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Instituição filantrópica pode ser fechada por decisão do Governo de Goiás

O Governo de Goiás decidiu desocupar a ONG Cen­tro de Cidadania Negra de Goiás (Ceneg) para abrigar um pre­sídio semiaberto no local. A ação vai desarticular completamente um movimento que atua junto ao Centro de Referência da Juventude (CRJ) e que desempenha papel fundamen­tal na produção de cultura no Estado.

A desocupação da instituição dará espaço a um presídio na comu­nidade do Setor Morais, região Les­te de Goiânia. E para impedir a ação do governo moradores em conjun­to com presidentes de bairros jun­tamente com lideranças religiosas e empresários em parceria ao CRJ Goiás convidam a todos para partici­parem nesta quarta feira (5), às 19h, da Audiência Pública que acontece­rá no Ceneg/CRJ a fim de tentar mu­dar a decisão da Secretaria de Plane­jamento e Gestão (Segplan).

O CRJ, juntamente com o Centro de Cidadania Negra de Goiás (Ce­neg), é uma instituição filantrópica que oferece mais de 30 atividades a serviço da comunidade atendendo mais de 100 mil famílias. A Ceneg/ CRJ atua na comunidade há mais de 8 anos, quando ocupou um espaço que era o antigo Hotel Tucano, para dar vida e tirar das ruas jovens em si­tuação de vulnerabilidade social.

O fato está mobilizando toda po­pulação da região Leste de Goiânia, que está assustada com a notícia de desocupação de uma entidade que promove o bem social, arte e cultu­ra na comunidade para colocar em seu lugar um presídio. O presiden­te da instituição, Aluisio Arruda, 45, inconformado com a situação, fala a sua opinião sobre a notificação re­cebida na ONG no último dia 27 de agosto para a desocupação do pré­dio dentro de 30 dias:“A população está em pânico aqui na região, e nós também, estamos incrédulos com essa decisão do governo do Estado, por isso, vamos mobilizar as pes­soas para que eles revoguem essa decisão. Como podem fechar uma instituição filantrópica que reali­za ações sociais há oito anos? Esta­mos inconformados”, diz. Segundo o presidente da ONG CRJ Goiás, na audiência que vai ocorrer na insti­tuição estarão juntando assinaturas de um abaixo assinado que será en­tregue ao Governo de Goiás, mos­trando a insatisfação dos moradores e dos cooperadores da instituição.

O rapper Fábio Henrique (vulgo Lp Bronks), 38, conta que no início de sua carreira como cantor de Hip Hop chegou a dar aulas a convite do presi­dente da ONG, Aluisio Arruda (vulgo Black), e que em parte do caminho se perdeu nas drogas, mas graças à insti­tuição hoje é um homem realizado e com família: “ eu e meu irmão Char­les, fomos acolhidos pelo Black, pois estávamos em uma época difícil e ti­vemos a oportunidade de dar aulas de rimas para as crianças da favela! Mas, infelizmente, houve um mo­mento em que me perdi no mun­do das drogas, e o CRJ me resgatou e hoje sou totalmente reabilitado. E ele ainda conta que agora faz parte inte­gral da comunidade que se tornou a ONG. “Agora com minha esposa, estamos integrando a Equipe Mul­tidisciplinar, voluntariamente, des­ta causa tão importante e necessária para o povo desfavorecido e excluí­do da nossa cidade! Sou grato a esse magnífico projeto, onde hoje posso retribuir a todos menos favorecidos com o meu conhecimento que ad­quiri através do hip hop”, acrescenta.

Em nota ao Diário da Manhã, a Assessoria de Comunicação da Se­cretaria de Estado de Gestão e Pla­nejamento (Segplan) informou que na manhã da última segunda-feira (3), o secretário de Gestão e Plane­jamento, Joaquim Mesquita, rece­beu os representantes do grupo Ce­neg/CRJ: Elmo Rocha, Aluísio Black e José Geraldo, além do deputado Tales Barreto e a representante do deputado Marcos Abrão; Nathália Sales, para discutirem sobre a deso­cupação da Entidade Filantrópica Ceneg/CRJ do local. Em reunião, o secretário afirmou “que vai assegu­rar a permanência da entidade no local, e da desistência da construção do presídio”. Como notificado em do­cumento no dia 27 do mês de agos­to à Ceneg. E nesta ocasião teria esta­belecido que a Superintendência de Patrimônio tome as providências ne­cessáriasimediatamente. Porém, não foi entregue até a data de ontem ne­nhum documento aos representan­tesdaONGqueindiquequeoespaço tenha sido cedido à instituição para que ela se torne permanente no local.

A jornalista Kariny Bianca, 24, conta que há vários profissionais envolvidos na ONG e a indignação de cada um com essa notificação do governo. “Alunos, professores, psi­cólogos, museólogos, advogados, jornalistas, assistentes sociais, gru­pos culturais, comunidades tradi­cionais, empresas locais e coopera­dores das ações, todos os envolvidos estão perplexos com a intimação re­cebida, sem qualquer explicação por parte do Governo de Goiás”, expõe.

