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Goiânia conta com 473 prédios abandonados

A Secretaria Municipal de Planejamento e Habita­ção (Seplahn) apontou ontem que 473 prédios estão em situação crítica e possuem chan­ce de desmoronar em Goiânia. Em declaração ao Diário da Manhã no final da tarde, o gerente de fiscali­zação, edificações e parcelamento da Seplahn, Célio Nunes, afirmou que a maioria dessas construções não vem sendo utilizadas como abrigo por pessoas que estão à margem da sociedade, ao con­trário que é amplamente discuti­do entre especialistas. “Depois do episódio que aconteceu em São Paulo a tendência é aumentar o número de denúncias por parte da população”, garante Nunes.

Por outro lado, a conselheira do Conselho de Arquitetura e Urba­nismo de Goiás (CAU-GO), Maria Ester de Souza, rebateu Nunes e esclareceu que as edificações aban­donadas na capital goianiense ne­cessitam de maior atenção e cui­dado. De acordo com ela, várias obras estão sem conclusão e ser­vem como moradia para sem tetos, ou pessoas em situação de vulne­rabilidade social. “Toda edificação sem uso e manutenção pode cau­sar algum prejuízo à saúde huma­na”, declara a conselheira. Por isso, destaca ela, é necessário que o po­der público e a sociedade atuem em conjunto para buscar uma política urbana que tenha como objetivo a solução definitiva do problema.

Em função disso, o presidente da Sociedade Goiana de Art Déco, Gutto Lemes, vê o abandono de prédios históricos com tristeza. “Mas também fico assim em ver a situação dos privados, que a gen­te não sabe muito bem o que os le­vou ao abandono total. Os prédios históricos, tombados como Patri­mônio da Humanidade, são em grande parte abandonados, sem utilização alguma por parte da so­ciedade”, lamentou. Segundo ele, o caso da Estação Ferroviária, na Praça do Trabalhador, serve como exemplo de descaso e má aplica­ção do dinheiro público por parte dos gestores, já que sua revitaliza­ção demorou mais de uma déca­da para se concretizar. “Bastante dinheiro público foi gasto”.

Morador da região central de Goiânia há 12 anos, o líder comuni­tário Senivaldo Silva Ramos, 48, pre­cursor do movimento Viva o Cen­tro, relatou que é necessário maior acompanhamento dos órgãos res­ponsáveis sobre as dores de cabe­ça que podem ser provocadas pelo estado degradante das construções antigas. De acordo com ele, o Centro conta com “vários prédios em péssi­ma situação” e que não tem aprovei­tamento adequado. “Porém, muitas vezes não dá nem para mexer nes­ses prédios, tentar reaproveitá-los com manifestações culturais, por­que o Instituto do Patrimônio His­tórico (Iphan) não deixa”, pontua.

CENTRO

Bairro mais antigo de Goiâ­nia e conhecido pelo seu estilo art déco, o Centro conta com vários prédios abandonados. Para a estu­dante universitária Júlia Aguiar, 21, é “um absurdo” contar com pré­dios abandonados “em pleno sé­culo XXI”. “Existem pessoas que são comprometidas com a reutiliza­ção dos espaços públicos, com uma ocupação cultural, mas elas encon­tram resistência na máquina bu­rocrática fomentada pelo municí­pio”, relata. Frequentadora assídua do Centro, ela disse que vários pré­dios contam com alto valor históri­co, mas são reféns da falta de inte­resse. “Quem perde com isto, não resta dúvida, é a própria população”.

Localizado na Avenida Goiás com a Rua 61, no Centro da capital, o prédio Goiás Borracha teve parte de seu telhado e metade de suas pa­redes derrubada em dezembro do ano passado. Na época, cogitou-se que o motivo do desabamento seria a forte chuva que caíra horas antes de o edifício ir ao chão. Mas em se­guida descobriu-se que não houve qualquer queda d´água no local, o que gerou dúvidas acerca do posi­cionamento oficial difundido pós­-desabamento. De acordo com o Corpo de Bombeiros, não foi pos­sível traçar um diagnóstico preciso no momento da queda.

Projetado pelo arquiteto Atílio Corrêa Lima, iniciativas para re­qualificar o Centro de Goiânia não faltam, mas políticas públicas efe­tivas para a região, sim. Em portu­guês claro, não há projetos, e não o que fazer. Porém, por mais parado­xal que isto possa parecer, também falta vontade. Emendas parlamen­tares neste sentido não praticamen­te uma raridade, e empresários se­guem dispostos a deixar morrer a memória afetiva e fazer do Centro um espaço pouco valorizado.

MOCÓ

Não é novidade que prédios abandonados de Goiânia viraram mocó. Em plena luz do dia, é nor­mal de se encontrar pessoas usan­do drogas, ou aproveitando o cla­rão do dia para tirar um cochilo. Até aí nada de mais. Mas quando de fato não há reaproveitamento a si­tuação muda. Na Praça Cívica, por exemplo, a edificação que serviu como sede da administração mu­nicipal nos primórdios da capital goianiense está às mínguas, e conta como pátio para usuários de crack acenderem seus cachimbos duran­te o período vespertino. Lá, assim como em vários monumentos da Praça, os desabrigados fazem dos bancos e calçadas seus lares.

Toda edificação sem uso e manutenção pode causar algum prejuízo à saúde humana” Maria Ester de Souza, conselheira do CAU     Depois do episódio que aconteceu em São Paulo, a tendência é aumentar o número de denúncias por parte da população” Célio Nunes, gerente de Fiscalização, Edificações e Parcelamento Seplahn

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