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CIÊNCIA

Caroços siameses

Um lugar além do mundo conhecido. Ultima Thule é nome dado ao local mais distante já descrito na antiga literatura greco-romana. Trata-se de uma ilha presente em vários mapas, cuja interpretação segue imprecisa até a atualidade – sugestões levam-nos a partes remotas da Escócia, Estônia e Noruega. É também o apelido de um excêntrico corpo celeste localizado além da órbita do planeta Netuno, numa região do Sistema Solar chamada de Cinturão de Kuiper. Esse pequeno objeto possui 31 km de eixo, e se apresentou, a princípio, no formato de dois inseparáveis grãos de soja (ou um boneco de neve, como os cientistas preferem). No primeiro dia de 2019, o objeto recebeu a visita da sonda New Horizons, da Nasa, tornando-se a coisa mais longínqua a ser visitada por uma nave terrestre.

O objetivo da missão, de acordo com o Dr. Jim Green, diretor da divisão de Ciência Planetária da Nasa, é compreender melhor as regras de nosso cosmos, explicando as razões para o estranho comportamento desse objeto. Para isso, os cientistas estão empenhados em mapear sua superfície, obtendo informações geológicas e morfológicas com maior precisão. A busca por miniluas, anéis ou outros objetos em órbita também poderia explicar a razão de sua estranha apresentação, originada do encontro entre dois objetos livres, Ultima e Thule. O corpo entrou para a lista de possíveis destinos da New Horizons no Cinturão de Kuiper em outubro de 2014, apenas três meses após ser descoberto em observações através do telescópio Hubble.

A descoberta de Ultima Thule foi compulsória. Os cientistas da Nasa precisavam encontrar objetos adequados para a extensão da missão New Horizons – responsável por inúmeras descobertas a respeito do ex-planeta Plutão, como sua plena atividade geológica e um possível oceano interno. Para encontrar Ultima Thule, foi necessário recorrer ao telescópio Hubble. O aparelho está ativo na órbita de nosso planeta, acima da atmosfera, o que torna sua eficácia incomparavelmente superior aos telescópios de Terra firme. O astrônomo que conduziu as observações foi Marc Buie, conhecido por descobrir centenas de outros pequenos objetos em nosso Sistema Solar.

Novidades

No dia 22 de fevereiro deste ano, a Nasa, através do Twitter, divulgou as imagens mais nítidas enviadas pela New Horizons, revelando novos detalhes sobre o objeto mais distante já alcançado pelo homem através de seus robôs. “A aproximação mostra ‘novas’ pequenas crateras de impacto, mas nenhuma na região do ‘pescoço’”, comentou o internauta Marco Parigi. “As características de correspondência entre a cabeça e o corpo indicam que elas estavam mais próximas no passado, e se esticaram mecanicamente ‘para fora’ do giro’, criando um pescoço e características de impressão”, conclui. A imagem foi gerada seis minutos antes da maior aproximação entre New Horizons e Ultima Thule, no dia 1º de janeiro de 2019.

No dia 8 de fevereiro, os cientistas foram surpreendidos por novos pontos de vista do objeto. “Análises de imagens do sobrevoo sugerem que o formato de ‘boneco de neve’ de Ultima Thule é surpreendentemente achatado. O lobo menor do objeto está amassado, e o lobo maior é achatado como uma panqueca”, conta o jornalista Jonathan Corum, em matéria do jornal The New York Times, publicada no último 10 de fevereiro. Para o investigador principal da New Horizons, Alan Stern, a surpresa é bem vinda. “O mais importante é que as novas imagens estão criando um quebra-cabeças científico sobre como um objeto desses pode ser formado. Nunca vimos nada parecido na órbita do Sol”, afirma.

New Horizons

A sonda deixou a Terra em janeiro de 2006, e está há 13 anos no espaço, numa velocidade relativa de 975,6 quilômetros por hora. Em 7 de abril daquele ano, ela já invadia a órbita de Marte, onde sobrevoou um pequeno asteroide. Depois, seguiu em direção ao planeta Júpiter, onde além de estudar o sistema de luas do gigante gasoso, conseguiu apoio gravitacional para aumentar em 4 quilômetros por segundo sua velocidade. A nave esteve frente a frente com Júpiter em fevereiro de 2007, e seguiu rumo ao planeta anão Plutão, numa viagem que durou cerca de 8 anos. No ex nono planeta, recolheu dados iniciais sobre duas pequenas luas, Hidra e Nix, além de enviar para a Terra as primeiras imagens nítidas de Caronte, maior lua de Plutão.

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