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CORONAVÍRUS

PM morto por covid-19 achava a doença 'um exagero'

O policial militar José Thadeu Gomes, 61, dois meses antes de morrer com covid-19, planejava viagens que faria com a mulher, Dione Araújo Gomes, 50. De acordo com Dione, no início da pandemia, em março, o ex policial achava que a doença era "um exagero" e se posicionou contra as medidas de isolamento social.

Dione, que também é técnica de enfermagem, afirmou que tentava explicar para ele que não podia sobrecarregar o sistema de saúde, que já estava ruim. Portanto, após acompanhar as notícias sobre a morte de colegas que trabalhavam no hospital público em que ela atua, José começou a acreditar na gravidade da doença e tomar mais cuidado. Segundo Dione, ele saía apenas para ir ao mercado, usando máscara, passando álcool em gel até mesmo no volante do carro e contraiu o vírus.

José começou a sentir falta de ar no dia 1º de maio, mas, segundo a mulher, não imaginou que pudesse ser Covid-19, já que estavam seguindo o isolamento e as medidas de higiene. Na manhã do dia seguinte, o marido teria relatado que passou toda noite sentindo falta de ar, tossiu sangue e estava com o peito chiando. "Os sintomas foram se agravando muito rápido", afirmou.

Eles foram ao hospital e, na tomografia, foi identificado que ele estava com de 25% a 50% do pulmão comprometido. “Diagnosticaram como sendo coronavírus." relatou Dione. Gomes permaneceu na emergência do hospital porque não havia leitos livres na UTI, tomando azitromicina e cloroquina, que são remédios utilizados em tratamentos mas sem eficácia comprovada contra o vírus.

José ligou para a esposa na tarde de segunda-feira (4) afirmando que estava na emergência se sentindo cansado, e Dione respondeu dizendo que ia orar por ele, que ele ia ficar bem. “Passei a noite orando, mas ele já tinha morrido. Só no outro dia de manhã que me contaram”, relatou. Segundo ela, no atestado de óbito reconhecia que Gomes havia morrido às 17h40 de pneumonia viral, insuficiência respiratória aguda e Covid-19.

Devido o enterro ser de vítima de coronavírus, a esposa não teve a despedido que gostaria. Segundo ela, colocou em cima do caixão a camisa com o símbolo do grupo de oração que Gomes participava. A esposa afirma que a fé dele sempre a admirou e é o que a tem consolado. "Ele era um homem muito fiel a Deus. É isso que me mantém firme agora.", relatou. 

Crime de apologia à covid-19

Dione publicou um vídeo nas redes sociais e criou um abaixo-assinado online para que o presidente Jair Bolsonaro seja responsabilizado por crime de apologia à covid-19. Visto que o presidente é contra as medidas de isolamento social, ela afirma que ficou indignada ao ver o marido, que tanto apoiou e acreditou no presidente, morrer da forma que morreu. 

"E esse homem (Bolsonaro), sem mostrar o mínimo sentimento. Ok, ele não é Deus, como falou, mas pelo menos finge, chora, lamenta as perdas. Diz alguma coisa sobre todas essas mortes, que incluem gente que o defendeu. Nem isso ele está fazendo.", afirma no vídeo.

Segundo Dione, a intenção é alertar as pessoas em relação à saúde pública. No vídeo ela afirma que a doença não é brincadeira e não é fake news. “Esses caixões não estão cheios de pedra, nem de terra. As mortes são reais e devem ser muito mais do que os números que estamos mostrando. No dia que enterrei meu marido, por exemplo, não tinha mais flores para vender, de tanto enterro que já tinha acontecido.", relata Dione.

Para ela, o presidente, por ser uma figura pública, deve ter responsabilidade ao se posicionar sobre a doença pois ele influencia seus seguidores. "A partir do momento que ele sai sem máscara, diz que é 'gripezinha', fala com frieza que muita gente vai ser contaminada e vai morrer, é nisso que quem segue ele vai acreditar", afirma. Portanto, Dione completa que a realidade é diferente e que a situação é muito séria. Ela declara que o SUS não tem respiradores e não tem leito suficiente.

Mesmo que não possa mais realizar os planos de viajar o mundo, ela guarda o amor que passou ao lado de Gomes. "Ele era um homem muito bom para mim. Perdi meu grande amigo.", lamenta.

*Com informações do UOL

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