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COTIDIANO

Recado do coração que morreu

Em duas novas mensagens psicografadas pela médium Mary Alves, do Centro Espírita Mãos Unidas, a primeira, recebida no último dia 21 de julho, Pedro Henrique Queiroz, assassinado aos 22 anos, por um tiro da arma de um policial militar, diz aos pais, Maria do Rosário e Roberto Emanuel Queiroz, que não se importa de que maneira ‘aquela bala veio’, a que tirou sua vida. E prossegue: ‘Não posso mudar o que foi feito. Não posso estar ao lado da minha companheira. Não posso acompanhar o meu filho e até beijar seus próprios filhos’. E adverte os pais: ‘É seguir adiante. A justiça é feita na Terra’. Pedro Henrique conclui que ‘Por Deus, ela vem de outra maneira’. E pede para ficarem em ‘Paz sobre essa questão’. Afinal, sentencia o jovem desencarnado há sete anos: ‘Ela não me faz sofrer’. Já na segunda mensagem, do último dia 4, Pedro Henrique lembra ao pai que a morte é ‘uma ilusão para os que não acreditam em Deus’ e que ‘Viver aqui é uma extensão da vida que tivemos aí’. Pedro Henrique, lógico, se refere à vida celestial. O DM publica aqui as duas mensagens.

Hoje, a dor maior dos pais de Pedro Henrique Queiroz, assassinado em setembro de 2008, pelo tiro da arma de um policial militar, vive no sentimento da impunidade, que o crime gerou e ainda vem gerando. Por uma dessas ironias da vida, a mãe de Pedro Henrique, a servidora pública estadual Maria do Rosário Fernandes Queiroz, às vezes, se vê obrigada a estar no mesmo lugar onde o assassino de seu filho, também, possa estar. Algo que não soa bem dentro da lógica de um País, considerado a sétima maior economia do mundo, com um Judiciário com mais de 300 mil servidores  em todo País e que gasta, por mês, bilhões e bilhões de reais, com suas intermináveis  e intrincadas tramas judiciais, muitas delas sem respostas que faça esse poder ser justo como deveria ser. Um ‘absurdo’, diria alguém na parca economia de um português indignado com esse Brasil que não muda!

Pedro Henrique foi assassinado quando tinha 22 anos, um mês após ter se formado em Direito pela Universidade Paulista (Unip). No mesmo dia de seu assassinato, Pedro estava com o filho Davi, um bebê de pouco mais de sete meses, após batizá-lo, na Paróquia de São Expedito, no Jardim América. Pedro Henrique deixou Pabline, uma jovem mãe, viúva, e uma saudade imensa, que faz hoje, até hoje, seus pais ‘peregrinarem’ em busca de Justiça numa terra de ‘vistas grossas’ e de poderes inertes. E a mãe, dona Rosa, diz:

— Não vamos parar a nossa luta nunca. Ainda acreditamos na Justiça. Mesmo que ainda estejamos sem respostas... Ainda acreditamos que uma dia ela seja feita.

O consolo de dona Rosa, como é chamada, uma senhora franzina, calada, de cabelos encurtados, escuros, assentada em uma esperança hercúlea, é um conjunto de cartas psicografadas, que vem recebendo de Pedro Henrique. Dona Rosa se confunde com o número exato delas, chega a dizer que foram mais de 30 cartas. As duas últimas, no dia 21 de julho e no último dia 4, a comoveu pela exatidão de alguns detalhes psicografados pelas mãos da médium Mary Alves, do Centro Espírita Mãos Unidas, no Jardim das Aroeiras.

Na primeira das mensagens, Pedro Henrique diz que como ‘filho obediente’, está ali para dizer algo aos pais e, também, lógico, aos amigos e familiares.

— A família em busca de mim, agora de uma maneira diferente não me vendo, mas sentindo. Meus irmãos ficam procurando provas reais que sou eu mesmo, mas conseguem me sentir bem perto. E conseguirei fazer com que a Camila sinta o meu beijo na sua cabeça. Beto, nossas conversas são reais. Fico emocionado com sua demonstração de amor.

Pedro diz ser grato à sua tia, Glória, pela força dada à sua mãe.

— Até a tia aderiu ao grupo dos que acreditam. E sou tão grato, tia Glória, pela sua ajuda a minha mãe.

E se refere ao pai, Roberto Emanuel, com o carinho das palavras:

— Meu pai é o mais sensível. Começa a conversar comigo e ainda chora. Mas, agora sabe que estamos juntos. Mãe, sei que hoje precisava dessas palavras para tranquilizar seu coração.

E completa:

—  Venho responder que aqui prossigo sem me importar de que maneira aquela bala veio. Não posso mudar o que foi feito. Não posso estar ao lado da minha companheira. Não posso acompanhar o meu filho e até beijar seus próprios filhos. É seguir adiante.

Pedro Henrique, ao final de sua mensagem, se despede com um consolo:

— Fiquem em paz sobre essa questão (se refere à Justiça ). Ela não me faz sofrer.

