentro dele, desoladora, mas providencial, pois é nela que se ouve a voz do silêncio nas meditações. Dói-nos muito escutar o que calamos dentro de nós, por isso, Manoel precisa do amparo na bondade das orações dos amigos que estiveram ao seu lado no cume das temporadas benfazejas e não saíram do seu lado pelas bandas aos sopés temporários no malfazejo.

Aqui estou, Manoel de Oliveira, no amigo a vida inteira na experiência existida na resistência aos golpes de surpreendentes desenganos machucantes demais, como aquele em que fui despejado do lar para o desabrigo ao relento das ruas e, você Manoel, emprestou-me um teto para sobreviver na casa vizinha à sua residência, no terreno de sua propriedade; onde morei sozinho dos demais na única companhia do filho Fábio Nasser, que era também o meu sucessor nos sonhos do ideal no jornalismo, e de onde voltei-me dos barrados da noite nos matizes do crepúsculo, solto para a luta no clarão da luz nos horizontes, sem os travos do ódio, os enganchos da vingança e tranquilo na ardidez das perseguições até o tempo trazer-me a hora de reassumir a predestinação na taboa da liberdade e, dessa vez, com o meu filho no espírito Fábio Nasser no Céu e aqui na Terra, junto com os espíritos Alfredo Nasser e Pedro Ludovico, escrevendo-me o que irá acontecer e dizendo o que devo fazer para tocar nas liras da liberdade o hino que os goianos querem ouvir.

Maurício Sampaio era meu conhecido só de nome, à distância de nenhum contato pessoal, e que passei a conhecê-lo, de convívio, ao não fechar-lhe a voz nos noticiários, no fragor dos redemunhos da conspiração que o arrastaram à prisão e levaram-no das décadas no cartório titularizado por ele, aos 29 anos, com a morte do pai Waldir Sampaio, em 3.5.1988. Viu-se deixado às costas de amigos e exposto de frente na cumplicidade de companheiros, graduados ardilosos e coniventes com subalternas más companhias. Franco no que pensa e sente; contudo, é incauto no desconfiômetro e não percebe que raramente a fisionomia da falsidade se descuida, transparece e assemblanta-se no rosto dos desleais.

Ele não tem rodeios nos atos de lisura, como na presteza dos arrimos aos irmãos Waldir Sampaio Júnior, Marcos Borges Sampaio e ao sobrinho Rafael Sampaio Ximenes, ou fugas nos gestos caritativos, como na doação de recursos financeiros para o hospital do câncer Araújo Jorge importar um aparelho dos Estados Unidos, nos adjutórios aos asilos Abrigo dos Velhos, de Bela Vista, e da Vila São Cotolengo, de Trindade, e a outras muitas vielas da orfandade e paróquias religiosas. Chega ligeiro e irrestrito aos apelos do socorro.

Maurício, porém, traz em si impulsos que o maquina de imprudências. Vai às pressas e total nas emoções para o embalo nas soluções, como se ao efeito de síndrome frontal, e derrapa-se nas precipitações dos avais agarrativos à más companhias em companheiros, nos prélios da reincidência dos três mandatos como presidente do Atlético Clube Goianiense, levado pelo azado Odilon Soares, acompanhou-se a inteligências velozes como o perspicaz Jovair Arantes e o sutil Valdivino de Oliveira, competiu consigo favorito em duas reeleições nas jogadas do campo que o gramado é o maquiavelismo, ou seja ou não seja guarda-costas X guarda-costas escalados na 1ª e na 2ª divisão dos times em disputa nas diretorias, às vezes com empates nas goleadas, vitórias por gol-contra, derrotas por gol de pênalti nas traves, mas sempre com gritarias na voz e deformações na palavra nos vernáculos das torcidas organizadas e, o pior, estratificadas nas transmissões das rádios e das televisões com chutes de gritos nos ouvidos dos telespectadores.

O poder reduz o chefão a um encosto das enganações alteadas à onipotência dos que se endeusam. Os aplausos ensurdecem as vaias ante o plenipotenciário que os escutam. A mão que afaga nos abraços dos chegantes é a mesma que esmaga nos tapas dos retirantes. Maurício Sampaio sentiu-se um estádio superlotado de amigos, no coronel Wellington de Urzêda Mota, então comandante de Missão Especial da Polícia Militar de Goiás e nomeado para acumular a Assessoria de Imprensa no Atlético; no sargento Djalma Gomes da Silva e no cabo Ademá Figuerêdo Aguiar Filho, para seus seguranças e resguardá-lo nos tumultos de assédio dos torcedores; no funcionário Urbano de Carvalho Malta, zeloso dos negócios imobiliários; no seu desconhecido açougueiro Marcus Vinicius Pereira Xavier e informante, do sargento e do cabo, dos nomes de traficantes de drogas. É daí que se levantaram os voos do mistério, não se sabe de que asas, das ninhadas de suspeitas no ovário das denúncias que botaram acusações e espalharam penas de sofrimento no Maurício Sampaio.

