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BBB: Arquiteto desvenda como a casa influencia o comportamento dos participantes

Arquiteto Ramonn Adryell Leônidas Santos analisa cenografia do BBB e revela como influencia o psicológico dos participantes

Ramonn Adryelll mostra como a cenografia do BBB pode influenciar os participantes, desde seus relacionamentos até suas estratégias de jogo (Foto: Arquivo Pessoal) Ramonn Adryelll mostra como a cenografia do BBB pode influenciar os participantes, desde seus relacionamentos até suas estratégias de jogo (Foto: Arquivo Pessoal)

O Big Brother Brasil é um fenômeno televisivo que há anos cativa milhões de espectadores. Mas o que poucos sabem é que a cenografia do programa pode ter um impacto significativo no comportamento dos participantes. O arquiteto e fã do BBB, Ramonn Leônidas, decidiu investigar esse fenômeno em sua dissertação para o Mestrado do IADE em Design do Produto e do Espaço, na Universidade Europeia.

O designer arquitetônico brasileiro Ramonn, dedicou sua dissertação de mestrado em Lisboa para a análise abrangente do Big Brother Brasil, com um foco específico nas implicações psicológicas do confinamento, na estrutura arquitetônica e cenográfica do reality, assim como na dinâmica única entre os participantes e o público. Ele argumenta demonstrando em exemplos textuais que o programa pode se tornar um estudo sociológico e complexo sobre como a vigilância e a inserção de um indivíduo em um ambiente lúdico podem afetar o comportamento psicológico e físico e de que forma a exposição pública pode moldar a autenticidade dos participantes.

A arquitetura emocional do ambiente do Big Brother

O monitoramento e os dispositivos de vigilância podem influenciar no comportamento humano, no entanto as composições de design selecionadas para compor os ambientes, incluindo a intensidade luminotécnica podem também influenciar. No entanto, no Big Brother Brasil, estas não são as únicas ferramentas que o produto televisivo utiliza para conseguir induzir pressão psicológica aos jogadores.

Uma das principais áreas de foco na dissertação de Ramonn é a arquitetura emocional do ambiente na casa do Big Brother Brasil. Ele explora como a escolha das cores, texturas, iluminação e design da casa podem ter influência no comportamento dos participantes. As diversas paletas de cores vibrantes, o excesso de informações visuais, elementos tridimensionais de composição e os ornamentos lúdicos são todos estrategicamente projetados para manter os participantes em estado de alerta constantemente.


		BBB: Arquiteto desvenda como a casa influencia o comportamento dos participantes
Área externa do BBB22 (Foto: Globo / Sergio Zalis / Divulgação).


De acordo com o arquiteto, as cores possuem influência crucial na rotina e no comportamento dos seres humanos, podendo induzir na maneira de reagir aos estímulos ao redor. Desta forma, a vivência em um ambiente com excesso de cores, texturas e padrões de layout pode causar diversas sensações aos utentes do espaço. De acordo com o arquiteto, os comportamentos psicológicos no que tange às maneiras de reagir ao ambiente e aos acontecimentos dentro da casa, possuem ligação direta com o passado individual e sistema cultural de cada um dos indivíduos confinados. No que se refere ao Big Brother e nas escolhas de suas cores e elementos, a abundância nas paletas possui objetivo de provocar emoções de diferentes predefinições aos seus jogadores.

Implicações psicológicas do confinamento

Ramonn destaca a importância das implicações psicológicas do confinamento, algo que é particularmente relevante após o período de isolamento global durante a pandemia de COVID-19. Ele discute como o confinamento prolongado, a pressão das provas, o medo da eliminação e a constante exposição às câmeras podem levar a uma série de reações psicológicas.

Apesar de possuir uma equipe multidisciplinar preparada para atender às questões psicológicas de cada um dos seus participantes, é sabido que o confinamento pode causar algumas sequelas emocionais.

O excesso de informações e de acontecimentos dentro do programa, bem como a batalha constante pela permanência na casa, podem ter repercussões no estado psicológico e emocional dos confinados – sendo capaz inclusive de desencadear baixa autoestima, pensamentos obsessivos, depressão e ansiedade. O sentimento de medo e perda de controle também fazem parte dos efeitos colaterais eminentes do confinamento – seja este voluntário ou não. A sensação de impotência pode surgir juntamente com o sentimento de incerteza. O fato de estarem a mercê de um público que não enxergam, potencializa os efeitos do confinamento, bem como as atividades impostas pelas dinâmicas do Big Brother Brasil.

