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Radiohead fez disco dark e distópico no final da década de 1990

Na segunda metade dos anos 90, o rock caiu fora das paradas de sucesso e deu lugar para o pop pasteurizado pela indústria fonográfica. As guitarras não eram mais o elemento fundamental na construção melódica das canções, e sim as ambivalências eletrônicas: era uma experimentação de como o gênero seria no século XXI.  No Brasil, a banda Barão Vermelho (nome de peso na história do rock brasileiro) flertou com a novidade no disco “Puro Êxtase”, de 1998, desagradando os fãs mais ortodoxos que estavam acostumados com a pauleira de “Supermercados da Vida”, de 1992, e “Carne Crua”, lançado em 1994.  

O rock sempre se reergueu nos momentos em que se encontrava em baixa. Distópico antes disso se tornar moda na cultura pop, com histórias de paranoias, insanidades e viagens doidonas virando padrão de criatividade, o disco “Ok Computer” (1997) - terceiro álbum da banda britânica Radiohead, formada no final dos anos 80 - antecipou o som que ia guiar as novas bandas surgidas nos anos 2000: a estrutura da música misturava os riffs de guitarra (às vezes até o sucumbiam à tecnologia computadorizada) ao eletrônico. Mas, neste ano (quase) dispótico de 2020, o que chama a atenção nesse trabalho é o confinamento da pandemia.  

Banda sacudiu o rock em meio ao britpop de Oasis - Divulgação

Com um processo criativo semelhante ao modo como a humanidade vive nestes dias de cornavírus, boa parte de “Ok Computer” foi gravada com a banda em isolamento, em St. Catherine, mansão elisabetana no interior da Inglaterra. Após o exorbitante sucesso comercial da pesada música “Creep”, o Radiohead lançou seu segundo disco, “The Benders” (1995), o que faz com que o quinteto deixasse de se apresentar em bares e pubs para tocar em lotadas arenas do Reino Unido e do Japão. Mas o que era para ser uma composição punk impressionante, se tornou algo estranho e chulo aos ouvidos do público norte-americano.

O selo Parlophone sabia que a ideia do novo disco era arriscada, mas poderia ser um sucesso, e não exitou ao adiantar para a galera do Radiohead 100 mil libras. Uma vez munidos da grana, os músicos compraram equipamentos de gravação e se isolaram do mundo, onde trabalharam longe dos olhos da gravadora e dos agitos comuns às metrópoles. As gravações começaram num estúdio pequeno e apertado, com apenas um técnico de som, Nigel Godrich, que mais tarde virou produtor renomado e braço direito da banda.  Na mansão, o grupo encontrou o ambiente perfeito para as experimentações estéticas que buscavam.

Foi no salão de baile da casa, ornado por painéis medievais e uma tapeçaria (bi, tricentenárias?)  pendurada na parede, que rolou a sintonia necessária para fazer a coisa acontecer. As gravações foram feitas da maneira mais crua possível, com o Radiohead praticamente tocando ao vivo. “Exit music (for a film)”, canção composta para a trilha sonora do filme “Romeu + Julieta” (1996), do diretor Baz Luhrmann, teve os vocais de Thom Yorke registrados numa escala de pedra. Na faixa “Fitter Happier”, a parte em que é mais falada foi originada num simulador de voz feito em computador. O rock cedeu às novas tendências.

O disco não foi denominado de “Ok Computer” à toa. A expressão, é importante destacar, foi tirada do livro “Guia do Mochileiro das Galáxias”, do escritor britânico Douglas Adams. Um dos melhores momentos de todo o disco é a balada “Lucy”, penúltima música. Acompanhada pela guitarra de Jonny Greenwood, a letra fala sobre o momento que os músicos viviam na ocasião, de estar flertando com a consagração no show business (“I´m on a roll/ I´m on a roll this time”, algo como “Eu experimentando o sucesso/ Eu estou experimentando o sucesso dessa vez”). O Radiohead ressuscitou e deu gás ao rock na virada do milênio.

Mesmo com o temor de ser um fiasco comercial sonoramente diferente, “Ok Computer” mostrou que é possível compreender o rock de uma maneira mais livre. Provavelmente o maior legado do disco foi unir o eletrônico às guitarras potentes e poderosas do Radiohead. Era a união sonora de todos os elementos possíveis na hora de formar paranoias, crises existenciais e motivações musicais das espécies mais diversas. Por essas e por outras, “Ok Computer” se tornou um dos maiores discos de todos os tempos, e dizem que foi o último grande álbum de rock. Fazer isso no auge do britpop de Oasis e Blur, é muita coisa.

Ficha técnica

‘Ok Computer’

Banda: Radiohead

Gênero: Rock alternativo

Disponível nas plataformas de streaming

Capa do álbum - Divulgação

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