Ele não gosta de conversa fiada e fiou-se em palavras de fé rasuradas nas algibeiras de autocratas agregados a espertalhões empoleirados nos que entram pobres pelos fundos dos governos e saem empanturrados de riqueza à vista do povo. Deixaram-no na chapada dos relentos. Ele respira ofegante ao abandono das ausências fanhas da respiração com o fôlego no ar de seus bolsos. Maurício experimenta atualmente a rigidez gélida que poucos vivos sentem-na antes de estarem acercados dos apegos calorosos em volta de seu defunto. E é providencial que ele perceba logo de onde vem essa frieza. Vem-lhe dos mortos em amigos vivos.

O mundo se mostrou, ao Maurício Sampaio, o quanto apequenam-se, nas trincheiras da resistência aos percalços, os que se engrandecem nas alegorias das loas. É onde a gente aprende que não se fica conhecendo as pessoas olhando-as de cima no alto, mas ao cair e vê-las ao chão com os pés calçados sobre nós. E se observarmos atentos os rastros deles, veremos nos seus passos as rasteiras que nos derrubaram.

Maurício Sampaio, amigo que a vida me veio trazer, de vez, dessa sua queda, levanta-se! Siga sem rastejos no pó das raivas ou de joelhos nas juras de vingança. Sou calejado dessas golpeadas à tocaia de onde menos se esperava e estou treinado a não me medir com esses fracos no caráter. Guarde suas forças na energia do bem, Maurício. Um dia vai precisar delas. Para levantá-los, caídos, mais adiante. A vida trazê-los-á com as feridas em dobro das que lhes doeram. Receba-os como irmãos no sentimento. E ouvirá as salvas da alma à sua pessoa.

Há menos grãos de areia nos desertos e menos gotas de água nos oceanos que as mentiras ouvidas sobre a verdade das histórias contadas. Existem mais estrelas invisíveis ao clarão do dia nas terras que as olhadas à noite na escuridão dos céus. Tem mais coisas ocultadas no cenário da criminalidade que as presenciadas à frente nas cenas dos crimes. A criminalidade é, de margem a margem na sociedade, a centralidade das impunidades na criminalidade. Um crime não justifica outro, mas pode levar a outro e correlacionar atentados à honra aos atentados de morte. Apedrejamentos de calúnias nas honorabilidades geram espancamentos físicos nos caluniadores. Banditismo atocaiado nas difamações instiga emboscadas da pistolagem aos difamadores. Linchamentos de honras nas injúrias provocam decepamentos de vidas na morte.

Os ferimentos dos esfaqueados, dos baleados, até dos torturados saram e, se deixam cicatrizes, cirurgias plásticas restauram as lesões e implantam a pele. Os estragos no brio ferem a vergonha, doem impressos nas chagas do sentimento e machucam o coração. Mas há tratamento para os dois casos. Doses diárias de bondade saram no sentimento a dor dos ferimentos carnais em 10 anos. A cura para os detratores é a de beberem o veneno dos remorsos enquanto viverem. Isso, se ambos fizerem dieta e não tiverem recaídas. A maioria chega às lamas do rancor para os chãos nos cemitérios.

As más companhias são cobras criadas no serpentário dos poderes. Rastejam macias na adulação. Atraem aos flertes do olhar vigiante dos reféns da vaidade. E sempre mordem com os botes da traição. São entorpecentes na vilosidade. A única salvaguarda a eles é o antídoto do antipuxa-saco. Essas víboras agiram furtivamente nos vespeiros dos porões palacianos no atentado de morte ao jornalista Carlos Lacerda e detonou vilipendiosamente o presidente Getúlio Vargas; e quase depois injustamente o governador Pedro Ludovico, no homicídio do jornalista Haroldo Gurgel e, já infernizou a vida do inocente Maurício Sampaio. E, o que é mais incrível, repete-se a coincidência dos perjuros nas facetas da hipocrisia. Precisou que o tempo desmascarasse as ardilezas montadas contra Getúlio Vargas e Pedro Ludovico e que estão remontadas no ardil armado contra Maurício Sampaio.

Nas escalações dos jornalistas esportivos, há os que se destacam loquazes no doping das paixões que os driblam no vácuo das ideias, como as bolas chutadas que o vento desvia-as dos gols ou cobram pênaltis na trave, enquanto existem os cronistas esportivos camisa-10 nas cabines do conhecimento, que não tropeçam nas arquibancadas dos equívocos palpiteiros e se tornam artilheiros no campeonato dos lances sábios.

Esse é o jogo da sorte nos torneios da vida. Ou se ganha ou se perde, quando menos se espera, e não se sabe quando. O único resultado que é certo é programado no tempo de competição da pessoa nesse mundo, não existe o acaso em tudo que acontece nessa vida.

A tragédia atleticana teve dois tempos, em 2012, com Valdivino de Oliveira, na presidência, Mauro na vice, no elenco da diretoria.

No primeiro tempo, o time jogou desentrosado e o Atlético foi o penúltimo colocado no Campeonato Brasileiro. Maurício decidiu renunciar coadjuvado por Marcos Egídio e Urzêda Mota na diretoria. Os comentários ferveram no clube e fermentaram comentários nos torcedores. Valério Luiz estrelava o programa Mais Esportes, na PUC TV e malaguetou os ânimos salgados do Dragão. “Quando o barco está enchendo de água, os ratos são os primeiros a pular fora”. Levaram uma carta, assinada por Valdivino de Oliveira, para Maurício Sampaio assiná-la, endereçada ao Valério Luiz, comunicando-lhe que estava proibido de entrar no Estádio Antônio Acioli. Maurício estava trabalhando no cartório, assinou.

