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Novo documentário de Silvio Tendler é exibido nesta segunda (17) em mostra

Silvio Tendler, 69, tem certeza de uma coisa: é preciso rebater com filmes e ideias os frequentes insultos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao cinema brasileiro. Documentarista renomado na América Latina e autor de obras ovacionadas pela crítica e público, como “Jango”, “Os Anos JK”, “Marighella”, “Glauber O Filme” e “Utopia e Barbárie”, Tendler não perdeu a sede em explicar a vida como ela é e o que há por trás dos fatos históricos. E não é para menos: o audiovisual forma “opinião e mentalidade”.

“Cabeças ocas têm medo de cérebros pensantes”, explica ao DM, com exclusividade, o cineasta. De fato, é por esse caminho que ele enveredou no novo trabalho. O longa-metragem “Alma Imoral”, baseado na obra homônima do rabino Nilton Bonder, é um convite para refletir sobre a existência humana. “O objetivo do filme é mostrar que o universo é fundamental e que as transformações mudam a humanidade”, diz Tendler, cujo documentário será exibido nesta segunda-feira (17), às 21h, como parte da 13ª mostra O Amor, a Morte e As Paixões. 

Com depoimentos de personalidades de origem judaica do calibre do linguista Noam Chomsky e do teólogo Steven Greenberg, o didático documentarista retrata uma jornada que mistura transgressão e intolerância. Ao longo do filme, Tendler chama o espectador para refletir sobre os conceitos de corpo e espírito, matéria e transcendência, obediência e ruptura, passeando pela trajetória de personalidades históricas com a finalidade de compreender as tradições e expandir as fronteiras da consciência a caminho da tão sonhada evolução.

Ou seja, em “Alma Imoral”, Tendler está diante de uma matéria-prima um pouco diferente das lutas sociais, crises econômicas e agrotóxicos que marcaram quase toda sua produção cinematográfica. Aqui o público se depara com a representação da busca pelo pensamento. “Gosto de tudo o que faz pensar”, afirma o documentarista. Na juventude, o cineasta fora fisgado por Federico Fellini e Ingmar Bergman (“que não eram politicamente engajados, mas nos faziam pensar”). “Hoje, não tem um artista de direita decente no Brasil”, declara. 

Por isso, diz o autor de “Utopia e Barbárie”, a sociedade não pode ter medo de discutir ideas. “Diante da barbárie não há neutralidade possível”, reflete. Sobre a indicação de “Democracia em Vertigem” para concorrer ao último Oscar na categoria de Melhor Documentário e as insinuações de que o filme teria sido parcial, Tendler lembra uma máxima do jornalista Sérgio Augusto: só há imparcialidade se “a câmera estiver desligada”. Augusto escreveu essa frase numa crítica para a Folha de S. Paulo e se referia ao filme “Jango”, de 1984.

Trajetória

Tendler se aproximou do cinema em 1965 quando foi cineclubista. Mas, para completar sua formação, morou em Paris durante em boa parte da década de 1970. Nestes anos trabalhou na realização do filme “La Spirale”, de 1975, sobre o golpe civil e militar instaurado pelo ditador Augusto Pinochet, em setembro de 1973, no Chile. Mestre em cinema e história pela Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, de volta ao Rio de Janeiro, lança “Os Anos JK, Uma Trajetória Política”, seu primeiro longa-metragem, finalizado em 1980.

É professor de cinema no Departamento de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) desde 1979. Influenciado pelo Neorrealismo Italiano e pela Nouvelle Vague francesa, Tendler consolidou durante a década de 1980 o gênero documentário no Brasil, com filmes como “O Mundo Mágico dos Trapalhões”, de 1981, e “Jango”, de 1984.  Após breve hiato, retorna à direção em 1998, com o longa-metragem “Retrato Falado de Castro Alves, único filme de ficção que fez. 

Documentarista Silvio Tendler no programa “Sem Censura”  - Foto: Ana Paula Migliari

“O cinema político ajudou a mudar o mundo”, avalia. Em 2001, com apenas R$50 mil, filma o média “Marighella, Retrato Falado do Guerrilheiro” (“o meu é mais completo”, definiu ao jornalista Renato Dias, em entrevista que faz parte do livro “História Para Além do Jornal”, o filme “Marighella”, dirigido pela sobrinha de Clara Charf, mulher do guerrilheiro da ALN, Isa Grinspum Ferraz). Um ano depois, lançou “Glauber o Filme, Labirinto do Brasil”, em que mostra depoimentos e imagens de arquivo do velório e enterro do cineasta.

Termina, em 2006, seu sexto longa, “Encontro com Milton Santos ou Mundo Global Visto do Lado de Cá”, filme que conta com uma das últimas entrevistas concedidas pelo geógrafo Milton Santos. Mas foi com “Utopia e Barbárie”, em 2010, que ele impressionou pela síntese, em duas horas, de acontecimentos que marcaram as últimas cinco décadas. O longa interpreta fatos como a tragédia das ditaduras na América Latina, a derrocada do stalinismo personificada pela Queda do Muro de Berlim e os escândalos do maoísmo na década de 1990.

“O socialismo nem nasceu ainda, como haveria de ter morrido? As experiências que tivemos infelizmente fracassaram”, analisa Tender. E o fim dos cinemas de rua? “Tirá-los é uma questão ideológica e foi para tirar a liberdade das artes. Uma pessoa que come fast-food e foi fazer compra no shopping não vai assistir a um filme político”, explica. Tetraplégico desde 2011, Tendler não para de fazer filmes: “Tancredo: A Travessia”, “Militares da Democracia”, “Privatizações: a Distopia do Capital”, entre outros. Com Tendler, o cinema é resistência.

Serviço

Exibição de ‘Alma Imoral’ na mostra O Amor, A Morte e As Paixões

Quando: hoje

Horário: às 21h

Onde: Cinema Lumière do Banana Shopping

Endereço: Avenida Araguaia, 376, Centro, Goiânia

Ingresso a R$12

Silvio Tendler em quatro filmes

‘Os Anos JK, Uma Trajetória Política’

Em seu primeiro longa-metragem, Silvio Tendler conta a trajetória do presidente Juscelino Kubitschek, desde os tempos em que ele era prefeito de Belo Horizonte, passando pela construção de Brasília nos anos de 1950 e desembocando na perda de seus direitos políticos. 

‘Jango’

Documentário mostra a tensão que tomava conta da política no Brasil no início da década de 1960. “Jango” narra detalhadamente como se deu o golpe civil-militar de 1964, os movimentos de resistência contra a ditadura, o exílio do ex-presidente e seu funeral.

‘Marighella - Retrato Falado do Guerrilheiro’ 

Neste média-metragem, o expectador revive a trajetória do ‘inimigo público número 1’ da ditadura civil e militar’, Carlos Marighella. Marighella foi autor do “Minimanual do Guerrilheiro Urbana” e fundador da ALN.

‘Utopia e Barbárie’

Em duas horas, o documentarista resume os principais acontecimentos das últimas décadas, como as ditaduras na América Latina, a queda do muro de Berlim, os escândalos do maoísmo e a contracultura.

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