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Criação de aves corre risco em Goiás

O setor de aves em Goiás, como nos demais Estados produtores, tende a ser o mais atingido pelos efeitos decorrentes da Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal. Ao contrário dos bovinos, os suínos e aves não podem esperar por muito tempo nos pavilhões das granjas para serem abatidos. O ciclo das aves é de poucas semanas no processo de engorda ao abate. Por essa razão, o setor de frangos e demais aves mostra-se preocupado com o quadro, gerado pelo bloqueio.

Essa observação é dos criadores que confiantes no seu negócio investiram e desenvolveram técnicas modernas nos criatórios. Cláudio Faria, presidente da Associação Goiana de Avicultores, concorda com a manifestação das lideranças classistas rurais de que a Operação Carne Fraca correspondeu na intenção, mas prejudicou a economia brasileira do segmento na comunicação. Exemplificou o caso do uso do papelão na embalagem, que pode substituir o plástico.

O presidente da AGA considera que a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) está contribuindo para a reversão do quadro com o apoio do governo federal, do Congresso Nacional e de outros segmentos. Cláudio Faria acaba de chegar de São Paulo onde esteve com o presidente da ABPA, Francisco Turra.

Segundo diz Faria, as entidades reforçam qualidade das carnes bovina, suína e de aves e confiança no sistema de inspeção federal. Acrescenta ele que setor emprega mais de 7 milhões de pessoas e representa 15% das exportações brasileiras. Em decorrência desse trabalho de esclarecimento, o dirigente da AGA aponta a reativação das negociações de carne de frango com a Coréia do Sul e a possível reabertura dos mercados da China e da Europa.

Preocupação existe

Ele não esconde a preocupação do setor avícola goiano e do resto do País. Lembra que os produtores provocaram saltos enormes na atividade nos últimos anos no Centro Oeste e Goiás não ficou de fora. Tanto assim, que com a instalação de empresas do porte da Perdigão em Rio Verde o plantel avícola se multiplicou.

Na realidade, segundo um produtor que preferiu o anonimato, informa que ao chegar à idade de abate, não há como impedir a morte das aves. Se o mercado parar, o frigorífico pode aumentar o estoque de aves abatidas. Mas, essa situação não pode perdurar por semanas. No alojamento, as aves precisam de ração para se alimentar. Os custos serão onerados. E a tendência é que os preços sofram queda, seguindo a lei da oferta e da procura.

A avicultura goiana representa 50% do plantel avícola do Centro-Oeste e 4,5% do plantel nacional. Quinto maior produtor brasileiro, Goiás possui um rebanho de mais de 50 milhões de cabeças. Há dez anos, conforme dados do IBGE, do volume total de carne produzido no Estado, 231 mil toneladas foram destinadas ao mercado interno, 161 mil toneladas para outros Estados e 93 mil toneladas direcionadas ao mercado externo, o correspondente a 37%. Goiás e o Brasil como um todo exportam aves abatidas para 154 países.

Tiro de canhão para matar um mosquito

Ricardo Yano, confinador de bovinos em Santa Terezinha de Goiás na Grande Goiânia, mostra-se indignado com as consequências desastrosas da operação da Polícia Federal na cadeia das carnes. A situação de alarde provocada pela iniciativa é comparada pelo ex-presidente da Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultura (SGPA) “como um tiro de canhão para matar um mosquito”. Concorda, contudo, que “infratores no segmento sejam punidos, pois em sã consciência ninguém concorda com corrupção”.

Para ele, a vistoria deve ser feita nos frigoríficos em respeito à questão sanitária e alimento de qualidade na mesa do consumidor. Yano observa que nenhum produto foi aprendido nas três unidades frigoríficas que sofreram inspeção da PF. Duas dessas unidades estão em Goiás: Mineiros e Goiandira. O universo brasileiro é de quase cinco mil frigoríficos. Ricardo Yano ressalta o papel do ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, “um gigante na defesa do produtor e de toda a cadeia produtiva”. O ministro, aliás, é do ramo e possui fazenda modelo no Mato Grosso do Sul.

“O desgaste todo foi desnecessário”, ressalta, observando que os prejuízos serão enormes em toda a cadeia da carne. Ele mesmo está sem fazer um negócio desde a semana passada, porque as plantas frigoríficas paralisaram suas compras. Em sua opinião, são penalizados os criadores, a indústria, o comércio atacadista e de varejo, os exportadores e empregados. “Com a paralisação no setor a tendência é a concessão de férias coletivas e demissões em massa”, vaticina ante a suspensão da compra de carnes bovinas, suínas e de aves pelas dezenas de países importadores.