No segundo tempo, foi o campeonato das Fofocas X Fuxicos na disputa da Taça das Intrigas, com as torcidas organizadas do Leva-Leva Boatos e do Leva-e-Traz Ameaças nas arquibancadas das ruas, com cadeiras nos Botecos do Zum-Zum-Zum, lotados pelas plateias ocupadas no que não têm o que fazer. O clima ardido azedou. O jornalista Valério Luiz não se prudenciou à noite no Mais Esportes, da tevê PUC, e no Jornal de Debates, à tarde, da Rádio Jornal 820 AM. O Atlético não se acautelou no esteirado dos torcedores fanatizados, cabeceadores de arrelias, chutadores de zangas e dribladores do bom senso nos passes na área congestionada de emoções, onde sempre são contundidos, ou cometem impedimentos e saem expulsos pelo árbitro que, às vezes, erra também, para o jogo, confere com o VAR, e anula a falta. Às 14h24 do entardecer do dia 5.7.2012, o jornalista Valério Luiz apresentou o Jornal de Debates na Rádio Jornal 820 AM, do Jovair Arantes, na sede alugada na Rua C-38, Setor Serrinha, e foi assassinado à porta e de surpresa na tocaia do inesperado na calçada e aos olhos dos transeuntes.

Há oito anos, o matador permanece foragido no labirinto das suspeitas embromadas nas conveniências dissimulantes. Há oito anos, o Manoel de Oliveira continua se penitenciando no vai-e-vem da incerteza nas dúvidas do vai-não-vai acabar o seu sofrimento. Há oito anos, Maurício Sampaio está jogado doídamente na roleta das culpas maniveladas à força das aparências acumpliciadas na maquiagem das provas de sua inocência. É dor demais untada por dois martírios na mesma ferida. Mas todos os gemidos já estão sendo ouvidos muito distante daqui e tão perto de todos nós. No Juízo Final.

O Fim dos Tempos escrito na Bíblia, com a palavra de Jesus há dois mil anos, chegou aos nossos dias. Estamos nos restos do impune nas hordas dos Judas e nos jugos dos Pilatos. Nada mais ficará encoberto na Terra. Um a um, dos trigos com casca de joio e dos joios com casca de trigo, irá sendo descascado, dor a dor, alívio a alívio na Humanidade, até a separação dos grãos do Bem dos grãos do Mal.

Assistam, pois, goianos, atentos, e memorizem as interpretações dos personagens nas cenas e nos diálogos dos atos, para conferirem o resultado depois que terminar a temporada da exibição da tragédia esportiva e jornalística. Saberão que os tiros foram detonados por conta própria das más companhias de Maurício, ou de outro dirigente do Atlético; e, não será de espantar, se os tiros vieram de quem o Manoel jamais desconfiara. Porém, saber de onde os tiros vieram ou de onde não vieram, não aliviará a angústia pessoal do Manoel, nem confortará as decepções do Maurício, mas serve de advertência para não se incorrer na reincidência dos prejulgamentos dos delitos com repercussão histórica.

A vileza do extermínio do jornalista Valério Luiz, na Rua C-38, no Setor Serrinha, é uma reprise do gangsterismo cometido contra o jornalista Carlos Lacerda, na Rua Tonelero, no bairro de Copacabana, e do quadrilhado inominável praticado contra o jornalista Haroldo Gurgel, na Praça do Bandeirante. O tempo fez justiça. Inocentou Getúlio Vargas na confissão do guarda-costas e má companhia Gregório Fortunado. Inocentou Pedro Ludovico nas confissões do amigo má-companhia de índole violenta, Pedro Arantes, e nas confissões de seus guarda-costas más-companhias Nenê Calango, Borrely e Serapião.

O que aconteceu com o presidente Getúlio e com o governador Pedro, repete-se com o vice-presidente do Atlético, Maurício Sampaio, resvalado pela imagem das más companhias militares, civis e atleticanas. Nos lances da voz silenciada do jornalista Valério Luiz, na arquibancada das consciências bandidas, há jogadas nos chutes da culpa para as costas inocentes do Maurício Sampaio na cumplicidade nesse crime rafeiro nos latidos da leviandade e aos relinchos de asnos nos pastos do poder. É pensar estar fazendo as pessoas de bestas na opinião pública.

É a dramaturgia encenada no Teatro do Poder. Nesse espetáculo, ganha o poderio do tráfico de influência no jogo das conveniências nos esportes, onde o futebol perde de goleada.

No palco, Maurício Sampaio no alto das suspeitas por haver sido a mira mais destacada dentre a porção dos que estiveram na pontaria do Valério Luiz: “quando o barco está enchendo de água, os ratos são os primeiros a pular fora”, no caso, do Atlético ido para o fundo do Campeonato Brasileiro, embora uma porção de tripulantes do Atlético, à tona das ondas, alcunhados não com o substantivo, mas rato (do lat. ratu), adjetivo. Confirmado, reconhecido, ratificado. E Maurício rodou sozinho na enchente das suspeitas, denunciado.

