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Ensino profissionalizante puxa a nova revolução educacional

Agosto marcará para sempre a história da educação brasileira. Acostumado com índices educacionais frágeis e distantes do topo e da excelência, como o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), o Brasil simplesmente venceu a maior competição mundial de educação profissional.

No cômputo geral, o Brasil conquistou 27 medalhas e arrebatou o primeiro lugar no ranking geral de premiações da 43ª edição da WorldSkills. A maior competição de ensino profissional do mundo é um termômetro de como anda esta modalidade de ensino – muitas vezes subestimada pelos governantes – no Brasil.

Nesta ‘olimpíada’, jovens de 16 a 22 anos de 62 países do mundo se revezaram em cursos técnicos de 50 ocupações. Jamais o Brasil saiu tão bem em uma competição que reconhece o labor tecnológico como tão importante quanto o científico.

Em vez de esportes renomados nas disputas olímpicas, os ‘atletas’ da educação profissional se debruçam em conhecimentos tão díspares quanto aplicação de revestimento cerâmico, caldeiraria, desenho mecânico em CAD, instalações elétricas prediais, joalheria, polimecânica e automação, soldagem, tecnologia automotiva, tecnologia da Moda, tecnologia de mídia impressa e web design.

O estudo profissional não ignora a ciência. Ao contrario: oferece a aplicação prática de temas que muitas vezes figuraram apenas na prancheta ou laboratórios de química e física.

Goiás é um dos Estados a sair na frente na produção profissionalizante e tecnológica. Fruto de uma ação de governo, iniciada em 2012, a cultura profissionalizante tomou conta de diversas cidades brasileiras. De uma hora para a outra, os goianos também começaram a fazer bonito nas competições.

Os prêmios começaram a chegar. O Instituto Tecnológico de Goiás (Itego) Sebastião de Siqueira, por exemplo, foi um dos vencedores no 10º Prêmio “Construindo Igualdade de Gênero”. Seleção realizada pelo governo federal por meio da Secretaria de Política das Mulheres em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ministério da Educação e ONU Mulheres, o prêmio colocou o estado na lista dos que serão agraciados no dia 22 de setembro, na Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, em Brasília (DF), pelos gestores públicos.

O caso do Itego Sebastião Siqueira é apenas um exemplo de como a situação tem se invertido no Estado. Até o começo da década de 2010, a tendência era a busca plena de um diploma universitário. Curso técnico nem pensar.

A história mudou. “Comecei a estudar informática, Excel. E achei que não daria em nada. Na primeira semana, de cara, encontrei um emprego para fazer tabelas. Fui contratado logo depois. Mudou minha vida”, diz Antônio Carlos da Silva, que espera terminar o curso para “agregar outro diploma”.

No mesmo diapasão, o estudante de engenharia Gabriel de Castro Freitas, 21, medalha de ouro no WorldSkills Américas 2014, não cansa de receber propostas de emprego. O jovem cursou desenho auxiliado por computador no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e testou as habilidades com competidores de todo mundo.

MAIS ESCOLAS

O Itego é mantido pelo governo de Goiás por meio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Científico e Tecnológico e de Agricultura, Pecuária e Irrigação (SED), que unificou diversos conhecimentos após a reforma administrativa.

Apesar da mesma linha das unidades Sesi, Sesc, dentre outras entidades profissionalizantes, apresenta adaptações regionais bastante características – como o colégio que atende a população de Jaraguá, polo de confecções .

Comandada pelo vice-governador José Eliton, a SED tornou-se laboratório de grandes projetos, como a disseminação da cultura profissionalizante pelo Estado. A ideia do vice-governador e do governador Marconi Perillo é fazer com que a cultura profissionalizante e tecnológica domine o maior número de espaços possíveis do Estado.

Uma unidade como o Itego Sebastião Siqueira tem cerca de 1400 estudantes escritos. Ele é mais um dentre vários espalhados no Estado que coloca a cabeça das pessoas para funcionar.

José Eliton diz que a meta é ampliar ainda mais: até 2018, a intenção é que exista uma rede de 30 Itegos e 80 Cotecs – colégios tecnológicos.

Neste mês, o governador Marconi Perillo e José Eliton inauguraram a reforma e adequação do Instituto Tecnológico do Estado de Goiás (Itego) Labibe Faiad.

Conforme a SED, os investimentos do Tesouro Estadual chegaram a R$ 600 mil. “A missão desta obra é fomentar a cultura e as artes nas mais diversas formas de expressão”, diz José Eliton, que acredita no poder de transformação tecnológica também no universo artístico – o que já tem ocorrido com o Itego Basileu França.

A novidade em Goiás é exatamente esta aproximação da arte com o ensino profissionalizante, uma estratégia tipicamente europeia que tem dado certo em países como a Rússia, Espanha e França.

Antes da recente intervenção em sua infraestrutura, o Itego em Artes Labibe Faiad era um Colégio Tecnológico que seguia a tendência do Itego em Artes Basileu França. A proposta agora é pensar grande: a unidade poderá ofertar cursos superiores e mesmo pós-graduações.

A unidade tem 20 salas de aula e um anfiteatro com 407 lugares, além de auditório para 100 pessoas, laboratórios de fotografia, informática e artes visuais.

Primeiro trabalho de astronauta surgiu em ensino profissionalizante

O astronauta brasileiro Marcos Pontes, ex-aluno do Senai em Bauru (SP), diz que esta modalidade de educação foi marcante em sua carreira. “O primeiro emprego que eu consegui foi através dele: aprendi desde criança que estudar é o caminho. Não importa a sua origem”, afirma.

Para o astronauta, o investimento nesta modalidade de conhecimento amplia os horizontes dos jovens e possibilita o acesso a universos profissionais amplos. Para ele, o Brasil não seria o mesmo sem o ensino profissionalizante.

Em Goiás, a proposta é fazer dos Itegos o cartão de visitas do programa de inovação que está em elaboração dentro do governo. José Eliton acredita que o Programa Estadual de Inovação e Tecnologia poderá integrar governo, universidades e escolas, além do setor produtivo. Com investimentos de R$ 1 bi, o programa tem apoio de entidades do setor financeiro.

O vice-governador informa, por exemplo, que o projeto já foi apresentado para técnicos do BID e teve aprovação preliminar. O especialista sênior em Gestão Financeira do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), German Zappani, informa que as parcerias poderão ser firmadas através dos recursos e corpo técnico da instituição.

O Programa Estadual de Inovação e Tecnologia será lançado na próxima quarta-feira, 2 de setembro. E Goiás já tem metas a serem ultrapassadas: na 14º em investimento em inovação, ele pretende entrar na lista dos três maiores.

“Nossa visão é que a inovação tecnológica garanta políticas de desenvolvimento para as mais diversas áreas”, diz José Eliton.

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