Manifestação do CNPC

O presidente do Conselho Nacional da Pecuária de Corte, Sebastião Costa Guedes, presidente em exercício, transmitiu a seguinte manifestação sobre o quadro ao Diário da Manhã:

“A corrupção identificada está sendo averiguada com a devida profundidade e os envolvidos devem ser punidos com severidade, pois causam enormes prejuízos a todos os segmentos da cadeia da pecuária de corte, desde os pecuaristas até os consumidores.

Esta é posição da diretoria do CNPC – Conselho Nacional da Pecuária de Corte Conforme já anunciado pelo Presidente da República Michel Temer e pelo Ministro Blairo Maggi o problema foi identificado em apenas 21 empresas, dentro de um universo superior a 4.700 e são apenas 33 os funcionários investigados entre os 11.000 colaboradores do Mapa – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Tais dados representam uma ínfima minoria. O SIF–Serviço de Inspeção Federal, executado com seriedade e competência pela esmagadora maioria dos médicos veterinários e funcionários do Dipoa do Mapa, desenvolve um trabalho altamente eficiente e confiável, não só para o mercado interno, mas também nas exportações.

O Brasil é reconhecido, hoje, por sua infraestrutura e evolução do seu rebanho como detentor dos mais avançados níveis tecnológicos e padrões de qualidade no mercado global.

Além do mais, as fraudes já identificadas não envolveram a carne bovina, segmento no qual o Brasil ostenta o honroso título de maior exportador mundial. O Ministro Blairo Maggi, que vem tendo excelente atuação, conta com o total apoio de nossa entidade para punir os envolvidos e assegurar a confiança dos brasileiros e dos clientes internacionais na qualidade das nossas carnes.”

Importância do campo

O senador Wilder Morais, da bancada de Goiás no Congresso Nacional, proferiu discurso, ontem, ao receber o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo

Maggi, na abordagem da Operação Carne Fraca. O parlamentar goiano fez o seguinte pronunciamento da tribuna do Senado Federal, em Brasília. “Do campo vem o equilíbrio da Balança Comercial brasileira. Do campo vem o emprego. Vem a renda. Vem o alimento na mesa de todo continente. Portanto, quem vive na cidade deve ao trabalhador rural, ao homem do campo, ao fazendeiro, ao lavrador, ao tratorista, ao veterinário, ao agrônomo, ao zootecnista, ao vaqueiro, ao produtor, enfim, a quem labuta na roça. Não é justo sacrificar uma gente tão esforçada por causa do erro de uma pessoa, seja ela física ou jurídica. Em Goiás, como no Brasil inteiro, existe supersafra de notícia boa vinda do campo. É assim na agricultura e na pecuária.

O presidente da Federação de Agricultura e Pecuária de Goiás, José Mário Schreiner, informa que nosso Estado tem um rebanho de 363 milhões de cabeças. Isso, incluindo bovinas, suínas e aves. São 115 indústrias goianas processando carnes. Em 2016, o trabalhador da pecuária, patrão ou empregado, produziu 1 milhão e 700 mil toneladas de carne em Goiás. A conta é simples: O ideal para a pessoa ficar bem nutrida é comer em média 200 gramas de carne por dia. Resultado: a proteína goiana é capaz de alimentar todos os mais de 7 bilhões de habitantes do Planeta durante um dia e ainda sobra carne para servir ao Brasil inteiro durante um mês. É muita carne. Carne saudável. Fiscalizada pelo maior especialista, que é o consumidor”.

A indústria goiana exporta 443 mil toneladas de carne por ano. Todo esse esforço gerou 10 bilhões de reais em receita externa apenas no ano passado. Agora, de uma hora para outra, esses 10 bilhões que vêm do exterior para o meu Estado podem ser apenas história.

A área rural gera, direta e indiretamente, 50 milhões de empregos no Brasil. Quatro em cada dez empregos do campo são da pecuária. Então, como disse José Mário, não é possível nem aceitável gerar incerteza ou insegurança aos milhões de consumidores de carne, no Brasil ou no exterior”. Nem ao consumidor, nem ao produtor, nem à economia.

As entidades de produtores rurais publicaram notas narrando a injustiça que estão sofrendo. Quem mais sofre é o pequeno chacareiro, é o sitiante, é a família que vive do que cria. O produtor nada tem a ver com escândalo e é quem está pagando por ele. Goiás tem regiões que sobrevivem totalmente da pecuária. Empresas idôneas produzem carne de frango em Itaberaí, Pires do Rio e outras cidades goianas.

É um empresariado que acredita no trabalho para gerar emprego e renda. Rio Verde e Mineiros são duas joias da produção no Brasil. Não podem ter sua economia afetada por causa de alguém suspeito. O produtor sofre também com o juro alto. Sofre com a carga tributária. Sofre com a logística ruim. Sofre com o clima. Não é justo sofrer tanto por erro alheio. Nosso produtor coloca o alimento na mesa do mundo inteiro.

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