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CORONAVÍRUS

Mortes de crianças por covid-19 são investigadas por patologistas brasileiros

Essa interrogação tem preocupado a médica patologista e professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Marisa Dolhnikoff e sua equipe, que definiu, em entrevista a BBC Brasil, a legitimidade de um grupo de estudiosos brasileiros, que se destacaram por usarem um método particular de autópsia para estudar e tentar entender as mortes por covid-19 entre crianças.

Durante essa investigação, a equipe da FMUSP conseguiu desvendar um mistério, foi a primeira no mundo a confirmar a presença do novo coronavírus (Sars-CoV-2) no coração de uma criança que morreu de uma manifestação atípica de covid-19, a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P).

A descoberta, foi evidenciada e publicada em agosto na revista científica Lancet Chil and Adolescent Heallh e, despertou a atenção da comunidade científica internacional. No entanto, o grupo espera explicar os mecanismos que causaram as mortes de outras quatro crianças, por covid-19, no Hospital das Clínicas da FMUSP.

"O estudo que a gente quer fazer seria mostrar o espectro de possíveis apresentações da covid grave em crianças que chegaram a morrer e em que poderemos fazer autópsia", afirmou Dolhnikoff que, ao lado do patologista Paulo Saldiva, coordena os estudos em autópsia de óbitos da covid na USP.

A USP tem a tradição no uso da autópsia como mecanismo de pesquisa e a equipe trabalha em ritmo acelerado para entender e explicar o que está ocasionando estas mortes e, pode ser crucial para salvar outras vidas.

Covid infantil 'classica'

No entender da pediatria, crianças são pacientes com até 18 anos de idade. Estudos reforçam que este grupo, quando infeccionado pó novo coronavírus, tende a ser assintomático (64,5%), segundo estudo recente realizado pela prefeitura de São Paulo, ou apresentar quadros leves da covid-19.

"Uma criança morre por insuficiência respiratória pela covid pode acontecer, mas são poucos os casos", afirmou a especialista.

Segundo a médica, essas crianças apresentam febre e uma série de outros sintomas, entre eles, dor abdominal, vômitos, diarréia, manchas na pele, olhos vermelhos e sensação de cansaço.

"O mundo inteiro está falando sobre a síndrome Inflamatória, uma apresentação em que as crianças podem ficar com o quadro clínico grave, e algumas podem morrer" confirmou a médica, autora principal do estudo do caso.

"Nesse trabalho, mostramos que, na verdade, esse quadro de insuficiência cardíaca foi (causado) pela presença do vírus no coração".

"O vírus está implicado como agente causal por dói mecanismos: primeiro, pela lesão direta nós tecidos, segundo, pela resposta inflamatória local (no coração) e sistêmica.

Não temos todas as respostas, "mas temos todas as condições de ajudar a responder. Porque quando você faz a autópsia, traz informações que não tem como trazer sem estudar o tecido. Você vê o vírus lá, machucando, lesando aquele tecido".

Técnica brasileira de autópsia

A pesquisa da FMUSP trabalha com um método de autópsia que hoje é único no mundo, a autópsia minimamente invasiva, guiada por ultrassom. Dolhnikoff explica que, como a doença é muito contagiosa, esse método oferece mais segurança as equipes.

"A novidade do grupo brasileiro é que a autópsia é guiada pelo ultrassom. A ultrassonografista da equipe, dra. Renata Monteiro, localiza o órgão, vê qual é a área mais doente e direciona a agulha para o lugar certo.

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