BUENOS AIRES - Numa jogada inesperada e que poderia lhe trazer grandes benefícios, o governador da província de Buenos Aires e pré-candidato à Presidência, Daniel Scioli, anunciou sua decisão de escolher o secretário Legal e Técnico do governo Cristina Kirchner, Carlos Zannini, como companheiro de chapa. A incorporação de Zannini, homem do círculo íntimo da presidente argentina, transformou Scioli praticamente no candidato oficial da Casa Rosada para as eleições do próximo dia 25 de outubro. Durante toda a quarta-feira, especulou-se com a possibilidade de que o ministro do Interior e Transporte, Florencio Randazzo, o outro pré-candidato do kirchnerismo que pretendia disputar as primárias com Scioli no dia 9 de agosto, abandone a corrida.
Segundo fontes da equipe de Scioli, na prática, a escolha de Zannini significa o respaldo de Cristina ao governador da principal província argentina.
— Não está escrito, não foi dito publicamente, mas é assim — respondeu um assessor do candidato, ao ser perguntado sobre o apoio da presidente.
Há várias semanas, ficou claro que Scioli era o kirchnerista com mais chances de vencer as presidenciais. Mas Cristina não manifestou qualquer preferência entre o governador e Randazzo. Tudo parecia indicar que a disputa entre ambos seria resolvida nas eleições internas da Frente para a Vitória (sublegenda do Partido Justicialista fundada pelo ex-presidente Néstor Kirchner).
Se Randazzo desistir da candidatura, Scioli chegará fortalecido às primárias, cenário que, segundo analistas locais, prejudicará a oposição, principalmente o chefe de governo da cidade de Buenos Aires, Mauricio Macri, favorito entre os opositores.
Semana passada, Macri confirmou que não está disposto a um acordo com o deputado e também pré-candidato presidencial Sergio Massa, decisão questionada por empresários e setores opositores.
— A oposição não estará unida e se Scioli se tornar o candidato da Casa Rosada, tudo ficará mais fácil para o kirchnerismo — afirmou o analista Rosendo Fraga.
Em entrevista ao canal de TV C5N, o governador e candidato assegurou que convidou Zannini para ser seu candidato a vice porque "é uma maneira de dar certeza e tranquilidade a setores da Frente para a Vitória, com uma pessoa comprometida como eu".
— Se a presidente estiver de acordo, ele (Zannini) poderá me acompanhar — disse Scioli.
A grande incógnita agora é saber se Cristina pedirá a Randazzo que desista da corrida presidencial e dispute o governo da província de Buenos Aires. Cristina ainda não se envolveu publicamente na campanha, mas, segundo assessores de Scioli, a presidente já está do lado do governador. Muitos analistas se perguntavam hoje até que ponto Scioli seria, caso eleito, um presidente independente. A influência da chefe de Estado em sua campanha, somada à participação de Zannini como candidato a vice, poderiam antecipar, segundo analistas, fortes condicionamentos para Scioli no futuro.
Esta semana, Cristina anunciou novas medidas sociais, que poderiam beneficiar os candidatos do kirchnerismo na campanha. Em cadeia nacional, a presidente confirmou um aumento de 30% no subsídio estrela de seu governo, a Ajuda Universal por Filho, que beneficia 7,7 milhões de argentinos (de um total de 40 milhões de habitantes).