O público como grande Irmão

O arquiteto analisou e promoveu ligações entre o programa televisivo e alguns livros - que são apontados como obras que inspiraram o Big Brother Brasil. De acordo com o pesquisador, a obra literária “1984”, do escritor George Orwell, e o ensaio filosófico “Vigiar e Punir”, elaborado por Foucault, tornaram-se peças fundamentais para a compreensão do comportamento psicológico quando em posição de monitoramento e vigilância. Desta forma, conseguiu promover uma análise melhor estruturada acerca da cenografia do programa e das suas dinâmicas que são impostas aos seus confinados.

Na análise que fez em seu mestrado, Ramonn ressalta as semelhanças entre o público e o “Grande Irmão”, tendo em vista que o público faz esse papel de vigiar e, potencialmente, “punir” alguns participantes com a eliminação.

Na obra literária escrita por Orwell, percebe-se que os cidadãos do local distópico são encorajados a virarem-se uns contra os outros – procurando desta forma manter a sua sobrevivência naquele espaço. Ramonn evidencia que o mesmo pode ser aplicado ao programa televisivo, uma vez que os participantes inseridos naquele ambiente residencial precisam mostrar constantes razões pelas quais merecem continuar no jogo e usufruir da casa e de todas as oportunidades que ela oferece – incluindo o prêmio milionário. Assim como ocorre no livro, os indivíduos inseridos naquele contexto começam a enfrentar um regime de vigilância e monitoramento constante, onde até mesmo quando estão realizando atividades cotidianamente simples estão sendo vigiados e não há como escapar do julgamento nacional.

Ramonn Leônidas argumenta ainda que essa conexão emocional é fundamental para o sucesso do programa, uma vez que o público se identifica com os participantes e se sente investido e parte atuante em suas histórias – por este motivo o enredo do programa é construído em conjunto com a sua audiência dia após dia.

O 'Quarto Branco' e a intensificação da pressão psicológica

O arquiteto explora em sua dissertação de mestrado o papel do temido "Quarto Branco" dentro do Big Brother. Este é um espaço onde dois ou mais participantes são isolados do resto da casa e submetidos a pressões psicológicas e estratégicas de jogo que podem ser intensas para quem é claustrofóbico. Desde que esta dinâmica foi lançada no programa, o "Quarto Branco" se tornou um ambiente de grande tensão, e o público observa atentamente, sendo quase sempre uma das principais dinâmicas do programa no que se refere a cenografia.

A técnica do "Quarto Branco" já foi utilizada como regime punitivo em países como Irlanda do Norte, Estados Unidos, Venezuela e Irã. Em sua dissertação, o arquiteto ressalta que danos cerebrais podem ocorrer em apenas três dias sob estas condições, no entanto em períodos prolongados pode fazer com que as pessoas confinadas neste espaço possuam dificuldade em conseguir diferenciar o que é real do que é fruto de suas imaginações.


		BBB: Arquiteto desvenda como a casa influencia o comportamento dos participantes
Quarto Branco (Foto: Reprodução/TV Globo).

Mais sobre a dissertação

A dissertação de Ramonn sobre o Big Brother oferece uma visão aprofundada de um programa que tem cativado audiências em todo o mundo. Suas análises sobre a arquitetura emocional do ambiente, as implicações psicológicas do confinamento e a dinâmica entre os participantes e o público lançam luz sobre as complexidades do Big Brother e de como as minúcias de cada estrutura que o compõem podem ser cruciais para o resultado que se exibe em confinamento.

À medida que continuamos a explorar os limites da exposição e da vigilância na sociedade moderna, a pesquisa de Ramonn destaca a importância de refletir sobre as implicações éticas e psicológicas desse tipo de entretenimento. O Big Brother permanece como um exemplo marcante de como a sociedade lida com a vigilância, o entretenimento e as complexas interações humanas em um ambiente monitorado. Leia a dissertação completa aqui.

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