A segunda mensagem

A carta recebida no último dia 4 é  endereçada ao pai, Roberto Emanuel Queiroz. Nela, Pedro Henrique diz que vem para afirmar que todas as orações feitas por ele são ouvidas por Deus. E prossegue, numa espécie de consolo ao pai, que ainda chora a sua perda:

—  E Deus ama muito nossa família, porque cada um de nós simboliza a fé que existe numa amor ainda maior a nos unir.

Pedro Henrique avisa que sabe que o pai pediu para que ele viesse em nova mensagem, ‘pois afirmou que minhas palavras colocam força e esperança em seus corações.

— E eu não poderia jamais ficar indiferente aos seus pensamentos.

Para Pedro Henrique, a morte é uma ilusão para os que não acreditam em Deus.

— Como Deus, o Pai de infinito amor, iria me separar de seu coração, da Rosa, do Beto, da Camila, do Inácio, do Davi?

Pedro Henrique diz que teria que ser ‘insensível’ para não aproveitar as oportunidades que ‘me são apresentadas’.

— Mãe, não precisa ficar pensativa. As palavras de hoje a senhora mesma sabe o quanto meu pai delas precisa. E sei o alvoroço que foi entre os familiares.

Pedro Henrique se refere aqui mais uma vez à sua tia Glória. E lembra:

— Tia Glória agora sabe que não sou ‘ilusão’.

Pedro Henrique finaliza dando seu ‘abraço’ ao ‘nosso querido Fernando, afirmando que viver aqui é a extensão da vida que tivemos aí’.

E conclui a mensagem:

— Confiemos em Deus. Ele é Pai! Com a gratidão e amor do

PEDRO HENRIQUE QUEIROZ

sonho de ser delegado

Antes da sua morte, Pedro Henrique se preparava para o concurso de delegado da Polícia Civil. Na ocasião tinha apenasmente 22 anos e recém-formado em Direito, profissão que, para ele, justificaria toda a sua luta por um sonho de justiça social.

Uma ironia, já que sua morte acabou sendo pelas mãos de um policial militar, cuja função era e é a de garantir segurança a todos os cidadãos. Mas foi da arma de um deles que a bala partiu rumo ao seu corpo, provocando sua morte e, também, ‘o silêncio de um pai amoroso, alegre, carinhoso, brincalhão, que vivia rodeado de amigos e familiares’, como revela a própria mãe, dona Rosa.

A morte veio covardemente num domingo, onde Pedro Henrique e sua esposa, Pabline, voltavam para casa, no Jardim América. Um único e certeiro tiro, traiçoeiro, o atingiu na nuca. O tiro foi dado no dia 8 e Pedro Henrique ficou em coma até o dia 11 de setembro, quando se desencarnou.

— O soldado Gevani Cardoso da Silva, ao ouvir o barulho do carro, do pneu sair imediatamente do local, onde se encontrava efetuando ‘bico’ no horário de folga da PM, juntamente com o cabo Marcelo Sérgio dos Santos, disparou um tiro em direção ao carro onde meu filho era o passageiro, acertando-o mortalmente. Esse bico era realizado a serviço da Superintendência Municipal de Trânsito (SMT) e a arma que se encontrava em sua mão era da Polícia Militar do Estado. Ele estava fardado, usando fardas da corporação.

Na época, os dois policiais militares, acusados da morte do jovem, foram indiciados pela Polícia Civil por homicídio doloso, quando há clara intenção de matar. Os dois sequer foram julgados e, segundo dona Rosa, prestam hoje serviços no comando-geral da PM goiana. O processo administrativo da polícia ainda não foi concluído e o policial, acusado da morte de Pedro Henrique, continua recebendo, como se nada tivesse acontecido. Banalizaram a morte. Banalizam assim, com toda negligência, a Justiça.

A mãe, dona Rosa, o pai, Roberto Emanuel de Queiroz, não aceitam mais tanta indiferença, a ausência do poder público, que, omisso, não faz Justiça às suas dores da mãe e do pai no silêncio ad eternum do filho querido e injustamente tirado de seus braços.

— Com a participação de todos é possível lutar para que novos crimes, como esse, não voltem a ocorrer. A violência está cada vez mais próxima das famílias e esperamos que isso acabe um dia.

Para isso, dona Rosa espera e clama por justiça. Quer ver o responsável pela morte de seu filho preso, fora do convívio social. E que pague pelo mal que fez à sua família, aos amigos de Pedro Henrique.

De lá para cá, já passados sete anos de impunidade, que serão completados agora em agosto/setembro, tem sido uma verdadeira via-crucis, sem qualquer ajuda das autoridades goianas, que abrem as portas, mas as fecham, também, na mesma proporção desse grande descaso institucional do Estado, que, desidioso, não assume seus deveres.

