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Agricultura conservacionista oferece benefícios, diz Embrapa

Os produtores da região do Sudoeste Goiano estão nadaram de braçada em meio a poderosas máquinas e im­plementos agrícolas, novas tecno­logias e uma série de palestras sem precedentes em seu meio na Tec­noshow Comigo, que se realizou em Rio Verde, capital do agronegócio brasileiro, nesta semana. Solo, água e luz são essenciais para o desenvol­vimento da atividade agropecuária. Essa consciência foi reforçada no evento aos agropecuaristas.

É importante garantir a biodiver­sidade no meio rural, além de per­mitir ampliar a produtividade das atividades agrícola e pecuária. Se­gundo o pesquisador da Embrapa Solos, Luís Carlos Hernani, a agri­cultura conservacionista trabalha exatamente essa relação, ou seja, saber aproveitar, de forma susten­tável e integrada, o que a nature­za pode oferecer. É um conjunto de processos tecnológicos, que tem como foco preservar, melhorar e oti­mizar os recursos naturais.

Luís Hernani cita como exem­plo de agricultura conservacionis­ta o plantio direto, que é um siste­ma de manejo do solo, onde a palha e os demais restos culturais são dei­xados na superfície do solo. O siste­ma já é adotado em Goiás, atraindo inclusive produtores dos Estados Unidos, concorrentes do Brasil na produção de soja, por exemplo. En­tre as vantagens está a possibilida­de de reduzir a erosão e de garantir as qualidades nutricionais do solo.

“A palha não é o objetivo do sis­tema de produção. É um processo consequente. O sistema de plantio direto ajuda na biodiversidade dos sistemas radiculares. E esse sistema está responsável por toda vida den­tro do solo. As raízes estão altamente relacionadas com a atividade dos or­ganismos. Então, tudo o que aconte­ce dentro do solo é em grande par­te, devido aos sistemas radiculares. O efeito da raiz afeta toda a estru­tura, afeta todo o comportamento biológico e químico do solo. E isso reflete na rentabilidade”, orienta.

A Integração Lavoura-Pecuária­-Floresta (ILPF) também é outro exemplo, pois permite a diversifi­cação de atividades e ganhos com a correlação entre as áreas. “Quan­do se trata de Integração-Lavoura­-Pecuária é possível melhorar o sis­tema, porque o gado aparece como um fator melhorador. Colocar um animal traz melhorias do ponto de reciclagem estrutural do solo e até no rendimento econômico da cultura, que é plantada logo em se­quência”, afirma Luís.

Ele acrescenta que é preciso pensar mais nessa diversificação, pois só oferece ganhos em campo. “Quando vou para um sistema mais complexo, ILPF, daí tem outro fator que é a floresta e que melhora mui­to a qualidade ambiental. Porém, é uma forma cada vez mais comple­xa e que exige treinamento”, enfatiza.

O pesquisador acrescenta ain­da que toda essa integração de ati­vidades, respeitando solo e de­mais recursos naturais, permite ampliar a produtividade e a renta­bilidade no meio rural. “É todo um processo que tem uma interação de diversos segmentos de ativida­des econômicas, que são funda­mentais para o desenvolvimento da sustentabilidade”, afirma.

ORGANIZAÇÃO É A CHAVE PARA SUCESSO DE EMPRESAS FAMILIARES

Diz a sabedoria goiana que o combinado não sai caro. Foi exa­tamente com essa premissa que o consultor agropecuário Franco Cammarota brincou ao dar boas­-vindas para pais, primos, filhos e irmãos que ocuparam o Auditó­rio 2 do Centro Tecnológico. Fran­co ministrou palestra sobre gover­nança na empresa familiar e disse que 90% dos grupos agropecuá­rios hoje são formados por paren­tes. O grande desafio, na opinião do especialista, é conseguir admi­nistrar o negócio a várias mãos. Na ocasião ele elencou cinco práticas essenciais que garantem a saú­de do empreendimento: boa co­municação, profissionalização da mão de obra, transparência na to­mada de decisões, afinidade so­cietária e responsabilidade por parte dos administradores.

O consultor fez uma simulação e criou uma família fictícia, apon­tando os desafios mais comuns e as possíveis soluções para que as empresas familiares sigam produ­zindo e gerando lucro. “Nos próxi­mos 10 ou 20 anos todas as fazen­das do sudoeste goiano mudarão seus gestores. O bastão pode pas­sar para os filhos, netos ou para ad­ministradores terceirizados. O que vai definir o futuro é como o negó­cio está sendo tocado hoje. Jovens com idade entre 14 e 16 anos, por exemplo, já tem uma compreensão absurda das coisas. Se a intenção é colocá-los como participantes das decisões amanhã, é preciso apre­sentar a empresa para eles agora.”