Foi preso em 2.2.2013 e solto em 22.5.2013. E duas outras novas prisões sucederam-se. O coronel Wellington de Urzêda Mota velejou confidências para a delegada da Polícia Civil Adriana Ribeiro de Barros. O sargento Djalma da Silva e o cabo Ademá Aguiar Filho boiando no remanso dos implicados. O açougueiro Marcus Vinícius Pereira Xavier enfumaçado nas suspeições, por ser informante dos militares quanto a usuários de drogas e de usufrutuários do tráfico. O empreendedor Urbano de Carvalho Malta, gestor dos negócios imobiliários de Maurício, citado apenas por ser uma amizade fiel à estima do patrão a ele.

O indiciamento de Maurício Sampaio se forra de suspeitas deduzidas e não exempladas em provas, a não ser as do testemunho vivo nos olhos da sociedade de suas agruras e dos familiares, obrigados a assistir, durante oito anos, a prorrogação desse jogo infernal na via crucis de um inocente no crime.

Atrás das cortinas, o esconderijo do culpado na caladura dos suspeitos afinados na orquestração do silêncio. O pesar nas moradas da família de Manoel de Oliveira só irá embora, dos batidos do coração doído no peito, só trará paz, nos lares dos familiares de Maurício Sampaio e somente retornará, na felicidade sorridente, no mesmo dia em que esses domicílios estiverem juntos na razão feita. O dia em que a Justiça Divina vai trazer o matador do jornalista Valério Luiz ao descoberto na inocência do Maurício Sampaio. Ela virá rodando no sangue do Valério que derramou o vale de lágrimas no Manoel e as vertentes do suor no Maurício e irá lavá-los no pranto de um e no sudoral de outro nas águas bentas no perdão recíproco na alma dos dois. A vida ressuscitará a verdade no túmulo das consciências no sepultamento geral iniciado nas mentiras dos mundos da Terra.

Maurício Sampaio está sendo esquartejado, amordaçado no sentimento, amarrado ao tronco das aparências na covardia e vergastado pelos que agem agachados à distância, quando é um pilar da coragem pessoal, um sacrário da solidariedade humana e não anda de costas para o que faz. Mas não é só ele o machucado assim. São muitos.

O mundo atual também está uma ferida aberta na vida. Os donos do poder no dinheiro e na política estão cavaleiros montados em poldros selvagens, sem rédeas e com esporas nos dois pés. Tirem-nas e ponham freios nas ambições, antes que a vida encabreste-os aos sofrimentos que causam ao povo, cele-os com as feridas dos outros e apanhe as dores para esporá-los.

Não são as pessoas empencadas de poderes que se aproximam do bando das más companhias. Elas é que se achegam cantarolando as loas, como os pássaros voam para as árvores carregadas de frutas. Fartam-se no granado das copas. Batem asas para outras frondes e pousam enquanto duram os galhos frutificados. Planam nas revoadas para onde houver condição de se aninharem, como as más companhias adejam na selva humana à procura dos poderosos com cachos de dinheiro nos cargos e zarpam nas temporadas do minguado. Os governadores que se rodearam das más companhias, e todas são aves de arribação, tornaram-se maus companheiros das asas que, nos voos rasantes nos tempos arredios, tentam arrancar-lhe as penas os bandaços de morcegos que se empoleiraram em suas plumas no poder.

Não se apagam, no arquivo de minhas rememórias, as confidências confiadas-me por Pedro Ludovico nos derradeiros anos de sua vida e quando o Cinco de Março publicava seus artigos corajosos na ditadura militar. Em nossas conversas, mais ouvidas por mim e faladas por ele, nominava os companheiros fraquejados, numerados nos gestos de gratidão brindados no Palácio das Esmeraldas e nos atos de traição blindados nos quartéis do Exército. E aconselhava-me, ao que me lembro, mais ou menos assim: “Só o idealista integral na ética é estável e não oscila na dubieza dos fanatismos”.

Nem se ausentam do escrito no pergaminho das minhas relembranças os diálogos com o íntegro e intimorato advogado Alberto Rodrigues Alves quando ele era o único procurador do Ipase e apenas eu como seu auxiliar. Tivemos longas conversas abertas na franqueza. Estudava minuciosamente os processos antes de redigir os pareceres, para resguardar-se das armadilhas comuns no emaranhado das demandas nos duelos por direitos.

Um dia avoquei em nossos bate-papos a razão de ele, quando juiz da Comarca de Goiânia, haver sentenciado a condenação do governador Pedro Ludovico, ao impacto da repercussão mundial ante o massacre do jornalista Haroldo Gurgel sol a pino, na calçada da esquina das Avenidas Anhanguera e Goiás, na Praça do Bandeirante, baseado na evidência de os pistoleiros serem remunerados pelo presidente da Companhia de Força e Luz do Estado, quando ficou provado que Pedro Ludovico era inocente e tinha sido vítima das más companhias de Pedro Arantes, seu amigo de entrelaços da amizade há filas de anos. Alberto Rodrigues Alves ouviu-me, calado, e respondeu-me, com reteza moral, que aquela era a razão de sua reflexidade ao escrever os pareceres nos processos do Ipase.