No local as pessoas encontram serviços gratuitos como: Atendi­mento Jurídico, Psicanálise e As­sistência Social, entre outros. Com a intenção de resgatar jovens das ruas em situações vulneráveis como drogas e falta de educação cultural, e oferecer qualidade de vida, oportu­nidade de estudos, e auxílio na edu­cação desses jovens e adolescentes.

A ONG atende hoje famílias com faixa etária entre 06 a 80 anos. As pes­soas procuram o local em busca de diversas atividades como: várias mo­dalidades de cursos, recolocação no mercado de trabalho, grupos de estu­dos para vestibular, e participação em festivais de música e dança que o CRJ promove anualmente, para além dos trabalhos realizados na instituição.

A psicóloga do Grupo, Luciana Penna, 44, diz que “a população da Região Leste de Goiânia encontra no CRJ um espaço de acolhimen­to para as necessidades psicosso­ciais e tratamento terapêutico para um grande problema da nossa so­ciedade, a dependência química”. E ela acrescenta a importância desse trabalho para a comunidade local, pois, trata-se de um setor carente: “Como psicanalista, realizo aten­dimentos individuais com a parti­cipação da família, em uma região de extrema vulnerabilidade social. A saída da nossa Equipe Multidis­ciplinar, deixará um vácuo irrepará­vel na comunidade local!”, justifica.

COMUNIDADE CARENTE

É fato que toda comunidade ca­rente precisa, antes de ter um pre­sídio, qualidade de vida, oportuni­dades tanto de estudos como de trabalho, para que os danos causa­dos pelo capitalismo na sociedade carente sejam ao menos reparados com auxílio básico que garante mo­radia, educação e segurança públi­ca. Estes que são por lei deveres do governo. Uma ONG funciona com o propósito de devolver antes de mais nada, esperança para essas famílias, e um presídio além de fomentar vio­lência no bairro, irá ocasionar a des­truição de mais uma casa que atende de braços abertos àqueles desampa­rados pelo próprio governo. E a advo­gada Ana Flávia, 42, da Ceneg/CRJ, expõe claramente a sua opinião so­bre essa situação. “Desocupar o pré­dio para a construção de um presídio é um erro, porque você deixa de fazer a prevenção; que é trabalhar esses jovens para que eles sejam encami­nhados para o mercado de trabalho”. Ela também relata da falha do Siste­ma Prisional de Goiás. “Ampare um sistema que precisa de muito mais apoio e estrutura que é o sistema pri­sional, do que simplesmente a trans­ferências desses presos para diminuir o contingente dentro do complexo”.

O CRJ faz o bem para a comu­nidade local, levando alegria, la­zer, e capacitação desde crianças até idosos. Fechar a ONG implica­ria em desativar não só uma ins­tituição que agrega bens, porque este não é o caso do CRJ) mas sim ao desserviço a uma comunidade que é tão carente de atendimen­to de saúde pública, de prestações básicas como habitação, lazer, e educação, e principalmente segu­rança pública. A advogada da or­ganização expõe sua opinião: “En­tão ao invés do governo desativar a ONG que precisa de um espaço que seja “cedido”, porque nós não te­mos verbas para alugar um espaço, ou para comprar, ele deveria fazer programas em conjunto com essas ONGs, não somente com a nossa, mas com outras também”, expõe.

Hoje a ONG Ceneg/CRJ realiza ações em todo Estado de Goiás e so­brevive de doações tanto de traba­lho, como de assistência para man­timentos internos para que possam continuar de portas abertas aten­dendo à população, “levando o bem sem olhar a quem”, e prestando ser­viços gratuitamente. A instituição recebe doações de segunda à sex­ta das 8h às 18h. Se você também quer fazer parte dessa organização basta ir até o local e se informar so­bre os serviços prestados e quais as formas de ajuda que a casa precisa.

SERVIÇO

O que: Audiência Pública

Onde: Centro de Cidadania Negra de Goiás (Ceneg) e Centro de Referência da Juventude de Goiás (CRJ)

Endereço: Avenida Independência, Quadra 23, Lote 9/E, Nº 41–Setor Morais, Goiânia–GO, CEP:74620-040.

Dia: quarta feira, 05, às 19h

O que acontece no Ceneg/CRJ

A atividades acontecem no CRJ de segunda à sexta das 8h às 18h: atendimento jurídico, psicanálise e assistência Social, ponto de cultura hip hop, oficinas culturais para crianças e adolescentes, biblioteca comunitária, palestras de prevenção às drogas e debates com temas relacionados aos direitos humanos, FeirArte–Feira de Arte e Cidadania, encontros de comunidades tradicionais e atividades socioculturais.

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