Dona Rosa, acompanhada do marido, diz que até agora nenhuma ação, após  sete anos, se materializou. Nem a pensão que deveria ser paga à viúva, nem a indenização, nem a condenação ou definição processual do crime, do ato covarde que tirou a vida do filho querido. Tudo ainda continua como se estivesse na fase inicial.

— Estão sendo sete anos sem um real de auxílio. Nada, nada...

A única diferença é que a saudade cada vez aumenta, como murmura o pai, ao ser perguntado pelo repórter se a lembrança é diária, se vem todos os dias...

— Todos os dias, não. Todas as horas — corrige um calado Roberto.

Não quero ser mais um

Para que o crime, como tantos outros, zilhões deles, não caia no esquecimento, a família e amigos de Pedro Henrique criaram o movimento ‘Pedro Henrique — Não Quero Ser Mais Um’. Para isso, são realizadas infinitas reuniões, encontros, distribuídos centenas de milhares de folhetos, milhões, colocados outdoors na cidade e realizadas várias outras manifestações contra a impunidade.

A família quer, com isso, que a dor provocada pela morte dos vários ‘Pedro Henrique’ não seja uma dor a torturar outras famílias de inocentes.

Um folheto indignado

Num dos tantos folhetos e banners feitos para não esquecer a morte de Pedro Henrique e cobrar Justiça, eis um relato que resume a morte do jovem bacharel:

Justiça para Pedro Henrique

Pedro Henrique foi assassinado em setembro de 2008, pelos policiais da PM de Goiás, soldado Gevani Cardoso da Silva e cabo Marcelo Sérgio dos Santos, quando chegava em casa, após o batizado do filho. Os assassinos confessaram o crime, mas ainda permanecem soltos e trabalhando normalmente na Polícia Militar do Estado de Goiás.

Por que ainda não foram julgados? Até quando conviver com a impunidade?

Será que as autoridades ainda não se conscientizasram que estes dois assassinos já deveriam ter sido condenados?

QUEREMOS JUSTIÇA!

1ª mensagem


Carta recebida de Pedro Henrique Queiroz no

Centro Espírita Mãos Unidas em 21 de julho de 2015

Querida família, que Deus fortaleça vocês.

Mãe, você falou que se eu não viesse hoje a coisa ia complicar para o meu lado.

E como sou um filho obediente, aqui estou.

E ver a família em busca de mim, agora de uma maneira diferente não me vendo, mas sentindo.

Meus irmãos ficam procurando provas reais que sou eu mesmo, mas conseguem me sentir bem perto.

E conseguirei fazer com que a Camila sinta o meu beijo na sua cabeça.

Beto, nossas conversas são reais. Fico emocionado com sua demonstração de amor.

Queria tanto que pudesse ver, meu irmão. O bom aqui é que jamais envelhecerei.

Até a tia aderiu ao grupo dos que acreditam.

E sou tão grato, tia Glória, pela sua ajuda a minha mãe.

Meu pai é o mais sensível.

Começa a conversar comigo e ainda chora.

Mas, agora sabe que estamos juntos.

Mãe, sei que hoje precisava dessas palavras para tranquilizar seu coração.

E venho responder que aqui prossigo sem me importar de que maneira aquela bala veio.

Não posso mudar o que foi feito.

Não posso estar ao lado da minha companheira.

Não posso acompanhar o meu filho e até beijar seus próprios filhos

É seguir adiante.

A justiça é feita na Terra.

Por Deus ela vem de outra maneira.

Fiquem em paz sobre essa questão. Ela não me faz sofrer.

Deixo dois beijos grandes: ao Inácio e ao meu Davi.

E acho que falei tudo.

Obrigado por tudo.

Que Deus faça vocês mais fortes.

Com todo meu amor e gratidão.

Do

Pedro Henrique Queiroz

2ª mensagem


Carta recebida de Pedro Henrique Queiroz no

Centro Espírita Mãos Unidas no dia 4 de agosto de 2015

Meu pai, hoje venho para afirmar que todas as orações são ouvidas por Deus.

E Deus ama muito nossa família, porque cada um de nós simboliza a fé que existe num amor ainda maior a nos unir.

Sei que você pediu que eu viesse, pois afirmou que minhas palavras colocam força e esperança em seus corações.

E eu não poderia jamais ficar indiferente aos seus pensamentos.

A morte, meu pai, é uma ilusão para os que não acreditam em Deus.

Como Deus, o Pai de infinito amor iria me separar de seu coração, da Rosa, Beto, da Camila, do Inácio e do Davi?

E eu teria que ser insensível para não aproveitar as oportunidades que me são apresentadas.

Mãe, não precisa ficar pensativa, as palavras de hoje a senhora mesma sabe o quanto meu pai delas precisa.

E sei o alvoroço que foi entre os familiares.

Tia Glória agora sabe que não sou ilusão.

E eu para finalizar trago o abraço ao nosso Fernando afirmando que viver aqui é uma extensão da vida que tivemos aí.

Confiemos em Deus.

Ele é Pai!

Com a gratidão e amor do

Pedro Henrique Queiroz

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