Alberto Rodrigues Alves era uma inteligência privilegiada na erudição jurídica, caráter retilíneo, coragem sem as curvas do medo, dinamismo incansável, o trabalho produziu-lhe uma fazenda no município de Bela Vista. Ao chegar lá, os peões avisaram-no da ladroagem de um deles e provaram. Alberto o chamou, demitiu, pagou e mandou ele ir-se embora na hora. O peão foi. À tarde, ao vir para Goiânia, ao descer para abrir a porteira da saída, na divisa da fazenda, o peão estava atrás do moirão, o matou a tiros e fugiu, como se esconde toda má companhia. Alberto Rodrigues Alves permanece vivo e andando em todas as estradas da minha admiração.

Tampouco deixo de visitar nas reminiscências a piedade que senti do meu colega no colégio Ateneu Dom Bosco, Ailton Arantes, filho de Pedro Arantes, e que a vida endereçou-o para a vocação no jornalismo nos anos ainda ensanguentados da presença de Haroldo Gurgel nas rodas de conversa. A discriminação teve o afiado da cimitarra na censura e trancou-lhe as portas de emprego nos jornais e rádios. Ele, pobre, convivendo em casa com o isolamento no pai do poder, olhado por jornalistas nas ruas como se fosse herdeiro do assassinato de Haroldo Gurgel, Ailton fundou uma revista e estabilizou-se financeiramente para sobreviver com dignidade.

Desde menino, nascido no ambiente sertanizado, rejeito devotamente a correlação de se repassar aos pais e aos filhos os méritos ou os desapontos de um para o outro, e sempre defini o preconceito como a má companhia idiotizada nos hábitos do atraso cultural. O Ailton trazia-me dados, fotos e documentos das matérias que redigi e foram publicadas no Cinco de Março. Ailton Arantes foi uma pessoa com o coração em todas as carnes do corpo.

Sobretudo repasseiam,no inesquecível das minhas gratidões, as tantas vezes que o desastrado pelos maus conselhos Nenê Calango esteve comigo, na sala da editoria-geral do Cinco de Março, para desagoniar-se no arrependimento da morte do jornalista Gurgel nas balas do seu revólver. Minuciava detalhes, confessante do seu remorso e prolongava-se nos relatos, engasgado na voz, das doiduras cometidas naquele momento do atentado de morte ao jornalista Haroldo Gurgel, até por que, ficou sabendo depois que o autor da matéria O HOMEM VOLTOU E DEU À LUZ era outro jornalista, o Wagner Pimenta, que se mudara com medo, de Goiânia para Brasília, e chegou a ser presidente do Tribunal Superior do Trabalho no biênio 1998-2000.

Ouvia-o, o Nenê Calango, paciencioso e atencioso dizer, repetidamente, que “a causa dessa desgraça, que me persegue no remorso, foi eu ter envolvido-me com as más companhias que me transformara numa delas”. Nenê Calango calava-se de repente, ficava cabisbaixo olhando para o piso da redação e, demoradamente, agradecia-me por escutá-lo e concluía: “essas conversas aliviam-me do que ouço todo dia dentro de mim”.

Nenê Calango amargou o remorso de ter ajudado a trucidar um inocente

A última vez que o Nenê Calango esteve no Cinco de Março, esquina da Rua 61 com a Avenida Goiás, acompanhei-o até à porta, despediu-se com o calor do abraço e o muito obrigado na voz. Fiquei olhando-o subir à pé a Avenida Goiás, os ombros curvados, como se carregando o peso do passado.

Então aí é que eu passei a ver, ainda adolescente no jornalismo, uma lição do bem, no exemplo do mal, dada-me pelo Nenê Calango. Que é a de nunca haver criado nos meus textos uma vítima da compunção como a que penalizou nos tormentos dos remorsos o vitimador do jornalista Haroldo Gurgel. Calúnia, difamação e injúria são crimes das inteligências bandidas e os prejulgamentos são os juízos na consciência dos autojulgados.

A independência da liberdade de opinião está na dependência direta da isenção no caráter do jornalista. Sempre adverti aos editores, redatores e repórteres que trabalharam comigo, como editor-geral, para o cumprimento obrigatório da norma ética da isenção nos textos e que, nas matérias polêmicas, têm que ser publicadas as versões de todas as pessoas envolvidas nas questão. Sem exceção! Ainda que uma delas tenha confessado a autoria do ato criminoso, seja condenada pela Justiça e esteja cumprindo a pena da sentença no presídio. A versão das pessoas, enredadas no contexto, honesta a credibilidade da reportagem, por mais carbonário que seja o conteúdo da denúncia; assim como o recato das palavras, nos textos, enobrece o estilo e atesta a elegância literária do jornalista.

(Na duração dos meus 68 anos, abrindo fronteiras no jornalismo, vocacionado à liberdade e devotado à independência de opinião, tanto na época do jaguncismo na política, quanto no período totalitário da ditadura militar, fui enquadrado apenas em crimes de imprensa, ambos já quando no Cinco de Março, e por duas matérias, que nenhuma delas foi pautada ou escrita por mim.

