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Trump nega racismo na polícia e diz que protestos são atos de terrorismo

Por Beatriz Bulla, enviada especial

Em uma controvertida visita à cidade de Kenosha, no Estado de Wisconsin, Donald Trump, garantiu nesta terça-feira, 1º, que não há racismo sistêmico na polícia americana e disse que os protestos contra a violência policial são atos de "terrorismo doméstico". Ao se colocar no epicentro da onda de manifestações sociais no país, Trump tentou novamente vender a imagem de "candidato da lei e da ordem", reforçando sua estratégia eleitoral.

A viagem de Trump mobilizou a cidade de 100 mil habitantes no sul de Wisconsin. Tropas da Guarda Nacional bloquearam as ruas por onde ele passou. Apoiadores do presidente ficaram posicionados para acenar para o carro presidencial, com bandeiras dos EUA e sem máscaras de proteção. No centro da cidade, houve tensão e confronto entre manifestantes contra e a favor de Trump, enquanto a esquina onde Jacob Blake foi baleado virou uma espécie de festival antirracismo.

Há dez dias, Blake levou sete tiros nas costas, à queima-roupa, de um policial branco. Além do novo episódio de violência contra um negro, Kenosha simboliza a escalada de tensão entre uma sociedade rachada. Na semana passada, um jovem de 17 anos, ligado a organizações de extrema direita, usou um fuzil AR-15 para matar dois manifestantes na cidade. Trump não criticou o atirador e comparou policiais que já dispararam contra cidadãos a jogadores de golfe, que ficam nervosos diante de uma jogada fácil.

A agenda do presidente incluiu visita a regiões destruídas pelos protestos da semana passada, fotos diante de escombros e agentes da polícia local. "Há anarquistas, saqueadores e desordeiros. Há gente de todos os tipos", disse o presidente, que criticou o prefeito de Kenosha e o governador de Wisconsin - ambos democratas.

Na viagem, Trump intensificou os ataque aos manifestantes e se afastou da pauta antirracismo ao não procurar a família de Blake, que vem pedindo que as manifestações sejam realizadas de maneira pacífica. "Esses não são atos pacíficos, são atos de terrorismo doméstico", disse o presidente.

Ontem, Justin Blake, tio de Jacob, foi para a esquina onde o sobrinho foi baleado e organizou um ato com música, hambúrgueres e coleta de mantimentos para a vizinhança. Ele foi um dos responsáveis por pedir aos manifestantes que não realizassem protestos durante a visita de Trump.

No local onde Jacob foi baleado, centenas de pessoas e voluntários se reuniram para coletar assinaturas e registrar eleitores. No asfalto, os nomes dos negros mortos pela polícia foram escritos com giz.

No centro da cidade, manifestantes tentaram expulsar dois homens que, segundo o grupo, estavam armados. "Armas não são necessárias, eu disse isso a eles. Não precisamos de mais divisão", contou Lamar Whitfield, de 44 anos, que viajou de Chicago a Kenosha para os eventos contra Trump.

A estratégia inflamada de Trump tem apelo junto a sua base fiel de eleitores. "Eu não acho que há racismo sistêmico no país. Meus amigos negros também não acham que há. Os democratas é que querem nos separar", afirmou Danell Vincenti, branca, de 53 anos, que usava um chapéu em formato de queijo na cabeça - produto típico da região. A maioria dos manifestantes pró-Trump não usava máscaras. "Os esquerdistas tentam criar uma histeria sobre o vírus", afirma Mary Russel, também branca e moradora de Illinois. As duas foram para Kenosha apoiar o presidente.

A poucos metros dali, a professora Colleen Connolly, de 55 anos, usava uma máscara com a palavra "vote" e um cartaz com o número de mortes por covid-19 no país: 185 mil. "Trump está inflamando a violência racial como uma distração por sua incompetência com o coronavírus", afirmou a professora.

Críticos do presidente têm pedido que ele adote uma mensagem de pacificação, para acalmar a agitação social nas grandes cidades. Mas, em plena campanha à reeleição, ele adotou o caminho oposto. Durante convenção, na semana passada, os republicanos disseram que um governo democrata significaria caos, anarquia, a "destruição" dos subúrbios e o fim do direito ao porte de armas.

Wisconsin é crucial na eleição. Em 2016, Trump ganhou de Hillary Clinton por apenas 23 mil votos e levou os 10 votos do Estado no Colégio Eleitoral. No início do ano, ele estava à frente de Biden nas pesquisas, mas após a pandemia ele caiu e está mais de 6 pontos porcentuais atrás do democrata, que deve visitar Kenosha em breve.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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