Franco explica que a governan­ça, nesses casos, tem como um dos objetivos principais a manutenção do bom relacionamento familiar, mas garante que a busca pela conti­nuidade do negócio precisa do bom desempenho. “Para isso é preciso tratar a propriedade como empre­sa. Definir as atividades, delimitar valores de pagamentos e estabele­cer regras. Quanto mais claro es­tiverem os limites, o que é e o que não é permitido ali, menos conflitos precisarão ser resolvidos. A relação entre família e negócio precisa ser discutida para construir um acor­do que contemple todas as combi­nações. O combinado não sai caro. O que foi dito antes poderá ser co­brado depois”, destaca.

À frente da Safras & Cifras, Fran­co lembra que a quando a sucessão é planejada, ela se torna um proces­so natural e não um motivo de de­sespero e caos dentro da empresa. “Através do planejamento sucessó­rio é possível estabelecer uma rela­ção profissional entre pais, filhos e netos, evitando que os desafios do convívio entre diferentes gerações prejudiquem o negócio.”

Cuidados na ordenha garantem boa produção e saúde dos animais

Inovação que representa ga­nho de produtividade na pecuá­ria de corte, o desenvolvimento de uma linhagem de nelore de dupla musculatura foi tema de uma dinâmica como parte da programação da feira rio-ver­dense. Quem apresentou a no­vidade ao público foi o doutor Amilcar Tanuri, que dedicou 12 anos ao projeto. Com o objetivo de elevar para 15% o rendimen­to da carcaça do rebanho bovi­no, aumentando a massa mus­cular do animal, ele propõe o melhoramento genético do ne­lore, por meio do cruzamento com a raça belgian blue – co­nhecida justamente pela robus­tez–para a mutação de apenas um gene: a miostatina, que con­trola a produção de células mus­culares na fase embrionária.

O cruzamento ocorre por meio da inseminação artificial (in vitro) de embriões seleciona­dos por teste genético. A raça bel­ga só é utilizada na primeira vez. A quinta geração é totalmente nelo­re e tem a mutação para o aumen­to da massa muscular, apresen­tando um traseiro hipertrofiado.

EM CAMPO

Produtor rural no município de Serranópolis (Go), Amilcar tem um plantel de 50 animais oriun­dos da nova variedade e já obte­ve resultados expressivos do estu­do científico. No primeiro abate, houve um ganho de três arrobas na carcaça, com aproveitamen­to da carne passando de 55% para 60%. “Hoje a gente vislumbra co­nhecer parceiros aqui na feira para expandir a genética, ou seja, pro­dutores que tenham vacas para receber os embriões e reprodu­zir essa genética”, revela. Além da vantagem financeira, com ganho para os pecuaristas e frigoríficos, a nova variedade pode reduzir o im­pacto ambiental nas pastagens, já que com menos animais é possível conseguir a mesma quantidade de carne em relação ao nelore puro.

EMATER

Durante os cinco dias da Tec­noshow Comigo, a Agência Goia­na de Assistência Técnica, Exten­são Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater) em parceria com a Secre­taria de Desenvolvimento (SED) contou com estande institucional onde foram prestados atendimen­tos ao público que visitaram o es­paço. Na área experimental, a si­mulação do Sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) foi o grande destaque no espaço. Os visitantes que passaram pelo local tiveram a oportunidade de conhecer duas possibilidades de implantação do sistema, a Integra­ção Pecuária-Floresta (IPF) e a In­tegração Lavoura-Floresta (ILF).

Na IPF, são consorciadas cin­co cultivares de capim, BRS Tama­ni, BRS Paiaguás, Marandu, BRS Zuri e BRS Quênia com o euca­lipto. Enquanto na ILF são reu­nidas variedades de soja, milho, milheto e o sorgo com o eucalip­to. Outro destaque da participa­ção da Agência, no evento foram as amostras de Milho BRS 4103, AL Bandeirante, Milheto MC 172, além do consórcio de Milho Em­gopa 501 com Sorgo AG 102, apre­sentadas na área experimental. Também foram expostas no es­tande da Agência plantas livres de pragas e doenças desenvolvidas em laboratório por meio de téc­nicas de cultura de tecidos. Ainda durante a Tecnoshow Comigo, a Emater ministrou palestra sobre recuperação de nascentes e ofici­nas sobre processamento de aba­caxi, soja e banana.

SABOR E ARTESANATO

A Emater em parceria com a Comigo montou a feira “Sabor e artesanato”. No local, agricul­tores familiares e artesãos ur­banistas comercializaram e ex­poram a produção durante a Tecnoshow Comigo. Bonecas de pano, trabalhos em MDF, pico­lés, iogurtes caseiros e quadros compostos em mosaico com pe­dras semipreciosas são exem­plos de produtos artesanatos co­mercializados no local.

Além de expositores de Goiás dos municípios de Goiânia, Ser­ranópolis, Santo Antônio da Bar­ra, Aparecida do Rio Doce, Trin­dade e Rio Verde, artesãos de outros estados como Espírito. Santo e Minas Gerais também comercializam seus produtos.

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