A primeira, de autoria de um jornalista fogoso do CM e a coparticipação de um deputado estadual da UDN, debulhando uma corrupção espigada no governo de Mauro Borges. Sentenciaram-me conjuntado ao colega a seis meses de detenção, suspensa (Sursis).

Houve uma coincidência estranhamente reveladora de sua coligação com outra ocorrência no destino. O juiz desse processo era o único sócio do presidente da empresa autora do segundo processo, quase uma década depois.

A segunda e última, também pautada por dois jornalistas renomados e escrita pelo mais culto deles, manchetou uma denúncia contra uma poderosa concessionária da indústria de veículos. O sócio do juiz me processou. A ação era inconsistente e ressonou silenciada. No governo do Otávio Lage desarquivaram-na no instrumentalizado nos desafinos da política orquestrada nas más companhias do governador.

Condenaram-me a oito meses de prisão. Cumpri-os no cárcere do quartel do Departamento de Instrução (DI). Fiz da cela a minha redação, e os corruptos continuaram a ter o sono mais curto às segundas-feiras.

Outra coincidência curiosamente intrigante. Quando o tempo já havia se envelhecido mais de década, o juiz do primeiro processo concedeu uma entrevista exclusiva ao Cinco de Março enumerando minuciosamente, no descarado dos segredos, as causas do seu abrupto rompimento com a sociedade milionária.

Teve mais uma coincidência no inesperado do destino. O jornalista Modesto Gomes, de uma postura impressa no nome, empatada com a bondade e a honradez, sabia que festa não é o meu ambiente, trouxe-me o convite verbal do prefeito para a festa de aniversário da cidade de Paraúna, fez-me garantir que iria e ele prometeu esperar na praça da comemoração. O juiz que me condenou estava lá. Chamou-me cordial para um lado, falou que minha condenação era inconsistente perguntou se eu tinha como perdoá-lo. Respondi que não tinha como, por não tê-lo condenado. Perto de nós, espremeu-se de gente e a conversa acabou sem terminar.

Escorrida uma semana, um deputado federal otavista telefonou que precisava falar comigo, urgente, em seu escritório de advocacia. O desembargador aguardava-me um pouco angustiado. O deputado adiantou-se, ao assunto, conciliativo na ponderação de que o desembargador admirava-me, mas que não teve como negar o apelo de um amigo para condenar-me. Eu tinha conhecimento dos entrelaços concessivos do delegado de polícia, em Goiânia, que tinha gratidões ao juiz e prenderam-no ao sentimento agradecido que não teve como impedi-lo de condenar-me à prisão. Abracei-lhe e nos mantivemos fraternais até quando a vida o levou a Deus.

Não nomino os personagens, todos longevos na estima ou idosados no companheirismo do jornalismo, porque não estão mais na Terra. Até porque a razão unitária na prioridade do fundamental, na abordagem das duas condenações como tema, é a essencialidade das versões na abordagem de episódios trovejantes nas denúncias, relampejantes nas acusações e estalos de raios nas ameaças. A maioria quase unânime começa no mormaço dos boatos nublados de intrigas, a temperatura das apreensões altera o clima dos ânimos e provoca a turbulência das ventanias no ar do bom-senso, às vezes, respingam gotas da verdade nos chuviscos das mentiras, armam-se temporais de calúnias, mas sempre terminam com as honras rodadas nos enxurros, ou costuma acabar goteando sangue nas casas, ao céu limpo no olhar dos malfeitores).

A coragem é calada de rompantes, anda de frente, chega de frente, fica de frente no que faz, nunca está às costas no caráter. A valentia é a covardia barulhenta nos medos, falante por trás das ausências e emudecidas na frente das presenças.

Acampados em meus ombros, desordeiros da liberdade de imprensa pisotearam honras nas afoitezas valentonas, como se escrevessem espelhados em suas consciências. Sinto-me culpado, irrevogável no arrependimento, por tê-los avalizados em branco na confiança em suas imprudências. Mas essa também não é a questão mais relevante no rosário dos equívocos. Àquelas épocas, os implicados nos desmandos recusavam a se manifestar e os jornalistas escorregavam-se babas das fontes salivantes de maldosidades.

Mas esse tempo se foi, sem volta, para os que continuam de trás do passado. São as cobras invisibilizadas no veneno das línguas de jornalistas e de políticos cheios do nada no vazio em tudo que lhes saem das bocas. Anêmicos de conhecimento, infectam o falatório populesco nas redes sociais com a universalização de suas ignorâncias pessoais na internet. Estão contaminados na mente pela peçonha da malandragem boquirrota nas más companhias dos vadios no inocentado da população.

As hordas das aparências dissimulam-se do verdadeiro. Prejulgamento é má companhia no julgamento. Preconceito é má companhia no fanatismo. Traição, ingratidão e delação são más companhias no caráter. A cobiça e a ganância são más companhias do ganho no trabalho. A mentira e a preguiça são más companhias do desânimo da verdade. A soberba e a imponência são as más companhias nos tropeços nos degraus da humildade. Não existem santos vivos. Os altares dos poderes terrenos endeusam e encapetam pessoas nas más companhias que estão dentro de si mesmas. Há más companhias dentro das fardas, das togas, das batinas, dos engravatados e até dos descamisados, de todos nós. Somos tantos na Humanidade que vivem sozinhos da companhia da consciência.

Tudo nos poderes do governo começa e se finda no povo, como a ascensão da ditadura militar nas multidões da Marcha da Família com Deus pela Liberdade ou como a queda dos ditadores militares nas multidões nas Diretas Já, que se infestaram de más companhias que se apoderaram diversificadas de saldo a roldão nas hipocrisias das ideologias à direita e à esquerda nas sucessões da corrupção no Brasil.

Agora é o tempo nascido do dia 1ª deste século, no parto em que morreu o tempo com 2 mil anos para viver no berço a honestidade boa e a bondade honesta, apregoadas por Jesus. Os que sofreram deverão apiedar-se dos que os fizeram sofrer. A vida concede prazo para o arrependimento, como os planetas giram torno do Sol, ela acompanha cada pessoa em volta da sua idade, marcando as cobras criadas nas más companhias e irá explodindo-as no curso dessa década, acopladas à purgação do mal que causaram.

Começou a Marcha da Paz no santuário dos perdões. Ninguém precisa preocupar-se com o endividário de quem quer que seja. Conta a contas de devedor a devedores, virá no supremo tribunal do Juízo Final, quitada no arrependimento ou parcelada no sofrimento. Será em vão a prorrogação dos que se adiam nas repetições dos desdouros no alto dos governos, nos tronos do dinheiro ou nas baixezas das periferias humanas na Terra. Os flagelos da expiação virão gradativos nas doses intercaladas e progressivas no saneamento das enfermidades morais durante os próximos 10 anos e, aqueles que não se reverem das práticas mundanas nas más companhias em si próprios, amargarão a sentença final dos castigos no Armagedom. Deslizem-se do cascavelismo no ódio, desdoam-se da cupidez na ganância, libertem-se da escuridão aos bens materiais, saneiem-se da devassidão no amor, não perjurem fé nas rezas e salvem-se, enquanto é tempo, das tentações da inveja, da vaidade, da soberba e desçam para os degraus da humildade antes que se arrastem aos gemidos no doloroso das provações.

Todos os governadores de Goiás vivos tiveram ou têm más companhias grudadas a seu arredor, várias das que estiveram nas que estão com eles, diversas serviram-se deles e diversos se serviram delas. Mas esse não é o desmodo vicioso só no Estado ou só no País e, sim, o modo useiro nos costumes oficializados em todos os governos do mundo atual e antigório nos hábitos enrabichados ao familiocratismo empreguista e sustentador de muitos que, dentre eles, falam e fazem coisas em nome de suas Excelências, prejudiciais a elas. E não tem sido pouco nas vezes demais.

Os corredores da História estão empilhados de líderes que estiveram por cima no poder, caíram e ficaram por baixo na política, mais na frente voltaram para o alto na queda dos que estavam nas alturas e, assim, no vai-e-vem das gangorras do destino, os subidos e os caídos na balança do determinismo nas mudanças históricas da evolução, revezaram-se nas idas e vindas nos caminhos palmilhados pela Humanidade. Dessa vez, não haverá intervalos mais nas ascensões e quedas, porque é o definitivo do que ficará no perene dos tempos.

A pessoa que se mantém na alma o convívio com a Espiritualidade sabe que está sendo cumprida a profecia do santo Dom Bosco e que será aqui, nas terras goianas do coração do Brasil, a capital da civilização que governará o mundo antes do fim desse milênio. Goiás tem o predestino de dar ao País o exemplo de libertação dos feudos do ódio nos sentimentos, das entranhas do individualismo no coletivo e da coragem de dar o passo que deixará os rastros interrompidos em Juscelino Kubitschek.

O governador Ronaldo Caiado e os ex-governadores vivos do Estado, Iris Rezende, Marconi Perillo, Alcides Rodrigues, Irapuan Costa Júnior, Maguito Vilela, Ary Valadão e Leonino Di Ramos Caiado devem reativar a Frente Ampla que unificou JK, Carlos Lacerda, Jango, Brizola etc, que venceram suas adversidades partidárias e ideológicas para livrar o Brasil dos déspotas encapados de democratas encapados nos condões agrupados ao retrógado, a desfraldarem a Frente Ampla como bandeira das alianças ao Bem rebelado contra as cafuas do Mal. Ou se unam contra as más companhias que inimizam nos âmagos pessoas que foram amigas, ou deixem de rezar no Pai Nosso, a única oração que nos ensinou Jesus, esse trecho: “Perdoai nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores”.

O cenário dos pecatórios vasta-se em Goiás. Mas existe um que se prolata no concubinato siamesado na culpabilidade e na inocência. Conluilaram-se nas más companhias o aborto das versões que omitem o nome do mandante e do matador do jornalista Valério Luiz no repasse das culpas no crime para o inocente Maurício Sampaio, que está sendo escaldado naquelas mesmas águas que o juízo dos reais culpados lava suas mãos na bacia de Pilatos. A autoria de um assassinato de um jornalista verboso ao terminar a apresentação do programa Jornal de Debates e ser executado a tiros, do porte dessa pistolagem, às escâncaras da rua às portas da rádio, é notório que foi planejado e tem cúmplices amordaçados pelo medo. E, o mais implicantemente estranhável é que o coronel Wellington de Urzêda Mota, recente ex-diretor-geral de Administração Penitenciária, o sargento Djalma Gomes da Silva e o cabo Ademá Aguiar Filho, experientes na lida com redutos da marginalidade, não foram capazes de rastrear o homicida do jornalista Valério Luiz, embora figurem como possíveis suspeitos no cochichar das ruas. O mistério no enredo desse crime, de grande audiência na opinião pública, imita os dramas da literatura inglesa dos contos do detetive Sherlock Holmes nos filmes. O bandido nunca é aquele que transparece ser ao longo da história. Só é revelado nas cenas finais. E surpreende sempre os telespectadores.

O tempo contemporâneo desce no atemporal o princípio do porvir nos sinais diretos do coronavírus, as sinalizações indiretas do fim do corruptovírus. As máscaras que as pessoas decentes estão usando e que eram utilizadas só por bandidos, simbolizam na imagem do bem a insinuação que chegou o momento de tirar as máscaras da hipocrisia. A quarentena, que reagrega os familiares ao convívio nos lares, é a advertência para os chefes de família se ausentarem da frequência às fuleragens. As empresas que franqueiam milhões em dinheiro nos donativos, ou encaminham toneladas de medicamentos e materiais presenteados aos hospitais e enviam frotas de carretas carregas de cestas básicas para as legiões ao relento da desnutrição, é a repreensão clara para que os empresários passem a pensar mais na vida do próximo que na acumulação dos lucros.

Não se deve santificar os pobres ou praguejar os ricos. O valor que se mede na pessoa é a riqueza ou a pobreza moral. Todos somos dependentes uns de outros. O patrão carece da mão de obra do empregado e, o trabalhador, depende do empregador que, também é dependente do serviço do operário. Esse é o livre-arbítrio que faculta à pessoa a escolha do modo de viver.

O escrito no destino é o regulamento do que o espírito veio cumprir na Terra. Não nascemos aqui, apenas reencarnamos. Somos filhos de Deus, irmão de Jesus, viemos amarrados à corda de sestro, não há acaso no que nos acontece de louvações e de judiações nessa vida. Não cortem essa corda ao travo das amarguras, sob pena de tê-la amarrada ao pescoço. Foi o que fizeram com o Maurício Sampaio, as suas más companhias atleticanas.

Este é o tempo cumpridor da Palavra de Cristo na conversa com João Evangelista.

Estamos vivendo de costas para o que chegou e de frente para o que acabou. É o princípio do prazo final para o cumprimento das palavras de Jesus, escritas no Velho Testamento. É o fim da riqueza patrimonial na pobreza moral dos patrões do povo nos donos do poder.

O quadro exposto na galeria do tempo é o do Apocalipse. Desçam o olhar do alto na moldura. Observem na tela os acontecimentos. Enxergarão o que não querem ver na pintura:

Restos do passado no acúmulo dos poderes exalados no presente. Se o vivido nos tempos ficasse visível e a pessoa pudesse se ver do presente no passado, todos passariam a falar mal só de si próprios e a falar só bem dos outros.

Restos de honras, ausentadas do caráter amolecido ao dinheiro, perderam-se da decência no desuso em série e contínuo nos ruminados mentais flutuantes no vácuo das ideias.

Restos de sonhos do idealismo no cívico das ideologias políticas e no credo das teologias religiosas no bifurcado do endinheiramento nos incentivos fiscais e nos dízimos. Suas mudanças apregoadas são cópias rasuradas de originais de continuísmo reprodutor das demagogias acobertadas.

Restos das riquezas glorificadas nos brindes das faturas nas verbas comemoradas aos banhos nas águas mansas das piscinas, ou comemoradas nos ganhos sem suor aos abanos do ar-refrigerado nas alcovas, ou comemorativos nas apolências ao claro de fogueiras aos santos humildes no apogeu e empobrecidos de bens materiais.

Os que estão nos tronos da política, do dinheiro e da fama, acautelem-se. Sintam-se à tona da turbulência das mudanças que varrerão a Terra de vez, dessa vez. Aquietem-se na paciência. Resguardem-se dos bolsões da imprudência nas ondas de raiva. Não devem nadar nas enchentes dos rios, nem saírem ao vento nas tempestades, tampouco ficarem à luz nos incêndios. Os poderes terrenos girarão na força das mudanças como na roda-gigante manivelada pela mitológica deusa Fortuna. Os que estão sentados nas cadeiras rodarão subindo e descendo enquanto durar a rotação ciclônica do Apocalipse até a chegada ao Fim dos Tempos da corrupção.

Toda máscara porá o rosto p’ra fora.

A morte empreitada do jornalista Valério Luiz vai tirar duas máscaras das caras.

A máscara que vai tirar a dor do coração do Manoel de Oliveira na face do matador.

A máscara que vai tirar o sofrimento da inocência no Maurício Sampaio na face do mandante que empreitou o matador.

Doem, sem igual e iguais na pessoa, a morte de filho no pai e a injustiça na honra do cidadão. E doem no Pai de todos.

BATISTA CUSTÓDIO

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